8. Saboreando Delitos

3 0 0
                                    

Parte 2

A fruta conhece o vento

Saboreando Delitos

Olhando para você é difícil de se imaginar que tenha existido algum dia em que lutara para não quebrar nenhuma regra; em que se esforçara para ser exemplar. É difícil de se imaginar que tenha existido alguma época antes de tudo isso; antes de agora.

Mas tudo tem um fim; para que outros tudos tenham um começo.

A ingenuidade se quebra fácil, como um vidro em queda livre. Apenas basta um toque na beirada do precipício, – algo que te deixe pensando além dos limites – para que se escorregue e rache na queda; rache a si mesmo; e rache ao mundo. Perder a ignorância é o fardo de envelhecer; mas não se pode entender o mundo, quebrado como está, sem rachar-se como ele.

Milênio 2

– Você ainda não o conheceu pessoalmente?! – A melhor amiga de Klairer gritou para ela, sem piedade por seus tímpanos. – O casamento já é em doze milênios!

– Eu sei... – Klairer resmungou. – Mas eu prefiro me concentrar na espera pelo meu convite ao Conselho.

– Você sabe que as chances de sermos convidadas são mínimas, Klairer. – Retrucou a amiga com uma seriedade realista. – Eles já têm pessoas demais com a habilidade de ler o tempo para escolher; nós somos apenas mais duas.

– Isso não torna as nossas chances nulas. Qualquer possibilidade já é um sinal de esperança. – Cruzou os braços. – Além do mais, nós não só somos capazes de ler o tempo, mas também conseguimos mudá-lo! – O que Klairer sabia que era capaz de fazer, mas nunca fez.

– E não podemos fazer nada com isso! – Porque alterar as linhagens do tempo sem fazer parte do Conselho era um crime gravíssimo. Klairer confirmou com a cabeça, ciente da lei. Por mais que seu passado ou futuro fossem trágicos, Klairer nunca poderia alterá-los, já que as consequências desconhecidas de uma modificação poderiam prejudicar a perfeita linhagem do destino construída pelo Conselho. Uma mínima mudança poderia culminar em alguma calamidade impensada, já que era praticamente impossível de se conhecer todas as implicações antes de vivê-las; a menos, é claro, que se tivesse acesso ao painel do destino universal, completamente impossível de ser alterado, localizado na sala do Imperador e capaz de mostrar todas as linhagens temporais existentes ou possíveis de todos os seres existentes nas galáxias.

– Eu não me importo que meu convite demore uma eternidade para chegar. Minha paciência é persistente. – Klairer deu de ombros. – Além do mais, eu não estou tão animada com esse casamento para ficar ansiosa para conhecer... Topher... – Murmurou o nome do homem, tão desconhecido que até soou estranhamente errado, ainda que fosse o certo.

– Sabe o que eu acho que você deve fazer? – A amiga fez um suspense. – Ler o seu futuro com ele.

Klairer arregalou os olhos.

– Está louca?! – Gritou. – É proibido!

Ela nunca tinha feito aquilo, ainda que pudesse.

Ler o tempo também era um crime, de acordo com as leis do tempo, mesmo que sua fiscalização fosse bem menor em comparação com aquela acerca das mudanças no destino. Por isso Klairer nunca o tinha lido; ou alterado. O conhecimento de suas habilidades – ler e modificar o destino – era devido a um teste que fizera em seu primeiro milênio, em uma simulação do destino que todos os jovens tinham de realizar para que tomassem ciência sobre sua natureza; ainda que nunca pudessem explorá-la.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora