Rafe

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O peito de Rafe subia e descia com a respiração pesada e profunda que saía pelas suas narinas. Ele sentia a unidade do orvalho que pairava sobre o gramado macio umedecer seus pés, assim como as pequenas gotículas de água gelada que caíam das enormes copas das árvores sobre a sua pele. A mansão dos Cameron se erguia imponente à sua frente, somente as luzes da varanda iluminando a madrugada. O horizonte começava a tomar alguns tons de azul, indicando que a madrugada chegava ao fim e que o dia estava prestes a começar.

O Sr. Carrera havia feito questão de deixar cada um dos garotos em segurança em casa, exceto Rafe, que pedira ao homem para que ele o deixasse em alguma esquina próxima à sua casa no Figure 8. A decisão arrancara um olhar de surpresa de Summer, que logo havia sido tomada por uma expressão de medo e preocupação quando Rafe sussurrou o motivo pelo qual ele teria de retomar o caminho para casa, e não seguir com os garotos até a casa de John B.

Ele ergueu o dedo mindinho na altura do peito, lembrando-se do momento em que Summer havia agarrado o seu dedo no carro, poucos minutos antes dele descer, refazendo o gesto que os dois sempre faziam quando prometiam algo um para o outro. Ela o havia feito prometer que ele estaria na casa do John B. mais tarde, a tempo de decorar a casa no pântano para o natal. Apesar de não gostar tanto assim da data festiva, Rafe pretendia cumprir a promessa.

Os seus passos logo se tornaram perceptíveis para as pessoas que estavam na varanda, e Rafe suspirou profundamente quando um grupo de homens virou-se de uma vez para olhar quem se aproximava. Ele apertou os olhos para tentar identificar quem estava de pé há vários metros dele, passando os olhos rapidamente por cada rosto que o encarava em meio ao dia mal iluminado.

Os seus olhos imediatamente pousaram sobre a silhueta de um homem, que andava de forma impaciente de um lado para o outro na varanda, as duas mãos apoiadas na cintura. Ward Cameron parecia, para dizer o mínimo, impaciente. Mesmo de longe e mesmo na escuridão, Rafe podia perceber o misto de ansiedade e estresse estampados no rosto do pai.

Ward virou-se prontamente na direção de Rafe, observando calado enquanto o garoto prostrava-se ao pé da escada.

— Bem na hora. — disse Ward, erguendo uma das sobrancelhas.

— Eu disse que não iria me atrasar. — disse Rafe, ainda parado ao pé da escada.

Já deviam ser em torno das 5h da manhã. O horizonte iluminava-se lentamente com os primeiros raios de sol da manhã, mas o céu azul que se erguia sobre suas cabeças ainda estava escuro o suficiente para que o ambiente parecesse frio e carregado. Carregado de apreensão e suspense, os sentimentos que dominavam Rafe naquele momento.

— O barco está pronto, chefe. Já estamos prontos para partir. — disse um dos homens de Ward, aproximando-se do homem com os braços cruzados atrás do corpo.

— Preparem os carros. — disse Ward, a voz séria e imponente — Mas antes, preciso conversar com o meu filho.

Rafe ergueu o olhar para o pai, tentando decifrar a expressão que ele exibia em seu rosto. O garoto teve de apertar os dedos contra a palma das mãos para controlar a onda de nervosismo que corria pelo seu corpo ao escutar as palavras do pai, imaginando mil cenários diferentes que levariam o homem a querer conversar com ele.

Ward ergueu um dos braços em direção à casa, indicando o caminho para Rafe antes de se virar de costas e atravessar as enormes portas de vidro da mansão. Rafe seguiu logo atrás, passando pelos homens prostrados na varanda como postes sem olhar para os seus rostos.

Ward caminhava em direção à biblioteca da mansão, que ficava há poucos metros da entrada. Ele esperou até que Rafe adentrasse a porta, fechando-a atrás de si com apenas um girar de chaves. O ambiente estava um pouco mais iluminado, os abajures laranja jorravam uma luz quente por todo o cômodo, colocando em evidência os armários de madeira cheios de livros empoeirados que se erguiam de um lado ao outro pela sala.

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