Ward caminhava de um lado para outro pelo chão de carvalho do escritório. As olheiras que cobriam os olhos do homem indicavam que ele não dormia há dias; o seu cabelo estava bagunçado e sua camisa, apesar de nova, apresentava regiões molhadas de suor pelo peito.
Rafe estava sentado na poltrona de couro, observando enquanto o pai tentava ler as informações escritas nos papéis amarelos que ele segurava nas mãos. O garoto desviou os olhos por alguns minutos, olhando para o céu escuro lá fora através do vidro da janela que não estava coberto pelas cortinas. O ponteiro do relógio pendurado na parede marcavam 23:50h. Rafe esfregou os olhos com os dedos, sentindo os seus olhos arderem de sono e o seu corpo doer de cansaço.
Ele e o pai estavam acordados desde às 04h da manhã, e estavam presos dentro do escritório o dia inteiro, desenhando mapas, traduzindo diários e traçando rotas em vários pedaços de papel. Rafe sentia todo o seu corpo tensionado, sua cabeça latejava com uma dor terrível e ele sentia a dor das câimbras nos dedos, devido ao esforço por passar o dia escrevendo.
Ele respirou profundamente, fechando os olhos e tentando se concentrar em qualquer coisa que pudesse aliviar todo o estresse pelo qual ele estava passando. O único barulho no ambiente eram os passos rápidos e pesados de Ward e seus pequenos sussurros.
Rafe levantou o olhar para o pai novamente, percebendo a tensão no corpo do homem. Ward parecia mais um completo maluco, como um vilão dos quadrinhos que Rafe costumava ler quando era criança. Apesar de todo o cansaço, Ward não parara por 1 minuto sequer, e seus movimentos continuavam rápidos. Se o garoto não conhecesse o histórico do pai, ele poderia jurar que o homem estava sob efeito de coca.
Rafe se levantou da poltrona e caminhou devagar até a escrivaninha de madeira, pegando a garrafa de vidro e despejando uma quantidade absurda de whisky no pesado copo de vidro. O Dalmore 62 foi a única bebida que Rafe ingeriu durante o dia inteiro, ele podia sentir a visão ficando levemente turva, mas o álcool era a única coisa que ainda o mantinha de pé.
Ele deu um gole da bebida, sentindo a sua língua e a garganta queimarem com o gosto amargo do whisky quente. Ele fechou os olhos novamente, apertando-os com força e sentindo as lágrimas quentes molharem seus cílios. Ele bebeu o resto do whisky de uma vez só, sentindo a bebida queimar o seu peito.
— Devagar. Você tá bebendo isso desde a hora em que acordou. — disse Ward, levantando os olhos brevemente para o filho ao perceber que ele estava parado ao pé da escrivaninha, despejando mais uma boa quantidade de whisky no copo.
— Eu ainda não caí de costas nesse chão graças a isso. — respondeu Rafe, cruzando os braços na frente do peito e recostando-se na mesa.
Ward sentou no sofá de camurça perto da lareira, repousando os papéis do seu lado. Ele esfregou os olhos e sustentou a cabeça com as próprias mãos, respirando profundamente. Qualquer um poderia ver como o homem estava estressado. Rafe olhava para o pai com um misto de emoções: geralmente era assim que o pai agia pouco antes de surtar, o que fazia com que o garoto ficasse em alerta, com medo. Por outro lado, parte dele sentia desprezo e raiva.
— Eu sei que você está cansado, mas quando encontrarmos isso, eu juro... — começou Ward, sendo interrompido pelo toque do celular.
Ele retirou do bolso o celular e levou à orelha para atender. Ele ergueu um dedo para Rafe, indicando que o garoto esperasse um instante, e saiu do escritório, fechando a porta atrás de si. Rafe olhou o ambiente ao redor, analisando os mapas que o pai havia pendurado na parede e todos os desenhos que os dois haviam feitos, calculando rotas. Ele fechou os punhos e se apoiou na mesa de madeira, abaixando a cabeça para encarar o chão.
O escritório estava tão silencioso que ele conseguia ouvir o som da própria respiração pesada. Ele pegou o celular que estava no bolso da calça jeans, desbloqueando a tela e checando a caixa de mensagens. Durante o dia todo, ele ficou ocupado com as loucuras de Ward, e sequer teve tempo que mandar mensagem ou ligar para Summer.
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Kook Prince
FanfictionApós ser expulso de casa pelo próprio pai, Rafe Cameron passa a viver no gueto com o seu melhor amigo, Barry. O que Rafe não esperava, era que ele iria dividir a mesma casa com a irmã mais nova de Barry, Summer. E definitivamente não esperava se apa...