capítulo 2

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pov Isabella

Briana Lecomte??! Não podia acreditar no que fora dito. Se alguém me beliscasse e eu acordasse, seria imensamente grata a quem o fizera. Tinha de ser um pesadelo!

- Por que essas caras? - questionou meu pai calmamente.

- Pai, ela é insuportável! -esbravejei, ainda tentando assimilar as coisas.

- Na verdade insuportável é apelido! -disse Karina também alterada.

- De fato a senhorita Lecomte não é muito fácil de lidar, mas isso não é somente culpa dela. Afinal, a mãe veio a falecer quando ainda era um bebê. Tendo de ser criada pelo pai, que não lhe dava atenção, a deixando sob os cuidados dos empregados. - esclareceu - Portanto, quero que sejam pacientes com ela. Me prometem que vão tentar?

Mesmo a contra gosto, eu e meus irmãos concordamos em uníssono.

- Ótimo. -respondeu-nos com um sorriso de canto.

De fato eu não era a pessoa mais cooperativa do mundo. Na verdade estava bem longe disso. Mas quando se tratava do meu pai tentava ser o máximo que podia. 

Mesmo Briana sendo uma cobra, não poderia julgá-lo, pois o mesmo não sabia o que ela havia feito comigo. 

Ele era sempre muito gentil com todos, apesar de sua postura séria e reclusa.

Estava convencida. Faria o sacrifício de aguenta-la, por ele. 

Tínhamos uma relação próxima, muito embora não concordassemos em tudo. Na verdade, entre essas discordâncias que tínhamos, estava a seguinte questão: pretendentes.

E foi com esse pensamento e conhecendo meu pai tão bem como conheço, que resolvi perguntar.

- Mas pai, porque ela está vindo junto com a família Martin? E porque está trazendo esses primos?

- Bom... - estava um pouco tenso e pareceu pensar na melhor resposta para a minha pergunta - O pai a deixou sob os cuidados da família Martin já que a mesma estava há tempos querendo voltar para visitar Paris. E como ele não queria que ela viesse sozinha, aproveitou que os primos estavam passando um período com eles e resolveu mandá-los para a acompanhar.

Alguma coisa em seus olhos - por debaixo das lentes de armação fina - me dizia esconder alguma coisa...

O jantar foi servido e logo após todos terminarmos, como de costume, fomos para a sala de estar.

Nossa casa era vultosa e todos os cômodos haviam sido decorados pela minha mãe. Ela tinha um gosto impecável para tudo. E como quando criança tinha tido aulas de piano e alguns outros instrumentos, resolveu colocar um piano de cauda no cômodo, para assim, além de matar a saudade da infância, preencher o espaço do extenso local.

- O que vamos tocar hoje? -meu irmão Hugo, de 12 anos, pergunta.

Hugo era digamos que "meu xodó". Apesar de um pouco travesso, era muito amoroso com todos nós. Além de ser um fofo com aquelas bochechas grandes e rosadas e os cabelos parecidos com os de Karina, era o meu braço direito quando preciso... como posso dizer? "Fazer certas coisas as quais uma dama da sociedade não deve". 

Como por exemplo andar à cavalo, jogar futebol, tentar dirigir etc, etc, letras miúdas. Sinceramente? Um grande disperdício de talento já que eu com certeza deixaria os garotos no chinelo.

- Por que você não escolhe, mamãe? - Emma, a caçula de 9 anos, pergunta - Sempre escolhe as melhores músicas! - sorriu animada.

Mamãe ficou numa pose pensativa. Parecendo fazer entre os pensamentos a melhor escolha.

- Que tal "canzone per te"? - sugere e nos olha pedindo a aprovação. Logo assentimos.

- Ótima escolha, querida. - meu pai diz sentando-se ao lado dela, que estava na banqueta do instrumento.

Começaram a dedilhar as teclas e nossas vozes os acompanharam.

Eu não era à favor de encontrar alguém, no entanto, ao olhar para meus pais, essa coisa toda de amor parecia certa. Parecia até ser possível. Até mesmo para mim. 

Ele era mais enérgico e falante, ao passo que ela compensava isso sendo - de natureza - uma ouvinte silenciosa e calma.

Quando já estava próximo as nove da noite, todos foram para seus respectivos quartos. Exceto por Emma, que insistiu em ficar comigo.

De Karina e Hugo, ela era a que mais se parecia comigo. Seus cabelos ruivos e os olhos verdes não negavam ser minha parente. 

- Pode ler uma história para mim, Isa? Alguma daquelas de princesas e dragões! - disse animada, subindo na minha cama e imitando as "garras" do animal fictício. 

Acabei dando risada da sua falha tentativa de parecer feroz.

- Podemos começar hoje e depois continuamos, está bem? - concordou, comemorando com pulinhos.

Após umas três páginas, a garotinha já havia pegado no sono, e eu também - depois de alguns minutos de inquietação e angústia, pensando em como seria a convivência com Briana sob o mesmo teto - resolvi fazer o mesmo. 

Repousei o livro em minha mesa de cabeceira e fechei os olhos, logo sentindo o sono me tomar.

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Parece que a casa vai ficar cheia com tantas visitas né? Será que são boas ou ruins?

Ps: eu amo essa músicaaa
"canzone per te" de Sergio Endrigo ✊😭✨

Amor no norte da FrançaOnde histórias criam vida. Descubra agora