Sacrifícios

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Dakota sabia que Luke tinha razão: tinha de querer tanto o seu objetivo de modo a que o fracasso fosse impossível. Isso podia implicar dar-lhe algumas facadas nas costas, mas não faria mal: Dakota protegê-lo-ia.

Ela sabia que a fraqueza de Luke eram as provas psicológicas, e foi precisamente por isso que Dakota destruiu os materiais de interrogatório. Ela não queria magoá-lo, mas precisava de um Luke revoltado e sedento por vingança, aberto à luta pela liberdade ao lado de Dakota e Michael.  Só assim conseguiria tê-lo a seu lado.

- ALINHAR.

Todos os instruendos se posicionam junto dos seus dormitórios, e Mr. Marshall finalmente fala:

-Provei-vos que podiam confiar em mim. Mantive a minha palavra e protegi-vos, mesmo que isso implicasse posicionar-me contra os meus instrutores. No entanto, alguém continua descontente. Quero saber quem é que destruiu materiais de interrogatório. Agora.

Dakota repara que Luke se contorce, desconfortável. Mr. Marshall suspira com o silêncio e prossegue:

-Muito bem. Não queria penalizar todos pelo erro de um, mas já que gostam tanto do interrogatório vou oferecer-vos a cada um de vocês uma sessão de 3 horas. Desfrutem.

Dakota repara que Luke dá um murro na parede e ela corre até ele, agarrando a sua mão de imediato. Dakota questiona:

-Estás bem?... o que se passa?

-Não consigo aguentar 3 horas, Dakota. Ainda nem recuperei da última sessão...

-Calma. Respira. Acho que deslocaste alguma coisa. Isto pode ser bom, okay? Vai para o gabinete médico. Talvez te interroguem menos tempo dada a tua lesão. Tens é que exagerar os sintomas ao máximo.

-Nem me dói assim tanto...

A rapariga aperta a mão de Luke num ângulo em que certamente não deveria, fazendo-o gritar. Ela corrige:

-Agora dói.

-Merda, Dakota!

-Vai correr tudo bem. Apenas faz o que te digo: diz que sentes tremores, suores frios... tudo o que te lembrares.-ela afirma e Luke assente, mais calmo.-E quando começares o interrogatório imagina um lugar seguro, com tudo o que quiseres. Imagina as cores, o som, a textura. Não saias desse lugar mental até o interrogatório terminar, okay? Vai.

Luke afasta-se, ainda hesitante, e Dakota apressa-se até à sala de interrogatório pois era a sua vez. A do número 4. Dakota estava ali há tanto tempo que aguentava as provocações, as músicas altas, os sons incómodos, as perguntas, as posições desconfortáveis em que os obrigavam a estar e a experienciar todas aquelas sensações.

Ela senta-se na cadeira e fecha os olhos, ignorando toda a informação que recebe.

Para quem trabalhas?

Qual o teu nome?

Onde é que a tua equipa se reúne?

Quem é o vosso líder?

Dakota já tinha aprendido a não deixar ninguém entrar na sua cabeça e arruinar o que demorou anos a construir: a sua confiança, inteligência, perspicácia, coragem. Na verdade, era mais difícil sair do seu lugar mental seguro do que propriamente entrar, porque tudo lá era tão perfeito.

Na sua imaginação, Dakota tinha uma família, um cão e era ótima no seu trabalho. Imaginava-se como educadora de infância, lendo para as crianças à noite e garantindo que nada lhes falta.

-4? 4, já terminamos.- ela ouve e finalmente abre os olhos.- Estás a ficar boa nisto.

A verdade é que Dakota estava a ficar boa em coisas em que não devia: mentir, trair, enganar. Assustava-a que um dia não fosse capaz de distinguir a verdade da mentira por ela própria se estar a tornar uma farsa. Ela odiava o que tinha feito a Luke.

Merda, Luke.

Dakota levanta-se de imediato e procura-o mas não o encontra. O seu estômago revira ao imaginar o que poderão fazer-lhe. Por sua causa, inteiramente. As horas passam e ela não aguenta mais.

Dakota avista Ashton e corre até ele. O homem não imaginava que Dakota lhe voltasse a falar sequer depois do sucedido, mas ali estava ela.

-Ashton, preciso de saber como está Luke. Por favor.- ela pede.

Claro que era acerca de Luke, hm? Ashton ironiza:

-O teu namorado não é uma criança, Dakota. Ele foi treinado especificamente para isto, toda a vida.

-Eu disse-te que nunca me entenderias. A prova está aqui.-ela atira.-Todos temos fraquezas. Somos humanos e cuidamos uns dos outros. Quero usar o meu favor agora.

- A sério? Vais usar o teu favor de um instrutor nisto? Depois de tudo o que te vi fazer aqui, esta emoção descontrolada não parece tua.

-Tu não me conheces. Diz-me como é que ele está.-Dakota ordena.

Ashton cruza os braços de forma defensiva e observa:

-Ele está bem. Vomitou e quase perdeu os sentidos mas está bem. Está quase a sair do interrogatório.

-Foda-se, Ashton, isso parece-te estar bem??-ela protesta.

Dakota afasta-se e aguarda no dormitório impacientemente. Fleur lia um livro e reparou no seu estado.

-Estás bem?-Dakota questiona e a colega assente.-Merda. Luke não está nada bem.

Fleur encolhe os ombros e Dakota prossegue:

-Ele é meu aliado. Quer dizer, Luke vai ser meu aliado mas ele ainda não sabe.

Fleur aponta para uma folha afixada na sua parede que dizia "Pára". Tinha-a feito especialmente por causa de Dakota, que não sabia parar.

-Não posso parar agora, Fleur. Sim, foi estúpido começar tudo isto mas seria ainda mais estúpido parar agora.-Dakota afirma e avista Luke.

Ela corre até ao dormitório dele, encontrando-o deitado na cama, de costas. Dakota senta-se no colchão e pousa cuidadosamente a cabeça dele no seu colo. Ao ver o seu rosto cansado e triste, Dakota sente um aperto no coração. Ela não aguenta e confessa:

-Desculpa, Luke. Lamento imenso.

-Não foi culpa tua. Foi deles.-ele sussurra e Dakota sabe que se lhe contar vai perdê-lo como aliado para sempre.-Na verdade, graças a ti, por causa do meu pulso apenas me interrogaram 2 horas.

Ela decide guardar aquele segredo bem escondido dentro de si, apesar de a corroer. Dakota limpa as lágrimas de Luke e acaricia o seu cabelo loiro.

-Vou fazer-te um chá para acalmar o teu estômago.-ela decide mas Luke pára-a.

-Mais tarde. Apenas fica aqui um pouco mais. Não quero passar a noite sozinho.

-Ugh.-eles ouvem um rapaz comentar, que passava pelo corredor.-Pensei que as raparigas não pudessem entrar nos quartos dos rapazes.

Dakota grita, irritada:

-Ninguém falou contigo! Sai daqui, foda-se!

Luke ri um pouco quando pensava ser impossível. Ela esfrega a barriga dele como se isso pudesse ajudar. Dakota questiona:

-Está bem. Estás seguro. Eu vou ficar aqui para garantir isso. Agora diz-me: como era o teu lugar seguro?

-Era perfeito.-ele confessa.-Estavas lá.

-A sério? A fazer o quê?

-Acho que não queres saber.-Luke brinca e Dakota relaxa ao ver que não o perdeu.

Victims Of Authority [afi/lrh] TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora