15. Montanha de Profecias

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Parte 3

A fruta se desprende da árvore

Montanha de Profecias

Essa incontrolável curiosidade nos instiga a procurar o além do tangível, nos corrói, nos obriga a usar pontos de interrogação. Nós queremos dar a ela tudo o que quer, queremos responder a todas as suas perguntas, matá-la com satisfação, antes que ela nos engula.

Se você pudesse saber de tudo, o faria? Mesmo que a graça do mistério se perdesse ou que a benção da ignorância fosse roubada para sempre? Ainda imploraria para saber de tudo?

Faça suas perguntas. Satisfaça sua curiosidade. Mate todas as dúvidas ao seu redor. Uma por uma.

Mas não se arrependa depois.

Milênio 10

– Talvez isso não seja uma boa ideia... – Klairer murmurou baixinho, seus olhos cravados na escadaria repleta de pessoas, que se estendia pela encosta da montanha até o minúsculo templo prateado em seu topo. – Olha só para o tamanho dessa fila! É absurdo! – Recuperou a voz, somada a um pouco de indignação. – Eu me recuso a enfrentar tudo isso só para entrar naquele protótipo de templo! – Gritou. Muita indignação.

– Mas vale a pena! Como você mesma disse: isso pode nos ajudar na busca pelos cristais! – Kye tentou usar a razão. – Além disso, você não me apostou à toa!

– Analisando melhor, não acho que precisamos desse tipo de ajuda! – Cruzou os braços. – Eu consigo ler o destino o suficiente. Não precisamos de um Oráculo qualquer, em um templo qualquer, em uma montanha qualquer para saber o que queremos! – Kye respirou profundamente, enquanto observava Klairer com seu orgulho ferido jogarem farpas sobre ele. Ela mudava de ideia tão rápido. – Muito menos quando se tem uma fila de anos-luz para enfrentar... – Sussurrou, observando de canto de olho o templo, distante nas alturas nebulosas.

– Mas pense comigo: se têm tanta gente esperando na fila, deve ser porque fazer uma pergunta para o Oráculo valha a pena! – Tentou justificar-se com lógica, mas a garota simplesmente espremeu seus olhos para ele, repleta de uma perigosa determinação. – E, claro: você não me apostou à TOA! – Enfatizou.

Klairer se virou, caminhou até a fila e perguntou, aleatoriamente, a um homem que parecia aguardar ali por muito tempo, sentado no chão ao lado de uma barraca:

– O que você vai perguntar ao Oráculo? – Tentou soar educada, mas sua voz saiu mais ameaçadora do que qualquer outra coisa.

O homem refletiu por um instante, que pareceu durar uma eternidade. Uma eternidade e meia, talvez. Duas eternidades e sete décimos de outra, para prezar pela exatidão. Ele pensou cautelosamente, analisou meticulosamente e repescou ideias no fundo de sua memória com periculosidade. Regurgitou e redigeriu ideias como se fosse um boi, mastigando passo a passo folhas maçantes dentro da mente, quebrando cada fibra de pensamento até que estivessem pequenas o suficiente para passarem por seu filtro para fora do corpo. Abriu a boca como se fosse responder finalmente, mas o que saiu foi um bocejo preguiçoso, que se diluiu juntamente com qualquer linha de raciocínio que ele havia construído até então. Klairer desejou matá-lo; mas agora estava investida demais em sua curiosidade de saber a resposta para fazê-lo. Apenas plantou paciência em árvore e esperou; e conseguiu sua colheita até mesmo antes da resposta. Por fim, o homem respondeu com uma leve aflição misturada a preguiça:

– Nossa... Já nem me lembro mais...

Assim, ele se levantou, recolheu sua barraca e simplesmente foi embora, fazendo finalmente a fila andar. Um passo apenas.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora