Capítulo 20 - Novas Lembranças

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Camila Cabello  |  Point of View






Lauren é uma pessoa muito triste, mas todas as manhãs do dia onze fica ainda mais. Ela fica no quarto dela, o dia todo, como se fosse um ritual para lembrar do dia em que foi sequestrada.

São quatro horas, o sol ainda não nasceu e eu estou na frente dos portões da exagerada mansão dos Jauregui’s. Estou tremendo de nervosa, realmente, preciso pisar em ovos com Lauren, não posso afugentá-la, mas não posso ver ela se afundar ainda mais no caos das próprias lembranças.

O segurança já tinha ordem de me deixar entrar e não me seguir até a porta. Eu tinha a chave e total confiança dos Jauregui’s e havia os avisado sobre o que queria tentar. Meus cumplices já me esperavam, com uma cesta enorme de café e Pat com a ansiedade de um vestibulando em dia de prova.

— Bom dia.

— Bom dia, Camila. – Acalorados como sempre, me abraçaram fortemente em cumprimento, então Pat pulou no meu
colo, ele já está com nove anos e duvido muito que ele perca esse costume tão cedo.

— Como passou a noite?

— Bem. Quero logo ir lá.

— Bom... Para isso você precisa convencer a sua mãe.

— Sim. Eu sei, já vou ir lá. – Ficamos conversando, um bom tempo, logo Pat veio enxugando o rosto. — Pronto, Papa. Eu chorei como a vovó mandou. – Olhei para ela que apenas deu os ombros e me entregou a cesta.

Fui para o carro e organizei a cesta ali. Demorou um pouco, mas eles apareceram. Lauren não tinha jeito de que queria ir, foi mais para o Pat parar de chorar.

— Oi, Lauren. Eu queria mostrar uma coisa a você e usei seu filho e seus pais para isso.

— Camila... Eu estou puta com você e não espere meu melhor humor hoje. – Assenti e abri a porta do carro para ela. Depois para o Pat e entrei no carro, dando partida e entregando os copos com chocolate quente que havia trazido para eles.

— A viagem vai demorar um pouco, trouxe chocolate para vocês se entreterem. – Lauren pegou os dois copo e entregou um para o filho.

Dirigi ate a casa de Nicole e Adônis me esperava sentado no muro. Ele e Pat não pararam de falar até eu desligar o carro.

— Podemos pegar um bolo, Mãe? – Adônis perguntou mexendo na cesta.

— Claro. Pode pegar algo, Lauren. Já chegamos. – Ela olhou ao redor e me encarou.

— Você me tirou de casa pra comer dentro de um carro no meio do nada?

— Sim. – Eu disse sorrindo e ela bufou.

— Me leve para casa, Camila.

— Vou levar você... – Olhei no relógio. — Se daqui a dez minutos você ainda quiser ir embora, levarei você. Coma alguma coisa. – Ela relutando aceitou o sanduiche que entreguei a ela. Os meninos saíram do carro depois que comeram e Adônis sentou na pedra enorme que havia ali. Estamos mais que acostumados a vir aqui, por isso Pat estava empolgado.

O sol começou a nascer, revelando a paisagem aos poucos. Lauren ficou olhando por um tempo sem piscar, depois saiu do carro e ficou na frente dele. Sai também e fiquei ao lado dela.

— Isso é fascinante.

— Deveria tirar esse capuz... Esse ventinho está revigorante. Deixe o sol tocar sua pele. – Ela me encarou e depois voltou a olhar para a paisagem.

— Camila... Eu não quero que ninguém se sinta atraído por mim. Não quero dar chance de algo ruim ocorrer se eu explorar muito minha vaidade.

— Lauren, você é linda, não importa o quanto se esconda, eu acho um charme esse moletom, na verdade. Não tem como você ficar “feia” e ninguém mais vai te fazer mal porque eu cheguei. Eu estou aqui para te proteger, só estamos nós quatro aqui, não se sinta culpada por ser linda. – Ela ficou me encarando por um tempo e depois voltou a olhar o horizonte, quanto mais o sol nascia, mais lindo ficava.

Ela tirou o capuz e me escorei no carro, ela foi lá dentro e pegou um café, me entregou um e ficamos em silêncio, enquanto os meninos discutiam sobre algo, que eu não estava prestando muita atenção, pois Lauren era mais tentadora a mim que qualquer outra paisagem daquele lugar.

— Esse lugar é lindo.

— Você me disse que detesta a praia, eu venho sempre aqui com os meninos para brincarmos com o drone do Adônis.

— É lindo mesmo. – Adônis deve ter escutado e tirou o drone da mochila e ficou revezando com Pat para controlar o mesmo. – Eu não conhecia esse lugar.

— Tem mais lugares assim, mais parques, mais coisas para fazermos, Lo.

— Esse dia ficou marcado para mim. Hoje é dia onze, sabia? – Virei para ela.

— Eu sei, Lauren. Por isso escolhi esse dia, agora você vai ter mais uma coisa para pensar quando ficar triste. É isso que eu vivo te falando, Lo. Crie novas lembranças, lembranças boas com pessoas que gostam de você. Só assim você vai apagando a intensidade das ruins. Não estou dizendo que você vai esquecer o que passou, mas pelo menos, não vai se afogar nela ao ponto de não poder mais se salvar.

— Não é simples.

— Se arrependeu de ter vindo?

— Não.

— Viu? Precisa dar uma chance pra você. Você nunca saberia se não tivesse vindo, as vezes você só precisa tentar, se não gostar, lógico que eu te levo pra casa na mesma hora. Seus pais fariam o mesmo, mas gostamos muito de você, Lauren e não queremos ver você se entregue sem lutar um pouco.

Ela ficou me encarando por um tempo e depois olhou para o horizonte. Ficamos em silêncio, eu já estava com medo de ter a magoado ou a irritado.

— Eu vou fazer uma coisa, mas você não pode me tocar, ok? Não tente me abraçar.

— Tudo bem. – Ela se arrastou um pouco no carro e se aproximou, deitando a cabeça no meu ombro. Meu coração parecia que ia saltar pela boca de tão forte que batia. Ficamos assim um pouquinho e depois ela se afastou,

— Ainda não.

— Tudo bem. Estamos indo bem.

Ela sorriu pra mim. Deixou sua mão ao lado da minha e ficamos admirando a paisagem enquanto tomávamos café.

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