Summer

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Summer fez uma careta ao sentir o gosto salgado do pano imundo que um dos capangas de Ward havia colocado em sua boca como uma mordaça. O tecido estava úmido e com um cheiro amargo, o que só poderia indicar que era usado pra limpar o interior encardido da van que a transportava como prisioneira.

O som de uma batida no assoalho do carro chamou a atenção dos homens dentro do carro. Todos viraram-se imediatamente para contemplar uma Summer nada feliz após bater a cabeça com o balançar do carro.

— Uhhmhmh. — Summer tentou falar, mas a mordaça em sua boca fez com que suas palavras não passassem de gemidos.

— Não consigo te entender, querida. — Um homem meio calvo sorriu de forma debochada em direção à garota.

Os parceiros de equipe dele deram risadas. Summer não pensou duas vezes antes de chutar o rosto do homem com a ponta do pé. Os seus companheiros agitaram-se ao ver cena, levantando-se de seus lugares e indo em direção à garota.

— Deixem ela em paz. — Ward nem precisou se virar de costas para saber o que estava acontecendo — Tirem a mordaça dela.

Hesitante, um dos homens bufou em irritação antes de obedecer ao comando e arrancar o pano do rosto de Summer em um movimento brusco. Summer cuspiu no chão, tentando livrar-se do gosto horrível que estava agora impregnado em sua língua.

— Essa não é uma forma muito legal de tratar alguém com quem acabou de fazer um acordo, não acha? — Summer perguntou, fuzilando a nuca de Ward mesmo de longe.

O homem havia ordenado que seus capangas amarrassem as mãos de Summer atrás das costas para evitar com que a garota tentasse fugir, ou até mesmo para não correr o risco de que ela roubasse um objeto perigoso e o utilizasse para matá-lo. É claro que ele não estava errado em fazer isso, já que Summer havia pensado na possibilidade enquanto era escoltada até a van.

Seus olhos vaguearam pelo interior do veículo à procura de algo que pudesse usar à seu favor, por menor que fosse. Haviam grandes caixas cheias de cordas, pás, ganchos e outros objetos que ela não conseguia reconhecer devido à escassa luz.

Pelos seus cálculos, já haviam se passado cerca de 40 minutos desde que haviam deixado o quintal de Barry. O veículo adentrava a mata do pântano, os faróis do carro iluminando apenas poucos metros à frente do carro. Do lado de fora, era possível ouvir os galhos secos das árvores arranhando a lataria.

O motorista parecia não se importar com o fato de que o carro estava em alto velocidade para uma estrada de barro, se é que poderia ser chamada propriamente de barro. A areia do pântano era do tipo lamacenta, se não tomasse cuidado, os pneus do carro poderiam ficar presos em alguma poça de água funda o suficiente.

Summer havia informado as coordenadas do baú do tesouro de acordo com os pontos de latitude e longitude que conseguia se lembrar. Ela havia feito uma nota mental bem reforçada acerca do local em que havia enterrado o baú com a ajuda de Barry, há poucos dias atrás.

Um sorriso se formou no canto dos seus lábios ao perceber que a situação se desenrolava de acordo com o plano que havia traçado sozinha e em segredo sem a participação dos pogues. Naquele momento, ela agradeceu pela escuridão que caía sobre ela e sobre os homens ao seu lado.

Mais uma batida. Dessa vez não havia sido sua cabeça. Com um último ronco, o motor do carro adormeceu. Todos viraram-se para os bancos da frente ao escutarem o motorista tentar dar a partida no carro novamente. Ele tentou uma vez, e outra, e mais outra. Os faróis do carro ligavam por poucos segundos antes de morrer novamente juntamente do motor.

— Mas que droga. — Ward resmungou baixinho, passando as mãos pela barba de forma irritada.

O motorista virou o rosto para encara-lo, esperando uma ordem sobre o que deveria fazer. O silêncio perdurou por poucos minutos antes de Ward abrir a porta do carro e pular para fora do veículo.

— Terminaremos o percurso a pé. — Ward já rodeava a van para abrir as portas traseiras.

Ele as abriu antes mesmo de Summer conseguir se mover para longe da porta. Suas costas atingiram o chão frio e lamacento, e ela gemeu baixinho ao sentir uma dor excruciante atravessar seus ombros quando o peso do seu corpo caiu inteiramente sobre seus braços amarrados.

Antes que pudesse se recuperar, seus corpo foi envolvido pelos braços de um homem, que a levantou do chão sem muito cuidado. O pântano estava um completo breu, totalmente imerso na escuridão da madrugada. Ainda deviam faltar cerca de 2 e meia para o nascer do sol.

Os homens tiraram as caixas do interior da van e as puseram no chão. Aos poucos eles retiraram as cordas, pás, e lanternas. A luz de uma das lanternas atingiu diretamente seu rosto, e Summer teve de fechar os olhos ao sentir a dor da claridade atingir a sua visão.

— Você vai andar comigo. — Era Ward iluminando seu rosto.

As mãos do homem agarraram o seu braço esquerdo. Summer ficou surpresa ao perceber que as mãos de Ward eram, na verdade, quentes como a dela. Summer havia criado em sua imaginação a imagem de que Ward era um monstro, alguém não humano de sangue frio que não ligava para mais nada no mundo que não fosse dinheiro e glória.

— Poderia pelo o menos desatar as minhas mãos. — Summer falou, afastando os olhos da lanterna — Não é como se eu fosse fugir, de qualquer maneira. Essa mata é tão densa e escura que levaria horas pra chegar até a cidade. Eu morreria perdida no meio do caminho, isso se eu não fosse devorada por algum animal selvagem.

Ward abaixou a lanterna para iluminar o chão. Mesmo que o rosto do homem não estivesse iluminado, Summer sabia que ele estava sorrindo com o canto dos lábios.

— Você tem uma lábia muito boa, pra uma adolescente. — O seu tom trazia um certo tipo de satisfação — Faz eu me lembrar do seu pai.

Summer estremeceu. Uma sensação que se assemelhava à dor de um soco à atingiu diretamente no estômago. As lembranças das palavras de Limbrey narrando a vida de seu pai se passaram pela sua cabeça, como um filme em um retroprojetor.

Conversar sobre William não era exatamente difícil, não quando era com Barry, o seu irmão. Mas havia algo totalmente diferente em escutar aquelas palavras saindo da boca de Ward Cameron. Era como se a ficha sobre toda a história de amizade entre os dois não tivesse caído ainda.

Toda a situação não deixava de ser uma grande ironia. Anos depois da morte de William, ela estava ali, sendo conduzida mata à dentro pelo homem que um dia fora o melhor amigo de seu pai. Será que um dia ele havia imaginado que Ward seria capaz de fazer tal coisa? Como ele reagiria se soubesse que seu melhor amigo de infância agora mantinha sua própria filha como uma "refém"?

— Prefiro que não fale dele se formos fazer isso. — Summer soou mais seca do que imaginava que poderia.

Ward soltou uma respiração funda antes de agarrar Summer pelos braços e sacar um pequeno canivete dos bolsos de sua calça jeans. Com alguns cortes, ele cortou as amarras que prendiam os braços da garota. Summer esfregou os punhos, sentindo as marcas profundas dos nós arderem em sua pele.

— Caminhando. — Ward falou um pouco mais alto, seus olhos ainda encarando Summer — Temos muito o que fazer antes do amanhecer.

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