Capítulo 167

51 4 6
                                    



— Você melhor? — Micael estava em minha frente, ainda na cama. Estava um pouco zonza e minha cabeça doía, como se eu tivesse levado uma pancada forte na cabeça.

— Não. — Tentei me sentar. — O que aconteceu? — Tinha o rosto franzido, me adaptando com o quarto novamente.

— Você desmaiou com o café da manhã. — Ele sabia o motivo. — Vou levar você na médica, ainda hoje. — Advertiu.

— Eu já disse que não quero ir. — Fiquei em silêncio.

— Mas você vai! — Voltou a dizer. — Depressão é uma doença muito séria, Sophia.

— E quem disse que eu tenho depressão? — Levantei meus ombros e me defendi. Era óbvio que eu estava com alguma doença, mas me negava até à morte sobre isso.

— Eu não vou discutir com você. — Esbraveceu.

— A babá já chegou? — Desviei o assunto.

— Está lá em baixo com o Thomas. — Respondeu frio, se levantando. — Venho buscar você ás duas!

— Faça o que você quiser, eu não vou sair daqui. — Bati o pé novamente, me deitando e enrolando no edredom. O clima do quarto estava agradável, já que fiz o favor de ligar o ar condicionado na noite passada, deixando Micael irritado com o frio.

Ele revirou os olhos e saiu, descendo as escadas e encontrando a babá, que dobrava algumas calças de Thomas que estava no varal da lavanderia. Micael sorriu leve antes de interrogá-la.

— Alguém entrou em contato? — Micael se sentou no sofá, em frente ao carrinho de Thomas. Pegou o mesmo no colo.

— Ligaram hoje de manhã. — Verificou a calça com pintinhas verdes em detalhe. — O número era de fora.

— De fora? — Micael estranhou, franzindo o cenho.

— Sim. Um número do Brasil. — Continuou o seu serviço, atenta na dobragem das calças.

Micael arregalou os olhos e voltou Thomas ao carrinho novamente, indo até a base e buscando o telefone. Achou o número de Lua na bina, retornando a ligação.

— Lua? — Caminhou até o escritório, no fim do corredor.

— Graças a Deus você me atendeu!

— Estou bravo com você. — Fechou a porta atrás de si. — A sua consideração ficou no cu?

Eu sei, eu sei. Pode me crucificar! — Lua suspirou. — Eu assisti o enterro via FaceTime. O site do velório disponibilizou.

— Não é a mesma coisa, Lua. — Semicerrou os olhos.

— Como ela está?

Micael alisou o meu rosto diante do porta retrato, seu coração doeu.

— Está mal, Lua! — Passou as informações. — Não come, não sai da cama, não tem vontade de fazer absolutamente nada. Quando não está dopada, vive em crise. Tem pesadelos toda a noite. — Entristeceu. — Sophia está se entregando aos poucos e não quer ajuda. Ela se culpa pela morte de Branca. — Finalizou.

— Meu Deus. — A voz de Lua mudou. — Será que ela ficaria feliz em me ver?

— Você vai ter a pachorra de vir até aqui? Depois de tudo? — Se surpreendeu.

— Micael! — Indignou-se. — Sophia é minha melhor amiga e estávamos brigadas. Eu não podia invadir o espaço dela. — Soou sincera mas não comprou Micael.

— Você sempre invade quando quer, Lua. Não venha dizer uma desculpa esfarrapada. — Ligou o monitor do IMac.

— Você acha uma péssima ideia?

— Na altura do campeonato eu não sei de mais nada. — Colocou o indicador na cabeça, pensando. Clicou no Safari da máquina, observando a sugestão do Wattpad no navegador.

Micael ficou em silêncio.

— Você ainda está aí? Eu preciso da sua ajuda!

— Faça o que quiser, Lua. — Entrou no site, abrindo em meu perfil que ainda estava logado.

— Eu preciso da sua aprovação. — Estava ficando irritada do outro lado da linha.

E Micael estava atento ao achar a minha história, publicada no site antes do falecimento da minha mãe. Não havia tantas visualizações mas a história era boa! Ele deixou Lua falando sozinha nos três primeiros capítulos, lendo com atenção, a deixando irritada.

— Eu preciso ir! — Sua voz foi remota e o encerramento da ligação foi mais ainda.

Não se deu ao certo quanto tempo ficou ali, e esqueceu-se de mim durante oito horas. Estava obcecado, preso, as palavras lhe deixaram de boca aberta. Todos os detalhes... Eu tinha um talento e ainda não havia descoberto. Sua vista doeu de tanto ficar na frente do monitor, já tarde da noite. A babá havia ido embora e avisou Micael que Kate já estava na cama, junto de Thomas e Marcel, que fez charme antes de dormir, chorando. Ele não jantou e muito menos caminhou ao banho no horário exato. Preferiu se divertir na história, e só sossegaria quando finalmente acabasse.

Já eu... Estava lá em cima, havia acabado de acordar de um terrível pesadelo. Minha cabeça já não doía mais e meu corpo quis sair da cama, não por opção mas, algo necessário ao momento. Meus pés fizeram contato com o piso de madeira depois de quarenta e oito horas na cama. Caminhei pelo corredor e desci as escadas, vendo que não tinha mais ninguém por ali.

Abri a geladeira e busquei um queijo, a primeira coisa que avistei. Levei até o balcão de mármore, buscando a faca afiada de corte, deixando ao lado. Enquanto cortava o queijo, meus olhos observaram a palma da minha mão, extremamente branca e fria. E quando me dei conta, a ponta da lâmina estava cortando minha pele, e eu não havia sentido nada. O sangue vivo escorreu, me fazendo acordar por dois segundos do que havia feito.

Micael apareceu na cozinha, me assustando.

— O que você está fazendo? — Foi autoritário ao perguntar, já bravo.

— Eu me machuquei sem querer. — Abri a torneira, enfiando minha mão debaixo da corrente forte de água.

— Deixe-me ver. — Pisou duro até onde eu estava, mas desviei a minha mão, escondendo.

Micael ficou bravo, segurando forte os meus braços até eu ceder.

— VOCÊ FICOU MALUCA? — Balançou minha mão, ainda sangrando. — É SÉRIO ISSO? — Sua expressão me deu medo.

Abaixei minha cabeça.

— Foi sem querer. — Silabei.

— Sem querer? — Analisou o corte. — Um corte perfeito assim foi sem querer? — Me encarou, bravo. — Quantos anos você tem, porra? ME DIZ! — Me chacoalhou.

Optei novamente pelo o silêncio. Mas Micael não queria.

— Para de se entregar! — Grudou sua face em frente à minha, colando os nossos rostos. — PARA DE SE ENTREGAR! VOCÊ VAI ACABAR... MORRENDO! — Começou a chorar, largando minha mão e colocando suas mãos no rosto, sem ter o que fazer.

Estava perdido, assim como eu.

Young and the Restless: A Vingança de Rayana - 3ª Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora