Capítulo 13

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{POV. Anna Kariênina}

Um grito histérico me acordou, e me assustei quando abri meus olhos e vei Anna Elis no chão.

- O que você está fazendo no chão, garota?
- Me diz você, o que está fazendo na minha cama? - Ela rebateu ainda assustada e eu apertei os lábios contendo uma risada.
- Ah então quer dizer que você é o tipo de bêbado que tem a amnésia na ressaca? - Lhe provoco levantando da cama e ela da um salto do chão.
- Do que você está falando? - Ela se joga na cama, cobrindo-se com os lençóis.
- Não se lembra, Anna Elis? - Ergo uma sobrancelha lhe provocando e seu rosto fica pálido, estou quase caindo gargalhada.
- Eu... Eu só lembro de dançar muito na festa, depois tudo virou uma nuvem de música e bebida, não lembro nem como cheguei aqui. - Ela contou se atrapalhado e gaguejando como se tivesse tentando lembrar a si mesma. - O que nós fizemos, Anna Kariênina? - Ela arregala os olhos e eu me aproximo.

Brincar com ela até que é tão divertido.

- Não lembra, Anna Elis, como você suspirou? Como sussurrou que eu era forte e cheirosa. - Seus olhos quase saltam de seu rosto e eu apoio meu joelho sobre a cama, me enclinando para tocar seu delicado queixo, ela não recua, como se não conseguisse. - Não lembra como me abraçou? A sensação de se perder em meus braços? - Meu sorriso malicioso se alargou ao perceber sua intimidação.
- Meu Deus... - Ela sussurra incrédula engolindo seco e então solto uma gargalhada alta que a faz unir as sobrancelhas.
- Garota, você chegou aqui carregada pelos teus amigos como uma jaca podre. Tive que te carregar pra cá e te dar banho como uma criança mimada de 6 anos. Fiquei cansada então acabei dormindo por aqui mesmo.
- Você me deu banho? - Sua voz saiu fraca.

Nossos olhares se fixam por um instante constrangedor, o clima pesado caindo sobre o quarto. Sabíamos o que aquilo significava: as cicatrizes.

- Elis... - Tentei, mas ela me interrompeu.
- Saia do meu quarto, Anna Kariênina. - Ela virou o rosto.
- Eu cuido de você e é essa ingratidão que recebo? - Solto uma risada incrédula.
- Saia do meu quarto!
- Sua mimada do caralho! - Andei a passos pesados até a porta.
- Sua babaca arrogante! - Ouço Anna Elis gritar antes de sair batendo a porta.

Bufei frustrada e andei pelo corredor.
Garotinha irritante, chata, mimada e entre outras coisas que meu vocabulário matutino ainda não conseguiu acordar o suficiente pra lhe nomear.
Porra, mas ela é gostosa, hein?
Esquece isso, Anna Kariênina, esquece isso.
Entrei na sala de jantar após descer as escadas e dei de cara com Paul já tomando café a mesa, ele parecia mais corado essa manhã.

- Acordou cedo hoje. - Ele diz assim que me sento.
- Graças a sua filha que me acordou aos gritos. - Resmunguei me sentando a mesa.
- Gritos? Mas não ouvi nada, ela está bem?
- Sim, está bem, só deve está com uma ressaca horrorosa, e deu alguns chiliques quando acordou e me viu na cama.
- Na cama? Vocês dormiram juntas? - Paul abaixa o jornal que estava lendo, e arregala os olhos para mim.
- Não transei com a tua filha, se é isso que está pensando. - Digo rápida mas sua feição não muda. - Aparentemente, sua filha saiu da nossa festa e extrapolou em outra festa cheia de adolescentes estúpidos e irresponsáveis, chegou quase inconsciente e eu tive que carregar ela, dei banho e acabei dormindo na mesma cama que ela. Só isso. - Paul enfim suspirou.
- Anna Elis nunca foi de fazer esse tipo de coisa. - Ele murmurrou mais para si mesmo do que para mim, unindo as sobrancelhas parecendo preocupado com a filha, pela primeira vez desde que cheguei. - Que bom que estava aqui para cuidar dela, estava tão dopado dos remédios que não escutei nada.
- Mas ser babá de entiada mal criada não estava em nosso acordo. - Solto enquanto como um pouco de queixo e Paul da um sorriso de lado. Então aproveito a oportunidade. - Quando eu estava dando banho nela percebi algumas... marcas. Do que seriam? Sabia delas? - Perguntei com cuidado.
- Preciso que faça um favor para mim hoje. - Paul muda radicalmente de assunto, ignorando minha pergunta.
- Qual? - Perguntei enquanto continuava meu café da manhã.
- Mais tarde vira dois fornecedores a qual estou negociando um carregando de uma nova droga, quero que os receba e negocie para mim. Não assine o contrato até que o valor seja apenas R$ 50.000,00 dólares, nada a mais. Eles querem lucrar acima dessa nova droga por ser algo derivado de cocaína, mais forte e que com certeza ira deixar os consumidores loucos, mas não pague mais do que estou lhe dizendo. Seja firme, você sabe lidar com pessoas, Anna Kariênina... - Lhe interrompo.
- Eu sei matar elas. Por que você mesmo não os recebe? Você é o dono da máfia.
- E você agora é uma assassina profissional mulher do dono da máfia, a chefa. - Paul rebate rápido me deixando um pouco sem palavras, então se levanta e sai após terminar seu café.

Uma assassina profissional mulher do dono da máfia, a "chefa".
Como eu ainda não tinha pensando nisso? Pelo visto essa segunda-feira começou com tudo.

******

{POV. Anna Elis}

Meu olhar estava perdido pelo quarto, após Kariênina ter saído e um aperto se instalou em meu coração.
Ela viu minhas cicatrizes, eu sabia quando vi aquele seu olhar de curiosade e... pena. Prefiro morrer do que ver aquele olhar novamente, como quando fui a praia pela primeira vez, tentei ficar apenas de biquíni e todos me olharam. Elena estava comigo e ficou horrorizada, inventei uma história qualquer e desde então nunca mais fiquei de biquíni na praia ou em qualquer outro lugar que fosse preciso.
Não preciso que as pessoas me olhem com pena, não preciso da pena de ninguém por causa do que vive, só preciso esquecer. Apenas esquecer.
Fechei meus olhos com força e passei as mãos pelo rosto ainda sentindo dor de cabeça, me joguei de volta na cama bufando e procurei meu celular dentro da gaveta do criado mudo ao lado da cama. Meus olhos arderam com o brilho do celular e disquei o contato de Elena, vários toques e já estava quase desistindo quando ela atendeu.

{Ligação On}
- Oi, amiga, também está morrendo de ressaca? - Falei assim que ela disse um "Alô" meio resmungado).
- Parece que alguém peidou na minha cabeça. - Elena resmungou e eu sorri olhando para o teto, o que fez minha cabeça doer mais.
- Como a gente chegou aqui ontem?
- Não se lembra? Ah é mesmo, as vezes eu lembro que você tem amnésia alcoólica. - Reviro os olhos, mesmo sabendo que ela não pode os ver. - Eliot estava mais sóbrio e nos trouxe, acho que era por volta das 4 da manhã.
- Anna Kariênina me deu banho e dormiu comigo.
- O que?! Elis você transou bêbada com a tua madastra?! Espera, você então não é mais virgem?! Meu Deus! Eu estou surtando! - Elena começou a gritar no telefone e eu tive que o afastar um pouco da orelha.
- Cala a boca, sua exagerada. Eu não transei com ninguém, meu imem continua intacto. - Contesto.
- Ah, achei que você finalmente tinha se assumido lésbica ou bi, sei lá, quem gosta de xota. - Elena soa frustrada e eu ri.
- Só contei porque se ela me banhou, ela viu as cicatrizes. - Suspirei e houve um silêncio calmo na ligação.
- Como você está quando a isso? - Elena perguntou calma. Amo o jeito como ela fica ao meu lado sempre, mesmo tendo opiniões divergentes as minhas.
- Não sei, estou confusa. Só você e Paul sabem o porquê delas, não sei se me sentiriam bem sabendo que ela sabe o porquê. - Confesso.
- Você contou a ela?
- Não, e acho que Paul também não fará.
- Então não tem porque se preocupar, isso não influencia nada na vida dela, então ela não irá querer saber. - A voz de Elena me acalma e eu assinto. - Deixe que as veja, mas não deixe que as saiba. - Um silêncio calmo caiu novamente.
- Desde quando virou pastora? - Brinco quebrando o clima e ela gargalhou.
- Ah vai se foder! - Ela brincou.
- Vou tomar algum analgésico, minha cabeça está me matando. - Choraminguei.
- A minha também. - Elena também choramingou e sorri lembrando dos nossos dramas no campus, quando sempre batendo as testas ao mesmo tempo nas portas dos armários. - Ah e, amiga, não fica muito celular não, tá? - Ela soltou.
- Por quê? - Enrugei a testa.
- É... faz a dor de cabeça piorar, vi no Jornal. Então sai do celular. - Elena explica e eu gargalho.
- Tá bom, Dr. Puta. - Brinco.
- Idiota. - Ela desliga rindo.
{Ligação Off}

Jogo meu celular de volta na gaveta e levanto da cama. Preciso de um banho, remédios e comida urgentemente.
Elena está certa, Anna Kariênina viu as cicatrizes mas jamais irá sabe-lás, e sei que não irá perguntar o porquê.
As cicatrizes de uma garota mimada, como ela mesmo diz, não deve lhe intrigar.
[...]

Continua...

Corpos em Chamas: A vingança de Anna Kariênina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora