Sacrifícios 2

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Dakota estava entusiasmada por o seu plano estar a correr bem. Hoje tinha decidido avançar no trabalho com Michael.

-Então, o que queres que faça?-ele questiona, preparando o seu computador.

-Consegues... Não sei, aceder à Internet sem ser apanhado?

-Vou fingir que essa foi uma pergunta retórica e que não me chamaste amador.-Michael comenta, revirando os olhos.

-Sei lá, Mike, às vezes mal consigo ligar o raio do computador.

-Eu sei, Dakota.-ele lamenta fazendo-a revirar os olhos.-Eu sei.

Michael tecla rapidamente e, após uns minutos, sorri. Ele mostra o ecrã e anuncia:

-Vês? Fácil. Sem restrições. O que queres pesquisar?

-Não sei, hm... podemos ver um jogo de futebol, por exemplo?-ela questiona.

-Claro. Olha. É em direto.

Dakota olha o ecrã maravilhada. A sua cabeça enche-se de ideias e diz a Michael:

-Tenho de mostrar isto a Fleur. Espera aqui.

A rapariga abandona a sala de trabalho e corre até ao seu dormitório, onde Fleur atirava facas contra a parede.

-Fleur, tens que ver isto.-Dakota chama.-Michael está a passar no computador um jogo de futebol em direto. Noutra parte do mundo. É de doidos!

Fleur revira os olhos. Lá estava Dakota a dar-lhe esperança e a ter ideias revolucionárias que nunca aconteceriam.

-Ouve, eu sei que estás reticente acerca do meu plano para nos tirar daqui.-Dakota admite.-E é perfeitamente compreensível: estaríamos a brincar com o fogo mas talvez conseguíssemos liberdade. Apenas... vem ver o jogo. Sei que vais sentir o mesmo que eu.

Fleur volta a negar e Dakota finalmente perde a paciência:

-Okay. Eu queria fazer isto contigo mas não posso obrigar-te. Se eu avançar com este plano sem ti prometes-me não denunciar-me?

A colega de quarto assente e Dakota não deixa de sentir alguma tristeza. Ela precisava de Fleur.

Uns sons de dor alertam as duas raparigas e espreitam para o andar de baixo. Um rapaz estava a ser pontapeado por vários instrutores, e todos, incluindo Mr. Marshall, observavam.

Esse rapaz era Michael.

-Mike?...-Dakota chama em pânico e corre até ele.-Michael!

Uns instrutores agarram-na, impedindo-a de se envolver. Mr. Marshall finalmente fala:

-Isto é o que acontece quando tentam quebrar as nossas restrições online. Não pensei que fosse ter este tipo de problema consigo, 100.

Michael não responde e Dakota luta por sair do aperto em que a seguram, de lágrimas no rosto e coração partido.

-Larguem-me! Ele não está a responder ou a mexer-se!-Dakota grita.

Os instrutores continuam a espancar o rapaz, cobrindo-o em sangue. Finalmente Dakota dá um pontapé no meio das pernas a cada um dos instrutores que a seguram e corre até Michael, colocando-se entre eles e os agressores tentando proteger o amigo.

-ELE É APENAS UMA CRIANÇA.-ela grita, sem conseguir controlar o choro.-TUDO O QUE ELE QUERIA ERA VER FUTEBOL!

-Párem.-Mr. Marshall ordena e os agressores obedecem.

A tremer, Dakota abana suavemente o amigo, tentando obter alguma resposta dele. Ela segura o rosto de Michael e procura sentir a pulsação no seu pescoço. Ashton tem os olhos arregalados: pela reação de Dakota, nada disto era suposto acontecer. Ela era sempre tão metódica e causava a Ashton aflição ao vê-la desamparada a lidar com a incerteza e medo.

-Mike?-ela chama.-M-Michael, acorda. Ele não está a respirar.

Dakota olha em volta, e ninguém se mexe. Ela grita:

-PORQUE É QUE NINGUÉM FAZ NADA?!

-O número 100 tem que aprender que as suas ações têm consequências.-Mr. Marshall afirma.

Dakota chora, sem saber o que fazer. Tenta carregá-lo até à enfermaria mas é demasiado pesado. Ela finalmente olha o botão de pânico. Este era um botão inserido na parede, que servia para emergências. Ao pressioná-lo, todo o edifício entrava em confinamento. No entanto, ninguém carregava no botão pois implicava que todos os intruendos  ficassem trancados nos quartos por horas, até que todo o edifício fosse verificado e nenhum perigo fosse encontrado. Naquela unidade, cada problema era resolvido entre as pessoas envolvidas, sem nunca envolver instrutores ou fazendo queixas.

Assim, Dakota, coberta no sangue de Michael, corre até lá e toca no botão. Ashton finalmente acalma-se, ao ver que ela recuperou o controlo daquela situação horrenda. Uma sirene alta faz todos tapar os ouvidos. A equipa médica sai do gabinete e olha Michael, aguardando indicações por parte de Mr. Marshall. A guerra entre Marshall e Dakota ainda não tinha vencedor, e Ashton não consegue evitar falar.

-Senhor.-ouve-se e ela reconhece a voz de Ashton.-Segundo o artigo número 34 do regulamento aplicado nesta unidade, "qualquer elemento que necessite de apoio deverá beneficiar do mesmo caso o botão de pânico seja acionado".

-... levem-no.-Mr. Marshall decide e Michael é transportado para o gabinete médico.

Dakota fecha os olhos, aliviada, e logo Fleur a abraça, tentando acalmá-la.

-A ver futebol, hm?-Mr. Marshall ri, sem humor ou paciência.-Pensam que isto é um hotel?! Que fazem o que querem e o que vos apetece? Vocês são propriedade da América. Porque raio vos interessaria saber o resultado do jogo?! Vocês não vão sair daqui, nunca. Párem de sonhar com liberdade, direitos, e outras merdas! Vocês pertencem-me. Estou farto. As coisas vão mudar por aqui. Dispersar.

Fleur dá o braço a Dakota e ambas caminham para o dormitório. A rapariga ajuda a amiga a mudar de roupa, e Dakota acaba por chorar desalmadamente:

-É tudo culpa m-minha, devia ter sido eu e não Michael! Merda, F-Fleur, odeio-me. Odeio-me por ter começado isto. Odeio-me por não te ter dado ouvidos. Odeio-me por...

Fleur cobre a boca de Dakota com a mão, impedindo-a de falar. Ela escreve: "conta comigo. Não lhes pertencemos"

-Não.-Dakota sussurra.-Não posso fazer isto outra vez.

Fleur nega com a cabeça, tentando convencer a amiga, mas não consegue.

-Eu ser a idiota aqui. Não toi (tu). Ninguém vem salvar nós.-Fleur esforça-se por dizer e Dakota olha-a, surpresa.-Quero ajudar.

Dakota agarra a mão de Fleur e beija-a, garantindo:

-Está bem, eu... eu vou tentar. Mas preciso que me ajudes a não falhar. Preciso de ti, vês coisas que eu não vejo porque tudo o que quero é vingança. Não vou deixar que nada te aconteça.

Bom, Dakota certamente sabia fazer sentir alguém especial. Ashton que o diga.

Victims Of Authority [afi/lrh] TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora