Rafe

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Idiota. Idiota. Idiota.

Rafe repetia a mesma palavra em sua cabeça várias vezes, a raiva de si mesmo crescendo dentro do peito. Era verdade que ele não se dava bem com pogues, ele foi ensinado desde pequeno a se diferenciar das crianças que não tinham o mesmo status social que ele. Mas isso não era completamente verdade, a visão dele sobre as duas tribos havia mudado desde que conhecera Barry e se tornara melhor amigo dele.

Ele não tinha a intenção de magoar os sentimentos da garota daquela forma, e no fundo tinha receio de que ela nunca mais voltasse a tratar ele como antes. O fato é que Rafe disse aquilo por puro ciúmes de Summer. Ele não se dava bem com um grupo específico de pogues: os amigos do John B.

Desde a confusão com a saída de Sarah da mansão dos Cameron e o incidente na praia com a arma apontada para a cabeça de Topper, Rafe alimentava um profundo ódio pelos garotos. Ainda mais depois de tomar consciência de que eles ficavam tão perto de Summer por uma grande parte do dia.

Rafe continuava sentado no sofá desde que Summer havia saído pela porta, as palavras da garota ecoando na sua cabeça. "Talvez você não devesse morar aqui".  Talvez ela estivesse certa. Talvez ele fosse apenas um kook metido que tinha se abrigado no gueto depois de uma briguinha com o papai.

Era doloroso para ele pensar dessa forma, e doía ainda mais saber que Summer provavelmente pensava a mesma coisa. Por alguns minutos ele se permitiu lembrar da noite passada, das luzes da varanda e do toque das mãos quentes da garota na sua pele. Deus, como ele daria tudo pra voltar até aquele momento e permanecer lá até o fim de seus dias.

Idiota. Idiota. Idiota.

Ele tinha certeza de que uma noite como aquela nunca mais se repetiria entre os dois.

Rafe foi arrancado de seus devaneios com o barulho dos passos de Barry e Topper, que caminhavam em direção ao sofá arrastando os pés. Os dois garotos estavam obviamente cansados e com uma tremenda dor de cabeça. Topper se sentou ao lado de Rafe, ao passo que Barry se sentou na poltrona de couro em frente à eles.

Barry apenas respirava fundo e soltava pequenos grunhidos devido à dor que latejava na sua cabeça. Topper tentava tomar um líquido efervescente de uma xícara de porcelana branca, o que Rafe deduziu ser algum remédio para ressaca.

— Estão prontos pra mais uma? Dessa vez eu pago. — brincou Rafe, tentando afastar do rosto a expressão de tristeza para que os amigos não percebessem.

— Nunca mais fala da bebida pra mim. Nunca mais. — respondeu Barry, de olhos fechados e a cabeça recostada na poltrona.

Topper deu uma pequena risada e se preparou para beber um gole do remédio, colocando as mãos na boca para que não vomitasse todo o líquido.

— Esquece. Eu prefiro morrer de dor de cabeça do que tomar isso. — disse Topper, se levantando um pouco do sofá para colocar a xícara na mesinha de centro.

— Só vai durar algumas horas. Já vão estar melhor quando anoitecer. — disse Rafe, recostando-se no sofá.

— Aí, Barry. Não se importa se eu ficar aqui até melhorar, não é? Se eu pilotar a moto assim vou acabar afundando em alguma parte do pântano. — disse Topper, colocando as mãos na barriga e olhando para o amigo.

— Isso não é problema meu. — respondeu Barry, ainda de olhos fechados.

— Qual é, cara! Estávamos juntos na bebedeira ontem, e estamos juntos na ressaca hoje. Já pode me chamar de amigo. — disse Topper em protesto.

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