Capítulo 23 - Saudade

2.6K 242 26
                                    

Camila Cabello  |  Point of View






Estava com Doninho com a cabeça repousando no meu colo, passava as mãos pelos cabelos extremamente curtos dele.

— Sua mãe aprovou o corte? – Ele sorriu.

— Disse que vai te enforcar, mãe. – Gargalhei.

— Imaginei, mas está ótimo. Você está um gato.

— Ela disse isso também, que sou lindo como você, não adianta me auto sabotar. – Neguei e beijei a testa dele.

— Como está ela? Feliz? Bem?

— Sim. Ela voltou a dar aulas.

— Eu sei, por isso tens ficado mais aqui comigo.

— Isso é muito bom. Ficar um tempo com vocês duas, mas eu queria morar aqui.

— Eu sei, amor, mas você sabe como é o meu emprego, do nada eu sou chamada e não posso te deixar sozinho por muito tempo porque se alguém descobre, Nic e eu nos encrencamos.

— Eu sei, mas a mãe disse que quando você se casar, vou poder morar com você.

— Vai mesmo, mas não sei se vou me casar novamente, filho.

— E a Laur? – Encarei os olhos azuis que me fitavam curiosos.

— Ela não quer casar, filho. Ela nem consegue abraçar ainda.

— O que houve com ela, mãe?

— Ela foi sequestrada quando era mais nova e eu resgatei ela. Só que fizeram muito mal a ela e agora ela não consegue ter contato com as pessoas. É difícil para ela, mas não comente nada com ninguém, ok? É um assunto delicado. Nem o Pat sabe direito o que aconteceu.

— Porque o P odeia tanto o pai dele? Odiava, ele morreu.

— Foi o pai dele que fez as coisas ruins com Lauren, mas eu não sei se ele chegou a acompanhar alguma coisa, pois ele era muito novo.

— Bom... ele odeia bastante o cara, algo ele deve lembrar.

— Ele nunca comentou nada comigo. – Falei e beijei a testa dele. — Mas eu quero saber de você... Quando vou conhecer minha nora?

— Para, mamãe. Eu não tenho namorada.

— Ainda não? Um deus grego legitimo não tem namorada ainda?

— Não. Minha mãe disse que eu não posso namorar até os vinte e não posso conversar muito com as professoras também. – Soltei outra gargalhada.

— Ela era minha professora, sabia?

— A mãe?

— Sim. Ela era minha professora de filosofia e depois que eu fiz dezoito nós começamos a namorar.

— Isso explica muita coisa. – Ele disse sorrindo e eu apertei no nariz dele.

— Mas estou brincando com você, sei que é cedo ainda.

— Eu nem penso em namorar, só quero jogar vídeo game e ficar com você e a mamãe. – Segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos.

— É um ótimo pensamento. Que tal jogarmos algo?

— Seria incrível.

— Mas nada com tiros, essa semana foi cheia para mim.

— Futebol?

— Futebol! – Ele levantou e eu peguei o telefone. — Vou pedir umas pizzas.

— Não tem refri, mãe.

— Tem no meu carro. Vou lá pegar.

Ele assentiu e eu desci as escadas, e no parabrisa do carro tinha um envelope.

— Droga! Como eu não vi a multa antes. – Peguei e coloquei no bolso.

Peguei o fardo e coloquei no ombro, o engrado de latas com a mão livre. Eu preciso de estoque de refrigerantes, minha rotina é muito agitada, eu preciso ingerir muitas calorias diárias, refrigerante é o meio mais rápido para isso, já que não tenho muito tempo para cozinhar ou até mesmo ir a restaurantes.

Subi as escadas e coloquei alguns para gelar e peguei o envelope.

— O que é isso, mãe?

— Acho que é outra multa. Se eu não fosse oficial não teria mais minha habilitação.

— Elas vem em envelopes?

— Sim. Quando tem várias acumuladas. – Ele assentiu e eu abri o envelope, mas ele não era multa, era uma carta mesmo, escrita à mão.

— Não é multa, né?

— Não.

“Agente Cabello,

Vi seu empenho no caso do escorpião, mas deixaste um fio solto. A morte dos líderes não extinguiu a organização por completo, sobrou um membro e ele já está organizando um novo lugar e já tem meninas em posse. Ele é bem mais perigoso, mais inteligente e se camufla muito bem na sociedade. Se eu fosse você, não confiaria em ninguém, pois ele está bem mais perto do que imagina. – Desconhecido”.

— Que porra é essa?

— O que houve, mãe?

— Me desculpe, filho. Problemas no trabalho, amanhã eu penso isso.

O amanhã penso nisso soou bem falso, pois não parei de pensar nisso um só segundo, mas disfarcei para isso não atrapalhar a noite do meu filho.

×××

— Mamãe? – Olhei para Doninho e ele me encarava. — Tio Mike no telefone, seu celular só dá na caixa postal ele falou.

— Aconteceu alguma coisa? – Falei correndo para a cozinha. — Mike? Aconteceu alguma coisa? Lauren está bem?

— Sim, Camila. Desculpe ligar essa hora, mas o Pat está muito triste e não conseguimos animar ele. – Levei a mão ao peito. Que susto.

— Estamos indo para aí. – Desliguei e tomei uma água. — Se veste, filho. Vamos dar uma força para o Pat.

— Tudo bem, mamãe.

Nos arrumamos e fizemos uma mochila. Logo estávamos lá.

Entramos no quarto de Pat e se podia ouvir o chorinho dele. Fiquei de coração apertado.

— Meu garotão! Porque está assim?

— Tô com saudade da mama, Papa. – Doninho e eu deitamos um de cada lado dele.

— Não fica assim, P. logo ela volta.

— Mas já faz um tempão e eu estou com saudade. E eu não gosto de falar no telefone, é diferente.

— Vou confessar uma coisa.

— O que, papa?

— Eu também estou morrendo de saudade.

— Então vamos buscar ela, papa. O vovô não quer ir.

— Não podemos, pequeno. Eu sei que a saudade dói, mas ela está se tratando para vir melhor para nós. Mais feliz.

— Mais feliz?

— Sim.

— Ela vai sair mais com a gente?

— Talvez, mas precisamos deixar ela mais um tempo lá, okay? Enquanto isso vamos ficar aqui, cuidando uns dos outros, tudo bem? Não fique triste, a saudade vai fazer a volta dela mais festejada.

— Vamos ao parque juntos?

— Vamos tentar.

O abraçamos e depois ficamos conversando sobre os nossos jogos e Pat fez prometer que a noite seria igual e com ele na próxima vez.

REMOnde histórias criam vida. Descubra agora