32. Acordo com a Serpente

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Confiança é uma coisa perigosa. Frágil. Inocente.

Ela engana. Trai. Ataca. Destrói.

Ela encurrala. Ela se perde.

A desconfiança é um oásis.

Mas às vezes estamos perdidos demais no deserto para encontrá-la.

E nos agarramos, em última esperança, à areia movediça da confiança que nos engole.

Milênio 13

Sem objetivos, sem desejos, sem esperança, Klairer continuava vagando sem rumo pelo nada do universo. Tinha apenas um amargor na mente e um cristal inútil no pescoço – um cristal que tinha sacrificado tanto para ter; e agora não parecia servi-la para nada.

O vazio ao redor era intimidador, mas ela o explorava passo a passo. Mergulhada no silêncio, ainda que borbulhasse em pensamentos, Klairer andava por entre galáxias infinitamente distantes, apreciando sua solidão e sua assustadora variedade de caminhos à frente – caminhos que ela não queria percorrer.

Já estava até se acostumando com aquela nova realidade, quando uma voz às suas costas a arrancou de seu isolamento:

– Minha garotinha brilhante... Onde estivera todo esse tempo?

Klairer virou-se, incrédula, para deparar-se com sua mãe-substituta.

Como a mulher a achara? Por que a procurara? Como surgira tão repentinamente? A garota não compreendia. Ainda assim, mesmo que desconfiada, Klairer não conseguiu negar que aquilo a animou e emocionou um pouco. Ver sua mãe-substituta a fez se lembrar de casa e daquela gloriosa época em que não tinha de se preocupar em fugir pelas galáxias por causa dos crimes que cometera; uma época de esperança, inocência e sonhos; uma época que jamais voltaria.

– Não a vejo desde a coroação de Topher como Imperador do Destino. – Continuou a mulher, ligeiramente aflita. – Por onde você andou?

A garota suspirou, encolhendo-se diante da verdade que não queria dizer. Ainda assim, não se poupou de revelar os fatos:

– Depois da coroação, eu fui mandada para a prisão... – Klairer murmurou baixinho. – Mas escapei. Tornei-me fugitiva, roubei pessoas, matei pessoas e cheguei várias vezes muito perto da morte... – Engoliu em seco. A mãe-substituta não parecia surpresa, apenas decepcionada, como se sempre soubesse que um dia aquela seria a vida de Klairer e não pudesse fazer nada para impedir; praticamente como se Klairer nunca tivesse passado de uma força indomável e imperfeita, que não merecesse suas tentativas de orgulhar-se dela. A garota pegou o cristal entre os dedos e, admirando a joia com certo desprezo, resmungou: – E tudo isso... Por nada.

A mulher fez um gesto de mão como se tudo aquilo, cada crime e cada desobediência, fosse totalmente irrelevante.

– O que importa é que eu a encontrei. – Aproximou-se devagar, amável e acolhedora, sorrindo adoravelmente. – E agora podemos voltar para casa.

Bruscamente, Klairer afastou-se, tal qual as palavras da mãe-substituta fossem radioativas.

– Eu não posso voltar. Estou sendo procurada! – Revelou, repleta de receio. – Eles me encontrarão; me condenarão. Não posso arriscar.

Tornando a aproximar-se, a mulher apenas riu suavemente, como se o medo de Klairer fosse infundado. Sua mão acariciou suavemente o rosto aflito da garota, acalentando-a tal qual Klairer não passasse de uma menininha desamparada e ignorante para as maldades e complexidades do mundo.

– Não se preocupe com isso. – Disse a mulher. A garota ergueu uma sobrancelha. – Eu negociei com o Imperador do Destino e ele me prometeu que você pode retornar comigo para casa sem medo. – Klairer não conseguia confiar em Topher, mas era impossível não confiar em sua mãe-substituta. Ela era uma mulher esperta e o Imperador nunca quebrava sua palavra. Ainda assim, a desconfiança permanecia morando nas entrelinhas dos acordos que ele fazia e nas formas que ele tinha de enganar aqueles que se colocavam em seu caminho.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora