24. Primeiro Vislumbre

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As primeiras impressões são inesquecíveis, insubstituíveis, impagáveis.

E as últimas também.

Milênio 13

Imóvel, enquanto gotas de bebida lhe escorriam pelo queixo do rosto ensopado, Kye assistiu Klairer se virar e ir embora. O que tinha acabado de acontecer ali? Por mais que a mente dele vasculhasse por qualquer motivo que justificasse o ataque de Klairer, Kye não conseguia compreender. O que ele tinha feito que pudesse tê-la irritado tanto entre o instante em que a perguntara se queria uma taça de bebida e o momento em que a trouxera para ela?

Antes que a garota desaparecesse de sua visão entre os convidados da festa, Kye libertou-se de seu choque estático e correu atrás de respostas.

– Você encharcou minha jaqueta! – Reclamou ele, puxando Klairer pelo cotovelo para que não fugisse.

– Vai me explodir também?! – Rosnou ela, virando-se e confrontando Kye com uma selvageria que o assustou. O rapaz recuou um pouco.

– Claro que não. – Sussurrou. – Mas eu mereço pelo menos uma explicação.

Klairer arrancou seu braço da mão dele, mas não foi embora.

– A esse ponto, você já não merece mais nada! – Cuspiu as palavras.

– O que eu fiz? – Insistiu, quase implorando. – Ou o que será que eu ainda vou fazer que já te irritou tanto? – Seu sarcasmo fechou ainda mais a expressão dela.

– A questão é o que você ia fazer, Kye. – Ela não tinha nenhuma intenção de soar explicativa. – E não vai mais fazer porque eu o confrontei a tempo!

Kye soltou um murmúrio indignado.

– Ótimo! Então está tudo resolvido, já que eu não vou mais fazer essa coisa horrível que eu ia fazer! – Ele estava se controlando para não gritar. – Podemos agora voltar a fazer sentido?

Klairer fechou os olhos e respirou profundamente por um instante, também se controlando para não fazer coisas horríveis no meio da festa. Aproximou-se do rapaz um passo intimidador e rosnou como se pudesse atacá-lo a qualquer segundo, no menor sinal de provocação:

– Você estava me usando para conseguir vingança, Kye.

E então tudo estava claro.

O rapaz soltou o fôlego ao entender a razão do ódio de Klairer. Mas ele não estava aliviado. Já não adiantava mais fingir que não era culpado por ter seus objetivos sórdidos; já não adiantava mais para mentir para ter a ajuda da única pessoa disposta a ajudá-lo. Seu rosto se contorceu em reconhecimento por seu erro e também em algo que implorava perdão. Mas ele não conseguiu encontrar por trás de seu orgulho as palavras para pedir desculpas:

– Nós somos uma parceria. – Kye teve a audácia de dizer. – Achei que estava claro desde o início que íamos usar um ao outro para conseguir o que queríamos...

Klairer o empurrou violentamente, recusando-se a acreditar que ele tinha acabado de dizer aquilo. Com fúria nos olhos luminosos, ela se perguntava como podia ter acreditado que realmente existia alguma gota de decência nele. Pelo visto Kye era realmente o monstro que tanto a dissera que era; e ela, estupidamente, nunca acreditara nele. Até aquele instante.

– Você me usou para conseguir o que você queria! – Seu tom elevou-se perigosamente, começando a atrair olhares. – Eu nunca quis matar ninguém! A única coisa que eu queria era fugir! Eu nunca teria concordado com nada disso se soubesse que era tudo por vingança!

– E foi exatamente por isso que nunca a contei a verdade! – Retrucou, aproximando-se um passo insistente. – Eu precisava da sua ajuda!

Klairer engoliu em seco.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora