capítulo 21

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pov Isabella

Ao ouvir o badalar da meia noite, levantei-me da cama e andei até a porta de madeira branca na ponta dos pés, assegurando-me para que nem o menor dos ruídos fosse feito.

Alcancei a maçaneta e ao colocar metade do corpo para fora, me certifiquei de que não havia ninguém acordado.

Peguei uma velha lamparina que já havia deixado acesa na mesa de cabeceira e saí.

Como havíamos combinado, tratei de esperar o mais suportável dos Lecomte na cozinha.

Apesar da lamparina pouco eficiente e da rala luz noturna que adentrava as janelas, pude avistar um bolo de cor amendoada, coberto por uma redoma de vidro, na ponta da ilha de mármore.

Depositei a lamparina sobre a mesma e me aproximei do bolo, a fim de cortar um pedaço, porém, parei na metade do caminho ao escutar um ruído estranho.

Este, vinha da parte dos cereais em sacos, que ficavam no chão, ao canto da cozinha.

Arregalei os olhos à medida que a sombra da lua se afastava, deixando apenas o seu brilho e me permitindo assim ver as manchas pretas na pele da criatura.

Abafei o grito que insistiu em me sair e coloquei a mão no coração como se isso fosse diminuir seu ritmo. Com algum esforço, subi em cima da ilha, fugindo do animal e rezando para que eu não fosse sua próxima opção de jantar.

- Ai meu Deus! Ai meu Deus! - sussurrava a todo tempo, clamando aos céus por qualquer coisa que me tirasse da situação.

Até um raio seria bem vindo.

Não tinha forças para sair correndo. O receio de que me alcançasse e devorasse ali mesmo, era maior.

Assustei-me outra vez ao ouvir o tilintar de uma panela de metal que vinha da entrada da cozinha.

Mas não demorou muito e consegui enxergar à espreita, cabelos loiros iluminados apenas por uma lamparina de luz fraca. Após endireitar a panela que havia ligeiramente esbarrado, ele estendeu a lamparina em minha direção.

- Você não acha que já está um pouco grandinha para brincar dessas coisas? - sorriu debochado.

Me perguntei se a expressão de desespero em meu rosto não era suficiente para ele perceber que havia algo errado.

Mais ruídos surgiram e então Tyler deu passos para o lugar de onde eles vinham.

Balancei a cabeça em negação com olhos arregalados mas ele continuou seguindo em frente.

Fechei os olhos fortemente ao ouvir um grito de... empolgação?

- Olha, raposinha! - chamou animadamente.

Abri os olhos vagarosamente e aos poucos virei em sua direção.

- Nunca vi uma espécie dessas pessoalmente. - franzi o cenho e engatinhei até o outro lado do balcão. Ao fazer isso, me deparei apenas com o que parecia ser um gato de pele manchada. Soltei um suspiro aliviado.

- É um gato do mato. - constatou.

Andou até a porta do fundos e abriu, permitindo que o animal fosse embora sem a menor preocupação. Me encarou e sorriu ladino. Já podia saber que soltaria alguma de suas gracinhas.

- Srta. Beaufort, não me diga que estava com medo de um bichinho como esse...

- Mas é claro que não! - sentei-me à beirada da ilha e cruzei os braços.

- Eu acho que estava sim. - implicou.

- Não, não estava. - rebati.

Tyler depositou sua lamparina ao lado da minha e me estendeu a mão. A encarei desconfiada.

Amor no norte da FrançaOnde histórias criam vida. Descubra agora