Capítulo 99 - Seguindo

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Lauren Jauregui  |  Point of View






Abri meus olhos pela manhã e fiquei encarando o teto, nosso quarto nunca ficava escuro por completo, Camila nunca permitiu isso, pois ela tinha medo que eu acordasse sem ter a mínima ideia de onde estou, isso traria lembranças.

Viro o rosto e ela está dormindo, sua mão está sobre a minha, a outra está sobre a própria barriga, ela tem a boca levemente aberta e resmungava um pouco, ela diz que não, mas algumas vezes conversa no meio do sono. E sim! Isso é extremamente adorável, como tudo nela é.

Hoje será a reunião das vítimas, os nossos psicólogos estavam se comunicando e acharam que seria um meio de encerrar o processo e eu estou com medo, por mais que a psicóloga tenha dito que é normal ficar com medo, não quero regredir nenhum passo, demorei muito para chegar aonde estou. Ela disse que nos sentiremos aliviadas com tudo.

— Bom dia. – Camz disse me abraçando. — Acordou mais cedo que eu. Que milagre.

— Fique o dia inteiro com sua filha para ver como vai amar estar descansando o esqueleto em uma cama dessas.

— Ela é...

— Hiperativa. Quando fizer seis meses provavelmente vai caminhar por toda a casa. – Ela sorriu contra o meu pescoço.

— Você está bem?

— Pensando em como será.

— Vai ser bom. A psicóloga garantiu isso.

— Bom... Assim espero. – Ela ergueu o rosto para me encarar. — Vou me arrumar. – Dei um selinho nela e sai da cama.

— Vou acordar os meninos. – Ela levantou. — Meu pai vai vir ficar com eles.

— Tudo bem.

Levantei e fui para o banho, Camila escovou os dentes e lavou o rosto, logo eu estava sozinha ali.


×××


Quando estávamos saindo, Camila pegou nossa filha e a mochila dela.

— Seu pai não vai ficar com eles?

— Você não vai levar ela?

— Mas eu não...

— Pensei que seria bom, você mostrar que está bem e construindo uma família. Seria um pouco mais de esperança.

— Por esse lado você está certa.

Ela assentiu e fomos para o carro, cumprimentei o pai de Camila, ele sempre sério e depois entrei na garagem.

— Deve ter café por lá, não é? – Ela perguntou e eu dei os ombros.

— Não sei como funciona.

— Se não tiver vou ter que sair para comprar. – Neguei.

— Muito café faz mal.

— Mas pela manhã é essencial. – Revirei meus olhos e segurei a mão dela que repousava sobre sua própria coxa.

— Já disse que é para dirigir com as duas mãos no volante.

— Ai Lo.

— Seja responsável. – Ela revirou os olhos e colocou a mão sobre o volante. Logo estava na frente do salão de eventos da cidade. Camila pegou a mochila, nossa filha e minha mão para entrar lá.

O grupo era grande, nós convivemos e passamos pelas mesmas coisas, mas não víamos nossos rostos. Então... Fora a falecida Vero, não me lembro de ninguém.

— Podem se sentar. – Uma das pessoas em meio ao círculo falou.

— Olha a moça do quadril quebrado. – Camila falou sorrindo, feliz em vê-la. — Ela está bem. – A moça estava em uma
cadeira de rodas, mas mesmo assim tinha um sorriso no rosto.

— Estamos muito felizes por terem aceitado esse encontro. – De ser os psicólogos de todos que estou reunidos ali no centro. – Após um tempo de diálogo que não vai ser contado para não atrapalhar o andamento da reunião, teremos um intervalo para o coffee break.

— Graças a Deus.

— Camz! – Ela sorriu e se inclinou para selar nossos lábios. Wellen agitava os bracinhos no colo de Camila.

— Posso pegar ela um pouquinho? – Minha psicóloga disse e eu assenti. Camila entregou ela e a mesma voltou para o centro da roda. — Alguém quer começar?

— Eu não sei muito bem o que devemos fazer? – Uma moça falou.

— Queremos que vocês compartilhem histórias da vida de vocês como está agora.

— Bom... Meu nome é Lena Burns, tenho vinte e dois anos e estou cursando engenharia. – Murmurinhos começaram. — Eu namoro há dois meses com meu melhor amigo... Bom, ele me ajudou e esteve no meu lado desde que voltei, então... No meu jantar para comemorar aprovação, ele me pediu em namoro. – Ele segurou a mão dela. — Só que machucaram meu útero e não poderemos ter filhos biológicos, mas vamos adotar um quando nos sentirmos bem. Perfeito, Lena. Isso é muito bom, sempre devemos ressaltar o lado bom. Alguém mais? – Wellen parecia extremamente a vontade no colo da psicóloga.

— Olá. – A moça da cadeira de rodas falou. — Me chamam muito de milagre, pois consegui sobreviver a uma situação extrema. Às vezes me falam “coitadinha, está presa em uma cadeira de rodas” Céus! Isso é uma tolice tão grande, se soubessem o quanto estou feliz por ter essa oportunidade. A cadeira é o de menos, eu sou livre e dona das minhas vontades, confesso que as vezes eu fico irritada, mas logo me corrijo, não... isso foi necessário. Você está ótima. Começaram a aplaudir a moça e eu estava um pouco emocionada com o discurso dela. Era bom ver que todas estavam se reerguendo.

— Olá, meu nome é Amanda Miller, tenho vinte anos e enquanto terminava meus estudos diz um curso online de informática e criei um site, onde posto banners de auto ajuda para vítimas de abusos, trafico infantil e exploração.

— Nós todos usamos seus banners com todas elas, todos foram criados por ela, em uma linguagem que é melhor de entender... a de vivência.

— Sim, agora meu site é patrocinado, estou com banners em plataformas famosas, então provavelmente você vão ver meu nome pelas plataformas aí. Estou juntando dinheiro para entrar na faculdade.

— Perfeito, Amanda.

— Só para relacionamentos que não me sinto pronta.

— Tudo tem seu tempo. – Mais murmurinhos. — Lauren. Você gostaria de falar um pouco? – A minha psicóloga me entregou Wellen e eu assenti.

— Meu nome é Lauren Jauregui.

— Eu tenho o seu livro. Você é incrível, mulher. – A moça da cadeira de rodas disse e eu sorri.

— Obrigada. – Todos começaram a me falar que adoraram meu livro e eu fiquei super feliz com aquilo. — Essa é minha filha... Wellen. Se vocês leram o livro devem saber que estou construindo uma vida nova com a agente que nos resgatou. Juntamos nossos filhos, depois nossas coisas e depois nossas almas e agora temos esse anjinho aqui. Camila me compreendeu como ninguém por ter visto toda a situação de perto. Meus pais e ela foram essenciais... E ela conseguiu achar o filho que tive enquanto estava em cativeiro. Hoje ele tem onze anos e está se curando como eu. Acho que estamos indo bem e me sinto melhor a cada dia. Fiquei muito tempo sofrendo por meus medos, mas faz parte do processo. Como Camila vive dizendo, eu sou a protagonista da minha história. Só eu... E vocês são da de vocês. Começamos por esse raciocínio e logo tudo estará melhor.

Mais aplausos e Camila beijou minha mão. Logo mais depoimentos, mais choros, mas sai dali melhor... foi bom saber que não sou a única. Todas estamos seguindo em frente da maneira que podemos.

REMOnde histórias criam vida. Descubra agora