Como não conseguimos perceber a cascavel do nosso lado?
Como não ouvimos seu sibilar entre os sorrisos?
Como não a vimos serpentear entre nossos pés?
Como não sentimos suas escamas geladas ao cumprimentá-la?
Ela se camuflou na natureza de nosso mundo.
E, quando deu seu bote, já era tarde demais para fugirmos.
Milênio 11
Kye não demorou muito para resmungar:
– Depois de toda essa confusão com os piratas, eu realmente estou precisando de nebulosa. – Observou. – Com vouge.
– Como sempre. – Ela revirou os olhos. – E eu realmente estou precisando de café. – Por sua vez, Klairer resmungou. – Acho que sou até capaz de matar alguém agora mesmo se não tomar minha dose diária.
– Não fale isso enquanto só temos nós dois aqui.
– Você deveria agradecer minha piedade. Estou avisando-o com antecedência.
– Estaríamos perdidos sem nossa sorveteria/cafeteria. – Kye observou.
– O que seria de nós sem aquele lugar maravilhoso? – Klairer dramatizou, como se vivesse em uma peça trágica. – O que seria do universo?
– Provavelmente um lugar mais violento. – Ele deu de ombros. – Se dependesse da sua fome, é claro. – Provocou, um sorriso implicante na feição.
– Abra a boca de novo e eu não terei mais piedade.
Assim, em vez de abrir a boca, Kye abriu um portal no espaço, levando-os para o único lugar que poderia tranquilizá-los naquele momento.
• • • ∞ • • •
– Hoje foi um dia difícil. – Ele murmurou, o corpo curvado sobre uma das mesas do estabelecimento, enquanto aguardavam por seu pedido de sempre. – Odeio piratas.
– E eu odeio quando você é idiota. – Reclamou ela, suas unhas batucando ansiosas na mesa. – Se algum dia você fizer aquilo de novo, eu não o resgatarei.
– O quanto você se importa comigo é comovente. – Ironizou ele.
– Eu o salvei, não salvei? – Perguntou retoricamente. – Salvá-lo daquilo uma vez já foi o suficiente por uma vida.
Antes que Kye pudesse retrucar qualquer coisa mal-humorada, um garçom colocou à sua frente um belíssimo sorvete de nebulosa, tomando-lhe toda a atenção instantaneamente. Fácil assim, o rapaz se esquecera de toda a irritação e mergulhou no mais feliz, doce e satisfeito estado de espírito. Nebulosa lhe fazia maravilhas.
Quando foi, porém, a vez de Klairer de receber sua dose de alegria, um segundo garçom, visivelmente atrapalhado, a deu um sorvete e desapareceu desesperado pelo estabelecimento, na tentativa de atender – mal – os demais clientes, antes que a garota pudesse sequer protestar contra o erro.
Aquilo foi o suficiente para Klairer explodir:
– Não acredito nisso! – Kye a encarou por trás da montanha de sorvete. Estava tudo começando a ficar interessante. – Eu pedi café! Eles me deram sorvete! Eu adoraria isso... Se eu não odiasse! Como podem ter confundido?! Os dois são completos opostos! É por isso que eu odeio cafeterias que também são sorveterias! O equilíbrio térmico faz tudo ficar morno, no final das contas! – Ela não tinha falado agora há pouco que o universo talvez fosse um lugar pior se não existisse aquele tipo de estabelecimento? Kye percebeu a contradição, e não foi sábio o suficiente para manter-se calado:
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Estrela Caída| Versão Em Português
Science FictionEm um universo predeterminado, ela tinha escolhas; e, em uma galáxia de prisões e caminhos perigosos, ele conseguiu criar seu próprio caminho. Quando Klairer e Kye se conheceram nos confins de uma prisão branca e imaculada, na hora e no lugar perfei...