Parque

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Junho de 2021

O barulho das buzinas irritava profundamente os ouvidos de Bianca, e mesmo depois de tantos meses ela odiava os dias de chuva em São Paulo. Corria desviando das pessoas e com o guarda-chuva praticamente voando. Era para ser verão, mas em nada o clima mostrava isso. Uma rajada de vento jogou o guarda-chuva antes de colidir com um poste e cair todo torto. A boca da carioca se abriu incrédula. Era um complô da vida contra ela? Provavelmente.

Bufou impaciente e correu ainda mais. Tinha uma entrevista de emprego e estava animada, mas ao sair do prédio da editora o temporal a pegou de surpresa. Pareceu uma boa ideia correr pelas ruas, que mal havia afinal? Mas foi uma péssima ideia.

Tirou a jaqueta e sacudiu os ombros para tirar o excesso de água, ela adentrou um café, seu queixo estava batendo levemente, mesmo no verão a cidade era fria, ainda mais toda molhada assim. O café era pitoresco, com decoração dos anos 80. Sentou-se ao fundo bem ao lado da janela, olhou para fora e ainda via pessoas correndo furiosamente para se proteger da chuva. Havia um prédio com a pintura velha, com 3 andares e a carioca analisava a rua. A universidade ficava há algumas quadras dali. Era um bom lugar para morar.

Depois de fazer seu pedido e aguardar a chegada de seu chocolate quente, Bianca pôde relaxar quando a atendente sorridente lhe trouxe o mesmo. Encostou no banco e levou a xícara aos lábios. Ela estava pensando em como sua vida mudou em tão pouco tempo. Seu curso era tudo que ela esperava e eu pouco mais. Seu celular tocou e ela atendeu alegremente.

-Gizelly! Eu consegui! - disse ao atender e ouviu um grito estridente da amiga, conhecera Gizelly na faculdade, eram colegas de sala e depois de dois meses suportando os colegas da República que eram basicamente insuportáveis, decidiram que alugar um apartamento era o melhor que fariam, precisavam de um lugar barato e aconchegante e acharam, um prédio onde alguns outros estudantes alugavam e desde então eram inseparáveis. Gizelly em muito parecia-se com Marcela e Bianca apreciava isso - Estou tão feliz.

-Eu também, Boca Rosa - disse igualmente animada - Precisamos comemorar. E você paga, porque a empregada agora é você!

Bianca riu, Gizelly era ridícula. Mas ela a amava.

-Vamos ao Deck, às 20:00. - desligou ao ouvir um ok da amiga e concentrou-se no chocolate.

Bianca lembrou de como a garota a segurou quando ela achava que iria desabar, Gizelly esteve ao seu lado desde o começo e sabia o quão quebrada a carioca chegou ali.

Ela não esperou que Rafaella a procurasse, sabia que ela iria, no sábado estava voando para São Paulo e não voltou desde então, nem sequer no natal. O que fez a mãe visitá-la. Bianca tinha uma coisa guardada e era mágoa o nome. Ela sentia-se idiota por jogar tão alto seu coração por alguém que não fosse segurá-lo. Ela evitou tudo que fosse em relação a mineira. Todas as mensagens e ligações foram recusadas. Depois de dois meses ela falou com Manu, sabia que a menor não tinha culpa de nada, e garantiu que ela soubesse disso. Mas com o trato de que ela nada falasse sobre Rafaella e assim foi feito. Rafaella foi bem insistente, mas ela nunca abriu nenhuma mensagem.

Marcela já era outra história, ela tentou muito fazer com que Bianca ouvisse a garota, mas ela estava irredutível, a humilhação não foi pouca. Mesmo sabendo que a mineira estava morando na mesma cidade e estudando no mesmo lugar, ela procurou esquivar-se de qualquer aproximação que resultasse encontrar com Rafaella. Ela não estava preparada para isso.

Algumas semanas atrás houve uma feira de arte, ela fez questão de passar bem longe do local, o medo de cruzar com os olhos de esmeraldas foi maior que a curiosidade.

Saiu do café decidida a pegar um táxi, o problema era conseguir com um trânsito daqueles. Ficou quase cinco minutos com o braço estendido, quando o mesmo parou ela entrou rapidamente ouvindo um assovio alto do outro lado da rua e isso tirou a sua atenção, Bianca quase desmaiou quando viu Rafaella acompanhada de uma outra garota morena de cabelos longos, elas riam despreocupadas e de braços dados. Como um casal feliz.

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