Kook Prince

Rafe

Rafe observou Summer escalar o muro e sumir dentro da noite, deixando-o ali sozinho no quarto mal iluminado. Ele queria poder correr, gritar, dizer a ela que aquela não era a sua intenção e que ele realmente desejava voltar pra casa de Barry com ela.

Mas ele não podia. Ele sabia o que Ward faria caso ele desobedecesse mais alguma ordem do pai.

Naquela tarde, Rafe fora surpreendido por Ward e seus dois capangas enquanto fazia o seu caminho de volta para a casa de Barry. Os dois homens eram da altura de Rafe, e estavam acostumados a fazerem o trabalho sujo de Ward, então não tiveram dificuldades em derrubar o garoto, que passou vários minutos sangrando na estrada de pedra.

— Isso é pro seu bem, filho. — dissera Ward, colocando a mão no rosto de Rafe enquanto ele ainda estava deitado no chão.

Rafe não conseguia dizer nada. A carne da sua bochecha estava cortada, e tudo o que ele conseguia fazer era cuspir sangue enquanto tentava se afastar do pai.

— Se eu fiz isso com você, imagina o que eu posso fazer com os seus amiguinhos do gueto. — a voz de Ward era baixa e ameaçadora.

O medo que Rafe sentia do pai sobressaía a sua vontade de reagir e se defender. O pai o manipulava com ameaças e surras desde que ela era uma criança, deixando Rafe indefeso durante todo o tempo em que morou com ele.

O garoto não conseguia pensar em nada devido a enorme dor que se espalhava pelo seu corpo. A sua camisa estava encharcada do sangue que saía da sua boca e de seu nariz. Seu peito doía a cada tentativa do garoto de respirar.

Ele sentiu os seus olhos se encherem de lágrimas. A dor física era suportável, de certa forma ele estava acostumado a se meter em brigas, mas a dor emocional de apanhar daquela forma do próprio pai era inigualável. Rafe lembrou-se de como ele costumava ser quando era criança, quando se escondia pelo quarto e debaixo das mesas quando ouvia os gritos de Ward ecoarem pela casa. Ele se sentia como a criança indefesa e amedrontada de anos atrás.

Ward acenou com a cabeça para os dois homens que assistiam a cena sem falar uma palavra, ordenando que os dois amarrassem a motocicleta de Rafe na parte traseira da caminhonete. Ward se agachou ao lado de Rafe e o levantou pelos braços, segurando o garoto pelo seu tronco e o carregando pelos ombros.

Rafe não teve outra opção a não ser aceitar que ele deveria voltar pra casa, pelo bem de Barry e Summer. A última coisa que ele queria era que a ira de Ward Cameron caísse sobre os dois amigos.

E ali estava ele, trancado no próprio quarto como se ainda fosse um adolescente rebelde, sentindo cada parte do seu corpo doer. O único momento de alívio que ele sentiu foi quando Summer passou os dedos pelos ferimentos. Por poucos minutos ele sentiu como se a garota tivesse o poder de curar toda a dor e agonia que ele sentia, mas ela havia ido embora, e agora a dor não latejava somente na sua pele, mas dentro do seu peito.

...

Os Cameron sentaram-se à grande mesa de madeira em silêncio, sem sequer olhar uns para os outros. A mesa estava repleta de comida, haviam assadeiras de vidro com batatas temperadas, costeletas de carneiro com vinho tinto e lentilha, creme de ervilha e uma enorme bandeja de pedra ardósia com teppan de salmão. As garrafas de vinho que Ward trouxera de sua adega decoravam a mesa, juntamente das taças de cristal e das grandes velas nos castiçais.

Não era difícil perceber que a decoração das refeições eram organizadas por Rose, que sempre prezava a boa aparência até mesmo quando não havia ninguém por perto.

Ward cortava as costeletas de carneiro e colocava no prato da esposa e dos filhos, enquanto Wheezie se esticava pela mesa para alcançar a tigela com o creme de ervilha. Sem nenhum esforço, Rafe pegou a tigela e entregou nas mãos da irmã, recebendo um sorriso em agradecimento. Ele sentira saudade de Wheezie nos dias em que esteve morando no gueto, e se sentia aliviado por estar perto da irmã mais uma vez. Ela era a única coisa que o impedia de surtar naquele momento.