18. Xícaras de Ambição

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Como não conseguimos perceber a cascavel do nosso lado?

Como não ouvimos seu sibilar entre os sorrisos?

Como não a vimos serpentear entre nossos pés?

Como não sentimos suas escamas geladas ao cumprimentá-la?

Ela se camuflou na natureza de nosso mundo.

E, quando deu seu bote, já era tarde demais para fugirmos.

Milênio 11

Kye não demorou muito para resmungar:

– Depois de toda essa confusão com os piratas, eu realmente estou precisando de nebulosa. – Observou. – Com vouge.

– Como sempre. – Ela revirou os olhos. – E eu realmente estou precisando de café. – Por sua vez, Klairer resmungou. – Acho que sou até capaz de matar alguém agora mesmo se não tomar minha dose diária.

– Não fale isso enquanto só temos nós dois aqui.

– Você deveria agradecer minha piedade. Estou avisando-o com antecedência.

– Estaríamos perdidos sem nossa sorveteria/cafeteria. – Kye observou.

– O que seria de nós sem aquele lugar maravilhoso? – Klairer dramatizou, como se vivesse em uma peça trágica. – O que seria do universo?

– Provavelmente um lugar mais violento. – Ele deu de ombros. – Se dependesse da sua fome, é claro. – Provocou, um sorriso implicante na feição.

– Abra a boca de novo e eu não terei mais piedade.

Assim, em vez de abrir a boca, Kye abriu um portal no espaço, levando-os para o único lugar que poderia tranquilizá-los naquele momento.

• • • ∞ • • •

– Hoje foi um dia difícil. – Ele murmurou, o corpo curvado sobre uma das mesas do estabelecimento, enquanto aguardavam por seu pedido de sempre. – Odeio piratas.

– E eu odeio quando você é idiota. – Reclamou ela, suas unhas batucando ansiosas na mesa. – Se algum dia você fizer aquilo de novo, eu não o resgatarei.

– O quanto você se importa comigo é comovente. – Ironizou ele.

– Eu o salvei, não salvei? – Perguntou retoricamente. – Salvá-lo daquilo uma vez já foi o suficiente por uma vida.

Antes que Kye pudesse retrucar qualquer coisa mal-humorada, um garçom colocou à sua frente um belíssimo sorvete de nebulosa, tomando-lhe toda a atenção instantaneamente. Fácil assim, o rapaz se esquecera de toda a irritação e mergulhou no mais feliz, doce e satisfeito estado de espírito. Nebulosa lhe fazia maravilhas.

Quando foi, porém, a vez de Klairer de receber sua dose de alegria, um segundo garçom, visivelmente atrapalhado, a deu um sorvete e desapareceu desesperado pelo estabelecimento, na tentativa de atender – mal – os demais clientes, antes que a garota pudesse sequer protestar contra o erro.

Aquilo foi o suficiente para Klairer explodir:

– Não acredito nisso! – Kye a encarou por trás da montanha de sorvete. Estava tudo começando a ficar interessante. – Eu pedi café! Eles me deram sorvete! Eu adoraria isso... Se eu não odiasse! Como podem ter confundido?! Os dois são completos opostos! É por isso que eu odeio cafeterias que também são sorveterias! O equilíbrio térmico faz tudo ficar morno, no final das contas! – Ela não tinha falado agora há pouco que o universo talvez fosse um lugar pior se não existisse aquele tipo de estabelecimento? Kye percebeu a contradição, e não foi sábio o suficiente para manter-se calado:

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora