Estrela Caída| Versão Em Português

33. O Começo

O milênio mal tinha começado e nós já o odiávamos.

Foi assim que a nossa queda começou, nessa nova era. Eu fiz a minha parte; você fez a sua; e nós despencamos juntos do mesmo céu.

Não conseguimos evitar. Porque sabíamos que, enquanto existisse um destino à frente, nós o percorríamos. Independentemente de qual fosse, independentemente de onde nos levasse; nós o viveríamos, apenas por ser uma continuidade dos nossos erros do agora.

Ainda não estávamos prontos para conhecer o fim.

Mas era para ele que caminhávamos.

E, talvez, quando finalmente chegássemos, estivéssemos enfim preparados para enfrentá-lo.

Foi aqui onde tudo começou.

Milênio 7

Topher e Klairer seguiram rapidamente o Imperador até sua sala, enquanto trocavam olhares tão mortíferos que até mesmo as estrelas do céu tiveram medo deles. Abaixo do som dos fogos de artifício acima e dos protestos da multidão confusa abaixo, o Imperador trancou a porta de sua sala às costas e encarou, repreensivamente, os aprendizes. Topher parecia impassível como sempre, enquanto Klairer cruzara os braços para não demonstrar o quanto suas mãos tremiam. Ela mesma tinha se colocado naquela situação, mas não sairia até que tivesse sua justiça. Seu projeto fora escolhido como o vencedor algum dia naquele futuro; então ela assumiria seu papel. Não deixaria que Topher roubasse todos os seus milênios de dedicação, esperanças e expectativas; não deixaria que ele roubasse toda a sua jornada.

– Como ousa questionar a minha decisão?! – Rugiu o Imperador, sobre sua postura poderosa, dissolvendo Klairer com o olhar ácido sobre a insubordinação dela.

A garota engoliu em seco, aterrorizada sobre as consequências daquela desobediência. Ela lutara tanto para ser a melhor; se esforçara tanto para ascender o mais alto possível; até aprendera a deixar a honestidade de lado, caso necessário para conseguir o que queria, ainda que não desobedecesse nenhuma lei; e, agora que finalmente alcançara a vitória que por tanto tempo esperara, não podia deixá-la ser arrancada de suas mãos daquela forma.

– Eu não questionei em nenhum momento a escolha daquela pérola! – Klairer disse perigosamente alto. – Porque ela era minha. – Abaixou o tom, o olhar suplicante, o peito dançando na respiração pesada. – Topher a roubou de mim, depois que elas cairam no chão. Ele está tentando nos enganar! – Quando seus olhos pousaram no rapaz novamente, Klairer já não parecia mais tão humilde. Topher, porém, não se abalava.

– E você tem alguma testemunha que comprove isso? – O Imperador indagou com tranquilidade, após o argumento da garota. Klairer ergueu o queixo com determinação. Ela tinha uma testemunha infalível:

– O próprio destino. – Estava tão cheia de certeza que ela até transbordava por sua expressão.

O Imperador se aproximou do painel do destino universal para procurar por algo na linhagem do tempo que comprovasse as palavras de Klairer. A garota fechou os olhos e respirou profundamente por um instante, quase aliviada ao se abraçar em suas camadas de certeza. Logo tudo aquilo se resolveria; o Imperador veria a verdade dela e finalmente a entregaria a coroa, ainda pendurada entre seus dedos. Logo tudo se esclareceria e Klairer sairia daquela sala com uma promessa para o seu futuro: algum dia, depois da morte daquele Imperador, ela teria o destino completamente nas mãos, para moldá-lo da forma que bem quisesse.

Quando Klairer abriu os olhos novamente, porém, ela se deparou com o sorriso de Topher.

Ele já tinha vencido.