1. Prisioneiros no Corredor do Espaço

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Não existe destino que se realize 

 Se não fizermos algo por ele

Parte 1

A árvore produz a fruta

Prisioneiros no Corredor do Espaço

Para as almas nômades, a vida é feita de fugas. 

Mas algumas prisões são intransponíveis. 

Como aquelas construídas pelos próprios monstros. 

Com a matéria prima do próprio caos.

Milênio 7

Klairer tinha perdido as esperanças.

Ela tinha perdido... E ele tinha vencido...

Mas pelo menos agora tudo estava acabado.

Ela respirou fundo, jogada contra o encosto da cadeira com a expressão amarga escondida atrás de sua pesada cortina de cabelos. Klairer fingia não se importar por estar onde estava, nadando nas profundezas da própria mente, longe de tudo daquela realidade em que era obrigada a viver. Mas as batidas fortes de seu coração não mentiam. Suas mãos suavam; seus dedos tremiam; seus dentes se trancavam como se sentisse dor. Ela repousava na zona turva entre a fúria e o pavor, condenada por sua resignação a não tomar nenhum lado e apenas permanecer destruída sobre a cadeira, entregue, vencida e atormentadamente conformada. Seu orgulho, a única coisa que um dia a movera para tentar vencer a ele, tinha sido ferido; mas não era uma ferida letal. E essa era a pior parte.

Ela teria preferido morrer a ser submetida ao que a aguardava, mas morrer já não era mais uma opção. Tudo que a restava agora, ao ver-se incapaz de encontrar forças para criar qualquer outro destino, era enfim se conformar com aquele que a fora imposto.

Klairer resmungou algo para si mesma. Ela não podia aceitar aquele destino, depois de tê-lo desafiado tantas vezes, e se tornar alguém que se resignasse assim tão facilmente. Ela precisava fazer alguma coisa!

Movida por aquela pequena fagulha de resiliência, tão frágil que quase não conseguia senti-la, Klairer procurou em volta por algo que pudesse tirá-la daquela situação... E não encontrou nada. Dessa vez, ela não podia alterar seu futuro da forma com a qual tinha se acostumado, mas teria de mudá-lo da maneira mais difícil: vivendo-o.

Pela primeira vez desde que a jogaram ali, há algumas horas atrás, Klairer encontrou forças para tentar absorver o ambiente ao seu redor: estava no meio de longo corredor branco, sentada em uma das cadeiras de uma fila que tomava toda a extensão de uma das paredes. Não haviam janelas à sua volta – algo que aqueles que a enviaram para lá, seus "carcereiros", sabiam que a teria sido muito útil para fugir. À direita, a fileira quase infinita de cadeiras estava completamente ocupada, esticando-se até uma porta no final do corredor branco. Klairer não sabia o que havia do outro lado, mas, diante do pavor daqueles que estavam na sua frente naquela longa espera, não era difícil de perceber que se tratava de algo terrível. Todos tremiam em uma intensidade igual – ou até mesmo maior – do que ela, aguardando com uma paciência fabricada pelo destino lhes reservado atrás daquela porta, como ovelhinhas encurraladas.

Aquelas pessoas estavam mais para lobos, na verdade; mas Klairer não estava acostumada a ver feras tremerem.

Depois de terem quebrado tantas leis quanto a quantidade de estrelas no céu, cada um daqueles indivíduos foi capturado, classificado como criminoso e enviado ao corredor branco, para ser punido com seja lá o que existisse atrás daquela porta distante. Aquela era a conclusão de suas histórias; e, para Klairer, com os pulsos algemados à frente do corpo, não era diferente.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora