Summer

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— Rápido, coloca aquela toalha sobre a mesa! — exclamou Bob, olhando em direção à toalha azul pendurada em um dos cabides na parede.

Summer correu até a toalha limpa, esticando-a sobre a mesa de madeira que estava no centro da pequena sala de jantar. A casa de Bob ficava aos fundos do restaurante, e era totalmente feita em madeira de carvalho antiga.

A decoração lembrava o Castelo, e por um momento, Summer sentiu como se estivesse em casa. Conchas e pequenas pedras pendiam em fios das paredes ao lado das janelas; toalhas bordadas com desenhos de estrelas do mar e do pôr do sol estavam espalhadas pelo balcão; quadros pintados com tinta acrílica exibiam as paisagens mais bonitas de Outer Banks.

Summer retirou a bandeja com os vidros de molho de pimenta de cima da mesa e a colocou no balcão, afastando as cadeiras para que Bob pudesse deitar Rafe sobre a mesa. Bob caminhava devagar, ofegando com o peso de Rafe sobre os seus ombros.

Rafe continuava desacordado, e apenas a sua cabeça balançava a cada passo que Bob dava em direção à sala de jantar. Summer segurou a cabeça de Rafe com cuidado, permitindo com que Bob colocasse o garoto de forma cuidadosa sobre a superfície de carvalho sem que ele se machucasse.

— Muito bem — disse Bob, recuperando o fôlego — Vamos retirar essa camiseta.

Summer olhou ao redor, procurando por qualquer objeto pontiagudo. Ela correu até as gavetas debaixo da pia da cozinha, retirando de seu interior uma faca com um cabo de madeira desgastado.

Summer correu novamente até Bob, que segurou a camiseta manchada de Rafe e a rasgou no meio com a ajuda da faca. Summer levou as mãos à boca ao ver o namorado sem a camisa, na tentativa de engolir o choque que ameaçava sair pelos seus lábios. O abdômen de Rafe estava completamente encharcado de sangue em diferentes colorações.

O sangue vermelho vivo que escorrera do ferimento nas primeiras horas agora estava seco, e grudava na bainha de sua bermuda. Já o sangue no centro do ferimento era escuro e viscoso, e Summer teve de levar as mãos ao estômago ao perceber que pequenas partes da pele de Rafe haviam sido rasgadas pelo projétil.

— Aí, meu Deus! — exclamou Summer, sentindo as suas pernas ficarem trêmulas — Ele...

— Ele vai ficar bem — disse Bob, os seus olhos grudados em Rafe.

Summer suspirou, colocando-se de pé ao lado de Rafe e levando uma de suas mãos até a cabeça do garoto. A pele de Rafe ainda estava quente, mas não tão quente quanto a pele de uma pessoa viva. As suas bochechas rosadas agora tomavam um tom arroxeado, e a sua respiração continuava lenta. Summer afagou os cabelos desgrenhados de Rafe, mordendo o lábio inferior com tanta força que ela podia sentir o gosto metálico do sangue na sua língua.

— Você vai cuidar dele? — perguntou Summer, erguendo o olhar para Bob.

Bob apenas suspirou, coçando os cabelos raspados como se estivesse tentando pensar em algo. Ele parecia atordoado, e não era pra menos: havia um garoto baleado em cima da sua mesa de jantar. Ele balançou a cabeça antes de responder.

— Eu conheço uma pessoa, um pescador que mora aqui — disse Bob — Ele é um médico aposentado. Ele vai saber o que fazer.

Uma onda de esperança invadiu o peito de Summer, e pela primeira vez naquele dia, ela sentia que aquilo poderia dar certo. Que Rafe poderia sobreviver. Ela acenou em concordância freneticamente, observando enquanto Bob corria pela porta dos fundos e saía em direção às casas vizinhas.

Silêncio pairava sobre o ar, deixando Summer sozinha com os pensamentos gritantes dentro da sua cabeça. Lágrimas formavam-se em seus olhos, e daquela vez, ela não conseguia aguentar. Suas mãos agarraram as bochechas de Rafe, e por longos minutos ela encarou o garoto, desejando que ele acordasse e dissesse que estava tudo bem, que tudo aquilo era uma brincadeira de mal gosto e que eles poderiam voltar para casa.

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