O tempo

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Há uma grande especulação sobre o tempo e todo o poder que ele exerce diretamente em algo. Seria essa uma verdade ou apenas um consolo aos sonhadores e esperançosos? Somos motivados por acreditar que as coisas serão melhores. Nos agarramos nisso, pois é fácil. Todos precisam de fé em algo para ficar de pé.

Rafaella estava olhando o teto do quarto como se fosse a coisa mais interessante que houvesse. Não era.

Ela queria apenas absorver tudo que descobriu. Mas repassar tudo ainda não era o suficiente. Bianca gostava dela afinal? Era isso? Ela passou todo o tempo ocupada em ignorar a carioca e suas amigas idiotas que nunca notou o jeito como ela a olhava, até a maldita aula de literatura que era a única que elas tinham em comum além de química. Essa lembrança veio como um furacão.

- Como vocês sabem hoje é o dia da leitura de poemas e eu vou esperar pacientemente que alguém venha ler, ou irei chamar alguém que eu sei que não fez.. - Rafaella se encolheu pedindo silenciosamente que alguém lesse, ela não tinha feito, não tinha uma grande habilidade com as palavras como tinha com os desenhos - Pois bem - senhorita Assis disse depois de algum tempo - Odeio fazer isso - ironizou - Acho que Kali..

-Eu leio - todos olharam em direção a Bianca, inclusive Rafaella. Que estava incerta do motivo que a carioca tinha para ajudá-la - Posso?

-Andrade! Surpreenda-nos!

Todos em exceção da professora estavam boquiabertos com a decisão de uma líder ler um poema que supostamente ela fez. Bianca caminhou até a frente da sala no pequeno oratório e mesmo nervosa limpou a garganta e começou.

- Somos atraídos por linhas finas

Linhas que nos ligam invisivelmente a outra pessoa

Somos ligados, conectados

Temos a necessidade de sermos

Todos o dias essas linhas se fortalecem

Mesmo que a vontade seja rompê-las

Não podemos..

Estamos ligados em nossa alma a pessoas inesperadas - nesse momento o olhar de Bianca antes baixo cruzou com o de Rafaella e ela não ousou desviar - A vida é composta de linhas, que nos ajudam a encontrar o caminho, nosso caminho, nosso lar

Somos como pontos mal dados

O tempo nos molda

E ficamos exatamente como esse alguém que nos é ligado precisa

Cabemos uns aos outros quando estamos preparados para isso

O tempo é a resposta

Pois as linhas nunca se rompem.

O silêncio era a única coisa que se ouvia, ninguém ousava dizer nada. Nem mesmo o mais engraçadinho, a professora olhava com orgulho para a carioca e Rafaella só queria entender o que foi aquilo.

-Obrigada, Bianca.

Ela se sentou e Rafaella passou o resto do dia olhando-a, pensando em como ela poderia ser essa pessoa que lia um poema como se fosse a coisa mais natural, de uma forma tão linda e ao mesmo tempo uma idiota cercada por mais idiotas insensíveis.

Isso aconteceu um mês antes, foi aí que ela finalmente teve curiosidade sobre Bianca. E com isso ela notou que a mesma a olhava diferente em muitos momentos. Na aula de química ela sentava exatamente em frente Bianca e sentia o olhar da garota nela. No começo era um coisa incomoda, mas depois virou quase uma obsessão descobrir o motivo.

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