Fleur tinha-se livrado do chip de Devon ao colocá-lo na boca dele quando finalmente tiraram o corpo enforcado do centro da sala. Não precisavam de instrutores a bisbilhotar a conduta do ar por verem que o chip de Devon se encontrava ali, ativo ainda.
Dakota pôde finalmente rezar por Devon e prosseguir com o luto. Mr. Marshall tem andado mais calmo, e a ordem tinha sido instaurada de novo. Acreditavam mesmo que Devon agiria sozinho e que a ameaça teria desaparecido. O homem caminhava agora pelos corredores, vendo os seus instruendos treinar. Este era o projeto da vida de Marshall e tinha bastante orgulho nele.
-4.-ele chama.
Dakota não responde, distraída com o combate com Luke. Raramente lhe chamavam pelo número agora.
-4.-Mr. Marshall insiste e Luke bate-lhe com mais força propositadamente. Tal faz Dakota quase embater no diretor, precisamente como Luke planeara.
-Mr. Marshall. Desculpe. Estava concentrada. Como está hoje?
-Estou bem, obrigado.-o diretor responde.-Queria falar contigo, 4.
-Claro. Em que posso ser-lhe útil?
-Bem, é acerca da tua última missão. Com Mr. Irwin.-o homem informa.-O corpo de um instruendo foi encontrado perto da área em que estavam a agir.
Merda.
-Eu não o fiz.-Dakota diz imediatamente.
-Eu sei. O que queria saber era se Mr. Irwin o fez. Testemunhas descrevem que quem esfaqueou o instruendo era um homem, nos seus 20 e poucos anos, loiro, acompanhado por uma rapariga. Mr. Irwin fê-lo?
Dakota não sabe muito bem como passar naquele teste pelo que permanece em silêncio.
-4, como sabes, preocupo-me muito com esta unidade.-ele afirma.-Admiro que não entregues Mr. Irwin sem pensar duas vezes: normalmente os intruendos acusam os instrutores para os fazer pagar por algum castigo. No entanto, preciso de saber, 4.
-Eu... Mr. Irwin sempre foi justo para comigo e...
-Tal como deveria.-o diretor comenta.-Não conheço os motivos para a morte desse instruendo mas... preciso de corrigir o erro. Preciso que sejas justa para com este instruendo.
Dakota olha o chão, incomodada, e finalmente fala:
-Sim. Mr. Irwin esfaqueou-o no pescoço.
-Porquê?
-Não sei.-ela mente.-Foi tudo muito rápido e... talvez Mr. Irwin se tenha apercebido de uma potencial ameaça e eu não. Desculpe, Mr. Marshall. Não lhe contei porque assumi que Mr. Irwin estivesse a... seguir alguma ordem sua.
-Compreensível. Obrigado, Dakota. Pela lealdade.
Dakota não sabia se tinha sido idiota ou perspicaz: por um lado, se perdesse Ashton, talvez não conseguisse sair dali. Por outro, se não mostrasse lealdade a Mr. Marshall, talvez não acordasse viva no dia seguinte.
O diretor prossegue:
-Admito que começava a duvidar da tua lealdade... tentaste salvar o número 1 (Fleur) na piscina, protegeste o 100 (Michael) do seu castigo...
-Mr. Marshall, sabe que gosto de viver e não de sobreviver.-Dakota começa.-Para me movimentar neste bunker com mais 99 personalidades fortes e obter o respeito que mereço, preciso de aliados; pessoas que me protegem e me contam o que ouviram, enquanto eu o faço de volta. As minhas reações e ações são em prol disso.
-Sabes que sempre foste a minha favorita porque fazes o que tens de fazer. Não olhas a meios para atingir os fins. -Marshall afirma.-Depois deste fiasco com o número 17 (Devon) em que parei meio mundo para o procurar, um dos originais, percebi que deveria valorizar mais quem sempre esteve lá para mim. Assim, vou dar-te objetivos maiores e maior margem de manobra. Vou destacar-te a ti, ao 35 e ao 1 para missões mais complexas.
Dakota mostra agradecimento mas reconhece segundas intenções.
-Obrigada, Mr. Marshall. Não o desiludirei.-ela afirma.
-Eu sei.
Quando o homem de afasta, Dakota aproxima-se de Luke e sussurra:
-Vão destacar-nos para missões em duplas ou em triplas. Avisa Fleur. Provavelmente vão vigiar-nos para ver como agimos em grupo, se nos desviamos do objetivo e atraiçoamos. É uma armadilha.
Luke assente e apressa-se a cumprir a ordem. Dakota precisava que Ashton visse o que ela está disposta a fazer por si, pelo que o procura.
Àquela hora, Ashton vigiava a sala de estudo, pelo que, entre os livros, Dakota sussurra:
-Precisamos de falar.
Ashton sorri ao vê-la e segue-a discretamente. Os dois estão agora num ângulo morto da biblioteca. Ele agarra a sua cintura e esconde o rosto no seu pescoço:
-Estás bonita.
-Mr. Marshall vem atrás de ti. Ouvi-o dizer a outros instrutores que sabia que mataste aquele instruendo no dia da minha missão. Parece que testemunhas te descreveram fisicamente em adição ao facto de tanto eu como tu estarmos no exterior nesse dia. Ele perguntou-me se sabia porque o fizeste e neguei para te dar liberdade para inventares algo. Desculpa mas ele já sabia.
Ashton fica claramente mais tenso e larga Dakota. Ele esfrega o rosto cansado e Dakota questiona:
-... odeias-me?
-Claro que não. Fizeste o que tinhas a fazer e protegeste-me. Vem cá.-ele chama e beija-a.
-Tem cuidado, Ash. Preciso de ti aqui.
Ele sorri e assente. Sem se aperceber, Ashton ganhara uma nova motivação ali: proteger Dakota. Ele sabia que seria castigado, mas também sabia que ela estaria lá no final para o confortar.
-Ficarei bem.-ele garante.
-Promete.
-Eu volto para ti.-Ashton promete.-Devias ir.
Dakota abandona a sala e, cerca de uma hora depois, vê Ashton ser arrastado por outros instrutores para a sala de interrogatório. Nesse momento, Dakota sabe que é uma oportunidade única de roubar o cartão suplente de acesso de Ashton sem levantar suspeitas. Ela entrega-o a Fleur, que iria numa missão naquele dia, para que fosse replicado pelos seus contatos e reposto na gaveta de imediato.
Enquanto aguarda o regresso de Ashton para o confortar e talvez convertê-lo à vingança contra Marshall, ela revê os apontamentos que Devon tirara. Tinha saudades suas e queria muito vingá-lo.
Dakota reconhece a morada da sua família e, aparentemente, não vivia muito longe. Irritava-a saber que provavelmente já se cruzou com ela mas não a reconheceria.
Ao investigar melhor o papel, repara num apontamento de Devon. A caneta ameaçava falhar já desde o início do papel e Dakota não conseguiu ler toda a mensagem por falta de tinta.
"Ashton é..."
Ashton é o quê? Foda-se, Devon.
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Victims Of Authority [afi/lrh] Terminada
FanfictionEm que o Governo rouba sonhos de miúdos para defenderem o país. A número 4 finalmente decidiu que prefere morrer na busca pela liberdade do que ficar mais 10 anos trancada naquele buraco escuro, frio e injusto. [Há 2°temporada, é BREAKING YOU]