O vento soprava seus cabelos através da janela do motorista; Seus olhos eram sempre atentos na estrada, não deixando passar nada; trazia em seu vestuário seu inseparável boné e em seu rosto sua expressão séria de sempre. Vinte e sete anos de vida foram suficientes para ela saber que fazia o que mais amava no mundo: Dirigir.
O silêncio era algo prazeroso para ela, contudo, não o obtinha. Suas duas irmãs e cunhada eram mais barulhentas do que uma sala inteira de garotas do primário.
- Poderíamos ligar a rádio? É a hora das quarenta mais da semana. - Maiara, que estava na boléia junto com Naiara, pediu, já conhecendo a resposta de Marília.
- Não. - A garota disse solenemente.
- Você é uma chata. - Paula falou em um resmungo, capaz de ser ouvido por Marília.
- Eu sempre digo a vocês para ficarem na cidade e não virem comigo. - Marília disse ainda séria. - Vocês vêm porque querem.
- Não custava nos deixar ouvir a rádio por algumas horas.
- Meu caminhão, minhas regras.
- Papai adorava ouvir a rádio. - Maiara tentou, tendo um longo suspiro de Marília como resposta.
- Eu sei. - Marília disse com nostalgia na voz.
- Ele deixou o caminhão para você porque sabia que você amava dirigir. Ele queria você feliz e não amarga desse jeito. - O silêncio se instalou por algum tempo até Marília falar algo.
- Meu caminhão, minhas regras. - Repetiu com veemência.
- Podemos então assistir algum DVD na TV aqui na boléia? - Marília ficou quieta e logo assentiu. Suas irmãs sabiam que Marília era chata em relação ao silêncio, por esta razão instalaram uma televisão na boléia, que é a parte onde Marília geralmente dormia, localizada logo atrás dos bancos. As meninas abriram mais a pequena cortina e se enfiaram lá atrás, para logo ligarem a TV.
Marília desligou a TV da frente e suspirou. Era possível ouvir a TV de trás dali, no entanto o ruído era menos irritante. Seus olhos focalizaram no belo horizonte, vendo o sol se pondo e em contraste com tal imagem havia algumas árvores com um verde tão lindo que se dava inveja. Começou a assobiar baixinho, ouvindo a risadinha das garotas logo atrás de si.
Maiara amava trazer pornô e assistir com Naiara, para então ir para a caçamba, que é onde dormiam e transar loucamente com Naiara enquanto Paula dormia na boléia, tendo Marília ainda no volante. Muitas vezes as garotas se empolgavam e os gemidos eram capazes de serem ouvidos ali na frente.
Preferiu mudar de pensamento ao lembrar dos gritos e fez uma careta. Deu um suspiro ao lembrar que era contente por sua irmã finalmente ter encontrado alguém que a amasse. Ela não daria a mesma sorte, era solitária demais para isso.
Estava a cerca de quase quatro anos sem transar e não fazia questão de sexo, contudo, vez ou outra Marília não resistia e, pela madrugada, ligava a TV no volume zero, quando a cabine já estava trancada e ela tinha certeza que nenhuma das garotas poderia flagrá-la.
Admitia que o conteúdo daqueles DVD's era bom, diferente de tudo que já vira antes. Nada aparentava falso como em pornô mesmo. Era uma história toda baseada em cima de um casal e o sexo era algo que rolava naturalmente, e isso era algo que os DVD's de Maiara tinha em especial.
Assistia a curta-metragem, se saciando dos desejos de seu próprio corpo e logo em seguida dormia satisfeita, acordando no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Já fazia cerca de um mês que não se masturbava e sentia seu corpo mais tenso do que o normal, decerto que hoje à noite faria algo em relação a isso.
Estralou o pescoço assim que parou em um semáforo, ainda estavam na cidade. Não fazia nem uma hora que haviam saído de casa e aquela viagem seria mais longa do que a maioria dos últimos meses. Seis dias na estrada, pois iria para a outra ponta do país, contudo, parariam em alguns hotéis ao longo do caminho, atrasando um pouco a viagem.
No total de dez dias de viagem e mais dez de volta, se contasse com os dois dias que ficaria no local de destino, seriam vinte e dois longos dias com suas irmãs falantes. As garotas nem sempre viajavam com ela, mas nas viagens mais longas elas iam. Todas tinham seus próprios negócios e por isso não atrapalhava deixar tudo quando quisessem.
Diziam que adoravam se aventurar, já que, se dependesse de Marília, as veria apenas no natal e em seus aniversários. Desde que seu pai faleceu Marília havia se isolado de maneira assustadora e tal afastamento gerou um grande baque em suas irmãs, que eram muito unidas desde sempre.
A caminhoneira parou no posto de gasolina mais próximo e abasteceu todo o tanque, atrasando quase uma hora, pois Maiara alegava não viajar sem levar um estoque vantajoso de bobagens para se comer, sendo os salgadinhos os seus preferidos.
- Assim os vinte e dois dias se tornarão vinte e duas semanas. - Marília resmungou.
- Desculpe, velha ranzinza. - Maiara zombou. O ruído do mastigar de salgadinhos fez o músculo do maxilar de Marília se destacar em seu rosto. Ela odiava profundamente aquele som.
- Não sou ranzinza, apenas preciso entregar isso em uma data certa. Esse é o meu trabalho, não é uma brincadeira.
- Tudo bem. É agora que ligaremos a rádio? - Maiara tentou, tendo a risadinha de Paula ao fundo.
- Meu...
- Já sei, já sei. Seu caminhão, suas regras. - Maiara disse, se recostando nos braços de Naiara.
- Muito mais fácil quando entendem isso, viu? - Marília disse sorrindo de maneira contida, ajeitando seu boné em sua cabeça.
- Marília, já pensou em jogar fora esse boné? - Naiara questionou.
- O quê? Por quê?
- Porque existe há anos e está mais desbotado que couro de pica de alemão. - Alegou.
- Hey, respeite meu boné.
- Eu sei que você ama bonés, mas pelo menos lave ele então. Noto a beirada suja daqui. - Marília corou e assentiu derrotada.
- Vou lavar, mamãe.
E assim seguiram a viagem. Vez ou outra Marília explicava para as garotas sobre algum lugar por onde passavam, já que já conhecia a estrada de cabo a rabo.
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Destino Incerto - Malila
FanfictionMarília Dias Mendonça é uma caminhoneira; levava a sua vida na tranquilidade das estradas de todo o país. Aos seus vinte e sete anos não se via fazendo outra coisa senão dirigir, exatamente como seu pai a ensinara. A garota possui mais duas irmās ad...