Rafe

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O vento frio balançava as folhas das árvores no quintal, a luz fraca da motocicleta iluminava um garoto alto, com roupas surradas, prostrado em frente à pequena casa no gueto. Lá estava Rafe Cameron no meio da madrugada, encolhendo os braços contra o peito pra se proteger do frio.
Rafe batia com toda a força que ainda lhe restava, na esperança de que o seu amigo o ouvisse. Depois de alguns longos minutos, Barry abriu a porta, se deparando com o garoto abalado e machucado.
— Caramba, cara. Sabe que horas são? Perguntou Barry, indicando com o queixo na direção do braço onde estava o seu relógio. Já se passavam um poucos mais das 3h da manhã, apesar do céu escuro, era possível escutar ao longe os motores dos barcos de pesca que começavam a funcionar no cais, indicando que os primeiros pescadores do dia já estavam acordados e prontos para trabalhar.
Não é um horário em que se espera que alguém vá bater na sua porta.
— Posso ficar aqui? A voz de Rafe soava fraca, quase como um sussurro. Haviam pequenas marcas de sangue nas suas pálpebras e nas suas bochechas, além de um corte em seu lábio. — Por favor.
— Claro, cara. Mas vai ter que dormir no sofá, o quarto de visitas tá ocupado. Disse Barry, abrindo a porta e se afastando para deixar Rafe entrar.
A casa de Barry era como qualquer outra em Outer Banks, exceto pelo fato de que estava cheia de drogas e armas. A sala principal era pequena, mas confortável. Na mesinha de centro haviam várias garrafas vazias de cerveja e poucas gramas de cocaína espalhadas pela superfície. O ambiente cheirava a sal e cigarro, mas era suportável.
Rafe se sentou no sofá, encarando o vazio e claramente absorto em seus próprios pensamentos. Os gritos de Ward ainda ecoavam dentro de sua cabeça, juntamente da lembrança de seu punho atingindo o rosto de Rafe.
— Tá tudo bem com você? Barry perguntou enquanto saía do próprio quarto com alguns cobertores e um travesseiro nas mãos, colocando a pilha de lençóis no sofá ao lado do garoto.
— Meu pai me expulsou de casa, pra valer. Rafe continuava encarando o chão, lágrimas começavam a brotar de seus olhos e suas mãos tremiam. — Foi uma briga feia, a pior que já tive com ele. Não posso voltar pra lá.
Barry não sabia o que dizer, apenas ficou sentado ao lado de Rafe, os cotovelos pressionados contra os joelhos. Sentia compaixão pelo amigo, aliás já havia passado por uma situação parecida com o seu próprio pai, mas não era bom em palavras de consolo.
— Certo, country club. Pode ficar aqui pelo tempo que quiser, essa casa anda meio vazia mesmo. Foi o máximo que Barry conseguiu dizer para fazer Rafe se sentir melhor. — Você sabe onde ir se quiser água ou comida, e sabe onde fica o banheiro.
Rafe apenas acenou com a cabeça indicando que havia escutado o que Barry havia dito e deitou no sofá, pegando apenas o travesseiro para colocar debaixo da cabeça.
O seu corpo inteiro doía, o sangue continuava escorrendo em pequenas gotas pelo ferimento no lábio, manchando a fronha do travesseiro. Apesar do cansaço, Rafe não sentia sono. O instinto de correr e gritar ainda pulsava em suas veias, juntamente do medo de que Ward pudesse aparecer de qualquer lugar e lhe aplicar mais uma surra.
— Ta tudo bem. Ele sussurrou pra sí próprio, em uma tentativa de acalmar os próprios nervos para que pudesse dormir — Tá tudo bem.
E ali, naquele sofá sujo no meio do gueto, ele se permitiu chorar até que seus olhos doessem o suficiente para que ele pudesse pegar no sono.

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