capítulo 29

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pov Isabella

Pondo a sela no cavalo de pelagem escura em minha frente, eu me preparava para sair.

Ontem, após chegarmos da sorveteria, não muito tempo depois daquela família ter ido embora, o dia seguiu tranquilo. Emma e Hugo passaram a tarde brincando com Tyler e Max. O problema mesmo, foi essa manhã quando Hector me chamou em seu escritório.

Suspirei pesadamente, enquanto meus pensamentos eram atingidos pelas farpas que trocamos hoje mais cedo.

(Duas horas antes...)

Bati na porta, pedindo permissão para entrar. A maçaneta foi puxada e o sr Raul apareceu em minha frente, me direcionando um sorriso de conforto apesar do olhar triste e eu devolvi o cumprimento.

Antes de me dar licença para entrar no escritório de meu pai, ele olhou para o amigo, balançando negativamente a cabeça antes de suspirar e deixar-nos a sós.

- Mandou me chamar? - perguntei, mantendo-me com a postura ereta.

Mágoa definia bem o meu sentimento por Hector no momento.

Sua figura paterna, antes tão cordial e gentil, apagava-se aos poucos da minha memória. O meu querido pai, de silhueta altiva com os demais e sorriso caloroso comigo, hoje me era estranho. Me era féu quando o que eu mais precisava, era de sua doçura.

- Sim, sente-se. - indicou para uma, das duas cadeiras que ficavam em frente a sua mesa.

- E sobre o quê queria falar comigo? - questionei ao sentar-me e ele se mexeu desconfortável na cadeira de couro marrom.

- Espero que entenda os meus motivos para fazer o que fiz. - disse e eu sorri com escárnio.

- Fazer o que fez? O que o senhor fez? - fingi desentendimento.

- Entregar sua própria filha para um desconhecido por meio de um acordo, sem o consentimento da mesma, foi o que fez? - balancei negativamente a cabeça - Não, eu não entendo.

- Não seja petulante, Isabella! - repreendeu.

- Meus argumentos válidos lhe insultam, papai? - ele apertou o maxilar.

Alguma coisa, por baixo de seus óculos de fina armação dourada, me dizia silenciosamente, embora de maneira sufocada, que Hector estava sofrendo tanto quanto eu.

- Saiba que não aceitarei a sua negativa para com Ethan.

- E nem precisa, dei a negativa para ele, não para o senhor.

Ele levantou-se bruscamente e eu engoli seco, mas não abaixei a cabeça. Estava decidida. Não deixaria que meu pai controlasse a minha vida, nem que Paris ditasse o que eu era ou deixava de ser.

A minha vida era minha! Só eu sabia das minhas feridas mal curadas e o quanto eu tive que me erguer sozinha quando não havia mais ninguém para me levantar. Quanto mais cedo entendesse isso, mais cedo me livraria das amarras que me prendiam à uma sociedade que nada tinha a me oferecer se não dedos apontados, seguidos de insultos que nunca mereci.

- Você sempre teve tudo o que quis, Isabella! - apoiou as mãos na mesa, me direcionando um olhar cortante - As melhores escolas, as melhores roupas, os melhores meios para se estar inserida... - andou de um lado para o outro.

- Até mesmo seus caprichos de moleca eu satisfazia e veja só o que isso me trouxe! Uma garota mal agradecida que não vê tudo o que tenho feito por ela! - ralhou impaciente.

De tudo o que poderia me ferir a pele, nada me podia ser mais cortante do que aquelas palavras.

Senti meu peito apertar e em minha garganta se fez um nó. Mas não, eu não ia chorar.

Amor no norte da FrançaOnde histórias criam vida. Descubra agora