Virando o Jogo

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Era um dia importante, afinal eram os jogos que fechavam o ano letivo dando fim ao ensino médio. E com o fim do ensino médio todas as bobagens sobre a maldita pirâmide social ficariam para trás. Era nisso que Bianca se agarrava para não jogar tudo para o alto e sair gritando à todos o quanto ela sentia-se enojada por todas aquelas futilidades das quais as companheiras de torcida faziam tanta questão. Olhava ao redor aliviada por ser a última vez que precisaria fingir se encaixar em um lugar onde ela apenas suportava, as vezes nem isso. Seus olhos pousaram em uma pessoa especial na arquibancada, a garota que mais chamava atenção de Bianca no último ano. Rafaella.

Era fácil demais ser notada quando se tem um oceano nos olhos, Bianca sabia bem disso, pois no momento que a viu entrando na aula de química, ela soube que Rafaella seria um problema. E estava certa, ela foi. Bianca simplesmente não conseguia tirar os olhos de Rafaella e isso a fazia sentir-se frustrada. Ela namorava e isso deveria bastar, mesmo que as coisas com Bruno fossem tão mornas. Nunca sentiu nada como borboletas no estômago, ela nem sequer acreditava muito nisso, até colocar seus olhos em Rafaella Kalimann

Rafaella estava sentada com a cara de tédio que sempre fazia para coisas como aquela, Bianca sabia muitas coisas sobre a garota que tirava o seu sono, e uma delas era o ódio que corroía a morena quando a olhava. E ela não julgava, como poderia? Flay fez da vida de Rafaella um inferno e não havia nada que ela pudesse fazer para mudar isso. Ela bem que tentou, mas foi apenas chamada de fraca e defensora de lésbicas.

Esse era o grande problema, Rafaella cultivava um ódio grupal pelas cheerleaders, e Bianca cultivava um amor platônico por Rafaella. Mesmo que ninguém soubesse que ela era gay, ela era e já havia assumido isso à si mesma em frente ao espelho depois de algumas semanas observando a mineira, lidava bem com isso. Sua expressão mudou quando percebeu que Rafaella a olhava fixamente, desviou o olhar amaldiçoando-se.

- Droga - sussurrou nervosamente.

-O que foi, Bia? - Marcela perguntou notando o incômodo da amiga, olhando ao redor e notou que Rafaella a olhava. Na verdade ela sempre notou o interesse de Bianca sobre a garota, mas nunca disse nada.

-Nada, está tudo certo! - A carioca deu o melhor sorriso que conseguiu e Marcela deu os ombros, ela acreditava que Bianca deveria sentir-se a vontade para falar e faria isso quando estivesse preparada - Vamos lá, garotas. Em posição! - gritou em seu melhor papel de líder.

Da arquibancada Rafaella resmungava tediosamente enquanto Manu olhava atenta para o campo, não que ela tivesse interesse em futebol americano, achava tudo muito sem graça, mas seu namorado estava lá e ela achava certo apoiá-lo. O casal mais improvável, Manu e Júlio, mas tudo corria bem entre eles.

-Eu não entendo como você pode gostar disso.. - grunhiu.

Manu riu brevemente sabendo que era difícil ser paciente estando onde estava, com tanto barulho e pessoas. Sabia que a amiga não era nem um pouco esportiva, pelo menos não ali. Pois Rafaella corria todas as manhãs no parque. Olhou em volta e parou o olhar nas animadoras.

-Rafa, você não precisava estar aqui, você sabe, não é!? - ela deu os ombros indiferente - Eu sei como se sente, sobre elas e eu te entendo, sabe!?

-Está tudo bem, Manu. Isso não me incomoda mais. Flay e todas elas são apenas pessoas medíocres que precisam disso para serem alguém nessa porcaria de pirâmide social que acreditam ser o ápice da vida delas, eu sinceramente não me importo mais, o ano está acabando e nunca mais verei a maioria deles, afinal.. - Manu sorriu orgulhosa da amiga e Rafaella retribuiu - Eu só.. não gosto da forma que ela me olha, você consegue notar isso? Ou estou ficando louca?

Ela estava referindo-se a Bianca, notou o quanto era observada algumas semanas antes durante uma aula que compartilhavam. É verdade que Bianca nunca a ofendeu diretamente, mas ela esteve em algumas humilhações e não fez absolutamente nada. Se você se cala, está compactuando com a agressão, certo? Ela acreditava que sim. Mas depois de notar o jeito peculiar que Bianca a olhava, ela não conseguia mais esquecer isso.

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