Kook Prince

Rafe

O quarto de Summer era uma completa bagunça. Os cobertores estavam desarrumados em cima da cama, os travesseiros estavam jogados no chão, haviam peças de biquíni espalhadas no chão ao redor do espelho e algumas garrafas de cerveja em cima da cômoda ao lado da cama.

Ao lado das garrafas, havia um pequeno porta retratos pintado em preto. As lascas da madeira estavam desgastadas, indicando que se tratava de um objeto antigo.

Rafe segurou o porta retratos nas mãos, prestando atenção nas duas crianças que sorriam para a foto. Ele reconheceu pelos cabelos ondulados e negros que a garotinha da foto se trava de Summer. Ela não devia ter mais que 6 anos de idade, usava um vestido de crochê verde e segurava nos braços um pequeno urso de pelúcia marrom. O garotinho que a abraçava também tinha cabelos negros e ondulados, e devia ter uns 10 anos de idade. Rafe logo percebeu que era Barry.

As duas crianças posavam felizes para a câmera, abraçando um ao outro. Rafe olhou para a foto por um longo tempo, reparando em cada detalhe. Por algum motivo, aquela foto lhe trazia um sentimento de conforto, quase como uma nostalgia. Ele não possuía muitas fotos com a própria família, as únicas que o pai havia colocado em porta retratos eram fotos ensaiadas, nas quais todos da família vestiam suas melhores roupas e ostentavam falsos sorrisos, atuando como uma família feliz e bem sucedida.

Mas aquela foto parecia genuína, a captura de uma infância feliz.

Colocando o porta retratos de volta na cômoda, Rafe caminhou lentamente pelo quarto, analisando os mais pequenos detalhes da decoração do ambiente. O quarto da garota era o antigo quarto de visitas de Barry, e era de um tamanho confortável. A cama ficava perto da parede ao lado da janela. De frente para a cama ficava um espelho médio e do lado, um cabideiro e uma prancha de surfe azul, que permanecia encostada no canto da parede. Do teto perto da janela, pendiam pequenas tranças decoradas com conchas. Na parede haviam pinturas de ondas e pequenas frases escritas com canetinha preta, além de um pequeno mural cheio de fotos e bilhetes.

Rafe chegou mais perto para olhar melhor. Eram fotos de Summer com os seus amigos, o grupo de pogues. A maioria das fotos haviam sido tiradas na praia, no que parecia ser uma festa. Em uma das fotos, Summer abraçava o seu amigo loiro, JJ, enquanto os outros erguiam copos plásticos cheios de cerveja para o alto e sorriam para a câmera. Em outra foto, o grupo estava reunido em um quintal, posando junto à uma velha combe marrom cheia de adesivos.

Os bilhetes, ele percebeu, serviam para rotular as fotos. Rafe passou os olhos rapidamente pelos pedaços de papel, lendo as pequenas legendas que Summer anotara: "Festa na praia"; "Primeiro PT do Pope"; "Dia em que quebramos a prancha do John B."; "Karaokê no restaure do Sr. Carrera".

Mas uma foto em especial chamou a atenção de Rafe. Ele ergueu a mão lentamente para arrancar a fotografia do mural.

Era uma foto de Summer em um vestido de seda azul marinho, usando uma coroa de flores silvestres na cabeça. Os seus cabelos pendiam dos ombros em grandes ondas e seus dedos carregavam pequenos anéis de prata e pedras coloridas. "Solstício de Verão. (obs: a kie me obrigou)", era a legenda da foto.

A garota sorria feliz para a câmera, segurando o vestido delicadamente nas pontas dos dedos na altura dos quadris. O cenário era conhecido por Rafe. A casa dele, a mansão dos Cameron, lugar onde a festa era celebrada todos os anos.

Rafe franziu as sobrancelhas tentando se lembrar da última festa de solstício, procurando na memória se poderia ter visto a garota em algum momento. Mas ele não lembrava, na verdade, ele sequer poderia. O garoto sempre bebia além da conta nesses eventos na companhia dos seus amigos, e acabava saindo mais cedo para curtir o resto da noite em algum clube caro. Ele não podia acreditar que já tivera perto da garota, que já havia respirado o mesmo ar que ela, e principalmente, que ela já havia ido até a sua casa. Se por um acaso ele acabasse topando de frente com ela na festa, a última coisa em que ele acreditaria era que ela era irmã do seu melhor amigo. Como ele não percebeu a presença dela?