21. Amargor das Memórias

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A forma mais fácil de se resolver um empecilho é fazendo-o nunca ter existido.

Seria maravilhoso poder resolver tudo assim, sem jamais ter de lidar com as consequências de um problema em si.

Mas sempre existirão as consequências de apagá-los.

Milênio 12

– Kye! – Klairer levantou-se cambaleante, o sangue translúcido avermelhado lhe escorrendo pela testa cortada. Tropeçou até o rapaz ferido, aproximando-se para tentar ajudá-lo a sair do chão, mas Kye recusou seu toque. Ele se afastou, aborrecido, quase como se ela fosse ácida. – O que aconteceu? – Estava assustada, confusa, negando a si mesma que havia acontecido o que imaginava ter acontecido.

– Você sabe o que aconteceu. – Rosnou, levantando-se sozinho, debilitado e pálido, após ter sido sufocado pela luz da garota.

– Eu tive outra alucinação? – Murmurou ela com incredulidade, tão baixinho que Kye quase não ouviu. Tudo tinha parecido tão real... Topher estava ali, à sua frente, entre seus dedos, naquele exato local... Mas fora do tempo. E, na realidade, quem estivera ali o tempo todo, verdadeiramente preso em suas mãos, fora Kye.

– Pelo visto sim! E você quase me matou! – Kye gritou irritado, agora que percebia que falava com a legítima consciência de Klairer, presente naquele plano da realidade. – Talvez o tempo esteja começando a comer a sua cabeça!

A garota suspirou, confirmando o obvio:

– Você está irritado...

– É claro que estou! – Gesticulava intensamente, enfatizando seu ponto.

– Eu não achei que fosse você, Kye... Topher me manipulou... – Explicou ela, murmurando o porquê de tudo aquilo ter acontecido. Agora fazia sentido por que Topher se recusara a revidar: Klairer estivera o tempo todo lutando contra Kye. Os olhos dela deslizaram ao chão, o pensamento pesaroso e distante, como se tentasse religar sua conexão com o destino para gritar com Topher. Ela era, porém, incapaz de estabelecer o vínculo sem ajuda do painel do destino universal; incapaz de iniciar uma comunicação por meio do tempo.

Klairer se perguntou se, caso tivesse realmente cometido uma tragédia, teria sido capaz de revertê-la. Provavelmente, sim; e ali morava o problema. A maior parte de seus erros era reparável; não havia algo que Klairer temesse fazer; não havia erro que ela se privasse de cometer; já que sempre haveria uma forma de corrigir o passado. Mexer com o destino não era perigoso apenas para o tempo em si, mas também para as mentes daqueles que tinham a ousadia de modificá-lo. Lentamente, Klairer se tornava imune ao bom senso de impedir-se; e Topher soubera se utilizar daquele descontrole para manipulá-la.

Kye não compreendeu do que ela estava falando. Não entendeu como aquele tal de "Topher" tinha alguma conexão com o que tinha acabado de acontecer, mas seguiu com o raciocínio de Klairer, aceitando como verdade o que ela o contara. Ele não queria que ela o destruísse por culpa de alguma alucinação; e ele não queria vê-la destruir-se.

– Então, seja lá quem for esse cara, depois que pegarmos os cristais, nós vamos atrás dele.

Klairer virou-se para ele em choque, um grande "NÃO!" escrito em seu olhar.

– E o que faríamos com ele? – Indagou, o tom hesitante, em contraste com a negação palpável no rosto.

– Eu não sei, Klairer. – Ele murmurou, dando de ombros. – Só quero vê-lo tão assustado quanto você está agora.

Klairer tentou se acalmar e suavizar a própria expressão. Aparentando tranquilidade, ainda que explodisse por dentro, ela se manifestou:

– Não podemos. – Tinha pesar, mas estava cheia de determinação. – Ele é muito poderoso. – Justificou.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora