capítulo 8

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pov Tyler

Ir para Paris depois do que aconteceu há cinco anos atrás era a última coisa que se passava pela minha cabeça. Mas depois dos problemas que meu pai, Oliver Cartier, acarretou com dívidas em jogos de apostas após a morte da minha mãe, nos levando à falência, eu e Ethan tivemos que ir morar com nosso tio, Archibald Lecomte,  pai de nossa prima Briana. Por falar nela, a garota é insuportável, além de não saber falar de outra coisa que não seja seu próprio bem estar. 

Enfim, Archibald é nosso tio por parte materna. O mesmo, amava muito a irmã e logo que soube da situação financeira em que Oliver nos metera, ofereceu sua casa para que meu irmão e eu não ficássemos desabrigados. 

Aceitamos de bom grado e Ethan pareceu ficar feliz por termos encontrado uma "luz no fim do túnel", porém é algo temporário, pelo menos para mim que estudo advocacia e pretendo exercer a profissão assim que terminar a faculdade de direito.

Meu irmão faz medicina. Mas digamos que desde que ele tenha em quê se apoiar, não faz questão de se esforçar. E como perdemos todas as nossas posses, meu tio insistiu em pagar nossas faculdades, não me senti confortável com isso, mas já que não falta muito para concluirmos os cursos, aceitei.

Já a situação de nosso pai não se resolveu tão facilmente, teve que voltar a trabalhar, mas desta vez não como médico e sim como ajudante de padeiro. Afinal, os hospitais de Londres não o queriam contratar depois de que passou a apostar. Consideravam isso como uma atitude irresponsável e imprudente, coisa que não poderia discordar. 

Com o baixo salário do novo emprego, alugou um pequeno quarto em uma pensão. Como sei disso? Sempre que posso eu o visito, coisa que Ethan prefere não fazer, alegando ainda não conseguir encará-lo depois de tudo o que aconteceu.

Apesar dos erros que cometeu, Oliver sempre foi um bom pai, apesar da postura rígida. Me prometi que quando me formasse e encontrasse um emprego, o ajudaria.

Após um tempo morando na casa de Archibald e tendo chegado as férias de verão, nosso tio nos pediu que acompanhassemos sua filha em uma viagem que a mesma faria junto à família Martin.

O único problema era o local para onde iam. Não tenho boas lembranças na capital da França... Mas não poderia recusar seu pedido, já que vinha sendo tão cordial conosco.

Ao chegarmos, tive um grande susto. Tinha saído para passear com Max - o cachorro que minha mãe havia me presenteado em um de meus aniversários com Ethan. E como ele não gosta de animais, acabou ganhando uma bicicleta - quando o perdi de vista.

Nós tínhamos ido à uma das pontes do rio Sena, quando tudo aconteceu. O procurei o quanto pude, e quando não o encontrei, resolvi buscar ajuda na casa em que seria hospedado.

Foi quando conheci uma raposa irritante. Porém, também irritantemente linda, odiava ter que admitir.

Isabella Beaufort não era uma moça comum, na verdade, nunca havia conhecido alguém como ela.

A postura de durona e o comportamento peculiar a deixavam deveras interessante. Fora que o cabelo ruivo a destacava em qualquer lugar que estivesse. Os olhos verdes marcantes eram realçados pelas sardas ao longo de seu fino rosto, e a boca, levemente rosada, era de fato uma tentação.

Porém, sua beleza não a fazia ser menos arisca. E como eu também não podia ser considerado a pessoa mais gentil do mundo, digamos que... não nos demos muito bem.

No dia seguinte ao que havia chegado, logo após tê-la encontrado na cozinha, parecendo um fantasma de farinha -  por Max a ter derrubado quando correu atrás de um brinquedo - saí para cavalgar e acabei encontrando uma biblioteca.

Era apaixonado por literatura então não demorei a entrar. Ao fazer isso, acabei por ganhar um novo amigo. Bernard era uma figura e logo nos demos bem. Começamos a conversar como se nos conhecêssemos há vários anos.

- Essa é a parte ruim de ter um irmão gêmeo! -exclamei e ele riu- A garota entrou no restaurante pensando que eu fosse ele e acabou jogando todas as burradas que "eu" tinha feito na minha cara, e isso sem contar que havia muita gente prestando atenção no show que ela estava dando.

- Não acredito! - disse Bernard, dando uma gargalhada.

- E depois ela me deu um tapa que deu para ouvir de todo o estabelecimento. Eu ainda estava sem entender nada e todos me olharam com caras de julgamento. - expliquei gesticulando.

Ouvi alguém pigarreando atrás de mim e olhei na direção do som.

- Você?! - respondemos em uníssono, ambos espantados.

Não acreditei quando a vi alí e muito menos quando me convidou para apostar uma corrida à cavalo. Confesso que fiquei um pouco surpreso, mas gostei da ideia, estava curioso para saber o que tinha por trás da carinha bonita, além de farpas afiadas e respostas na ponta da língua.

Agora, estávamos cada um em seu cavalo, andando por um vasto campo de lavanda. Ambos em um silêncio confortável.

Acabei então reparando no modo de agir dela, quando a mesma fechou vagarosamente os olhos.

A ponta do nariz voltada um pouco para cima e a boca levemente entreaberta, a leve brisa balançava os fios avermelhados, que estavam soltos, e parecia fazer uma dança minuciosa por entre as mechas cacheadas. Parecia apreciar a sensação.

Realmente linda, não podia negar. Mas isso ela nunca saberia.

- Tyler! Mais cuidado com as flores. - esbravejou, tirando-me de meus devaneios.

- O que? - perguntei ainda atônito, confuso com seu pedido.

- Você está babando tanto que é capaz de afogar as pobres plantas. - debochou com um sorriso de canto.

Não acredito que ela me viu com cara de idiota enquanto a observava. Droga, Tyler! - me condenei mentalmente.

Revirei os olhos e ela soltou uma gargalhada.

Tudo bem, a vergonha já foi passada, a única coisa a se fazer é tentar contornar o assunto.

- Podemos por favor começar logo essa corrida?

- Talvez seja melhor voltarmos amanhã, parece que vem tempestade por aí. - olhou para cima, com a mão acima dos olhos.

- Mas o céu está limpo. - falei confuso e repeti seu gesto, tentando encontrar qualquer vestígio de garoa.

- Pode até ser, mas depois das palavras "por favor" - fez aspas com os dedos - saírem da sua boca eu não duvido nada que caia um dilúvio. - caiu na risada novamente e eu arqueei a sobrancelha.

- Sabe o que eu acho? Você está arrumando uma desculpa porque está com medo de perder. - suas risadas cessaram e ela arrumou a postura em cima da cela.

- Eu até responderia à altura, mas você tem razão, é melhor acabarmos com isso. Afinal, ainda temos seus lenços para comprar. 

Atrevida. Sorri de canto.

- Vamos acabar logo com isso.

- O ponto de chegada é aquela árvore alí. - apontou para a única árvore no campo de lavandas, que estava a uma boa distância de onde nos encontrávamos.

Posicionamos os cavalos igualmente para ser algo justo, nos entreolhamos rapidamente e voltamos a olhar para frente. Em uníssono, demos início a uma contagem regressiva.

- Três...Dois...Um!

Começamos a correr e reparei que ela estava rindo enquanto fazíamos isso. Algo tão simples... Porque estaria tão feliz?

Após uma disputa acirrada, um de nós passou a árvore primeiro.

xxxxxxx

Quem será que ganhou a corrida genteee?

Alguém parecia estar contente, porque será? Próximo capítulo vamos conhecer um lado mais sensível da nossa Isa.

Espero que tenham gostado do Tyler ter narrado ✨🤞😜

Amor no norte da FrançaOnde histórias criam vida. Descubra agora