Rafe

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— Eu vou te pegar! — a voz do garotinho ecoava pelos corredores da enorme mansão, que estava parcialmente vazia durante aquela tarde particularmente quente — Eu estou chegando!

Uma garota ainda menor  corria em sua frente. Seu cabelo dourado, que outrora estava bem penteado em dois coques divertidos com laços cor de rosa, agora grudavam em sua testa suada e desprendiam dos elásticos de cabelo em fiapos. O garotinho não estava muito diferente. Sua camiseta verde grudava em suas costas molhadas de suor, e seus dedos escapavam dos chinelos que seu pai havia acabado de comprar durante uma viagem.

Os irmãos gargalhavam como se aquela fosse a brincadeira mais divertida do mundo, e para eles era mesmo. Como toda criança que nascera em uma família rica, os irmãos Cameron não costumavam brincar com outras crianças que viviam além das propriedades do pai, há não ser quando um dos adultos chegava para uma visita e trazia os seus filhos para lhes fazer companhia.

A verdade é que o pequeno Rafe gostava de brincar com a irmã. Ela era esperta para a idade que tinha, e a sua euforia e animação sempre ajudava na hora de criar brincadeiras novas. Nenhum deles saberia dizer há quanto tempo os dois corriam pela casa, mas Rafe já começava a sentir suas pernas ficando cansadas.

— Não vai me pega-ar! Não vai me pega-ar! — Sarah cantarolava em meio às rodadas — Eu sou mais rá-pi-da! Eu sou mais rá-pi-da!

O pequeno Rafe acelerou ainda mais o passo, determinado a alcançar a irmã que corria para os jardins. Quando ele chegou perto o suficiente, o garoto se jogou sobre a irmã, derrubando os dois sobre a grama ainda úmida de orvalho.

Sarah grunhia em frustração. Suas mãos limpavam seus joelhos e seu vestido com estampas de cupcake que agora estavam sujos de terra. Rafe não se deu ao trabalho de limpar a terra que sujava suas roupas, aliás, ele gostava da aventura, e quase sempre se aventurar significava mexer com um pouco de terra.

— Você trapaceou! — Sarah protestou, ficando de pé — Não vale!

— Não trapaceei nada! — Rafe protestou de volta com um sorrisinho.

Ele sabia que tinha trapaceado, sabia que derrubar alguém no "tá com você" não era a maneira correta de se ganhar. Mas ele não ligava.

— O que os dois estão aprontando agora? — uma voz feminina soou atrás dos dois garotos.

— O Rafe trapaceou! — Sarah disse à mulher — Trapaceou, trapaceou, trapaceou!

— Ah, é mesmo? — a mulher exibia um sorriso gentil no rosto — Isso é verdade, meu amor?

Rafe levantou o rosto para o olhar carinhoso da mulher que o observava. Mesmo tão jovem, o garotinho conseguia se safar com pequenas mentiras e pegadinhas com qualquer pessoa, até mesmo com seu pai, que nunca parecia estar surpreso demais com a quantidade de pegadinhas que o cérebro do filho poderia orquestrar.

Mas olhar para os olhos amorosos de sua mãe produzia no pequeno um sentimento confuso. Ele não gostava de mentir para ela, e sabia que jamais precisaria fazê-lo. O rosto, que exibia uma expressão de satisfação, agora parecia triste. A mulher se curvou ao chão, uma de suas mãos acariciava os ombros do garoto.

— Rafe, se você trapaceou, peça desculpas à sua irmã. — a voz da mulher soava tão suave quanto a brisa fresca da manhã.

Ele olhou novamente para Sarah, que cruzava os braços na frente do corpo em uma posição de quem exigia um pedido de desculpas. Ela devia ter o gênio forte do pai, sempre exigindo bons tratamentos.

— Desculpa. — a voz do garoto parecia mais um sussurro, relutante.

Sarah soltou um "humpf!" de satisfação. Rafe sentiu as mãos gentis de sua mãe darem leves tapinhas em suas costas e coxas, retirando os resquícios de terra que grudavam em suas roupas. Seus dedos logo pousaram sobre as bochechas do pequeno Cameron, acariciando sua pele macia com os polegares.

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