Lição 2: resiliência

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Nas primeiras horas na solitária, Dakota, encharcada, fez flexões. Trazia uma enorme adrenalina e raiva dentro de si. Queria gritar, lutar, fazer justiça.

No entanto, com o passar das horas, os músculos foram cedendo. Tudo doía, mesmo a alma. Sentia-se congelada e sozinha. Não sabia que horas eram ou há quanto tempo ali estava. Tornava-se difícil respirar e perceber quais os sons que eram reais e quais eram imaginários.

Sabia que tinha de se manter acordada, pelo que cantarola baixinho.

-Animada, hm?-ela ouve.

Reconhece a voz de Ashton e solta-se do edredom da cama. Deita-se no chão a muito custo, na tentativa de ouvir os passos e perceber se estaria ou não a imaginar.

-Ashton?... és real?-ela sussurra. O instrutor olha pela pequena janela da cela.

-Mr. Irwin, para ti. Claro que sou real. Cobre-te com a manta.

-Se não fosses real era precisamente isso que dirias para eu acreditar que... és real.-ela sussurra.

-O que raio estás a dizer? Estás a enlouquecer. Vou dizer ao diretor.

-Não.-ela nega e olha o teto. Estica o braço e faz desenhos com o dedo no ar.-Ele vai achar que não estás focado o suficiente em salvar a América.

O homem pára de andar: ela estava a... protegê-lo? Dakota tinha razão e sabia-o. Ashton tinha que esperar até as 17h para formar 48 horas de castigo e Dakota poder ser libertada.

-Ashton?-ela chama e o homem tenta ignorá-la, mas é doloroso ouvir alguém a perder a cabeça.-Não sei se estás aí mas tens olhos bonitos. Verdes. Nunca vi esse tom de verde em alguém. Mas também nunca olho nos olhos de quem mato porque não tenho coragem. Por isso... Não saberia dizer se já vi essa cor.

Ele fecha os olhos na tentativa de bloquear a distração, mas ouve-a cantarolar. Quando pára, Ashton olha automaticamente pela janela, alarmado. Ele chama:

-4?

Ashton suspira e, certificando-se que ninguém o vê, entra na pequena cela. Ele repara nos olhos fechados de Dakota e na sua palidez. Tenta acordá-la mas nada resulta, pelo que toca levemente no seu rosto.

-Pára de me bater.-ela ordena, num sussurro.

-Não te estava a bater. Estás congelada.

Ashton coloca a manta por cima de Dakota e afirma:

-Vá lá, já aguentaste 46h. Falta pouco para terminar.

-Não consigo pensar.

-Eu sei.-ele afirma.-Vai passar.

-Estás mesmo aqui?

Ashton toca no seu braço e Dakota fecha os olhos, comentando:

-Estás quente. Vou morrer, Ashton.

-Pára com isso. Falta pouco. Vá lá.

Ashton volta a fechar a pequena cela e regressa à sua posição em frente à mesma. Nunca mais ouviu nada e ela não se mexia. Faltava apenas meia hora para o final do castigo e Ashton olha o relógio, impaciente. Era apenas meia hora. Provavelmente o tempo que demoraria a soltar Dakota e esta a regressar ao seu dormitório. Certo?

Ele decide abrir a cela e anunciar:

-Estás livre.

Dakota não se mexe nem fala. Ashton aproxima-se, incomodado, e afirma:

-Sai antes que mude de ideias.

Silêncio.

Ashton aproxima-se e toca no seu pescoço: a pulsação era fraca. Ele despe o seu casaco e veste Dakota com o mesmo. Rapidamente a coloca aos braços e carrega até ao seu dormitório. A mão dela toca na cara do homem, procurando calor.

Fleur assusta-se ao ver o instrutor entrar no dormitório. Ele ordena:

-Puxa os cobertores da cama para trás e põe os teus também.

A rapariga obedece de imediato, preocupada, e deita-se a lado de Dakota, esperando que o seu abraço a aqueça e a traga de volta à vida.

Ashton abandona o dormitório, incomodado. Gostava que houvesse algo mais que pudesse fazer mas acreditava mesmo que Dakota não fosse sobreviver. Ao menos deixá-la-ia morrer em conforto.

-Je ne suis pas en colère (eu não estou zangada).-Fleur sussurra a Dakota.

Fleur sabe agora que existem pelo menos duas pessoas naquele buraco com coração: Dakota e Irwin.
Dakota era irritante mas não hesitou em salvá-la, mesmo que isso custasse a própria vida.
E Ashton... bem, as coisas pareciam estar encaminhadas.

Victims Of Authority [afi/lrh] TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora