Tudo um dia acaba.
Até mesmo as estrelas.
É uma das leis da natureza.
Então não coloque a culpa em mim por nossas moedas estelares terem acabado.
Eu não sou irresponsável.
Só estou obedecendo a forças maiores do que eu.
Milênio 9
– Como assim nossas estrelas acabaram?! – Gritou Klairer.
– Não tem muito mistério... – Kye se fingiu de indiferente, mas ambos sabiam que ele estava tão desesperado quanto ela. – Uma floresta que se desmata e não se replanta um dia acaba.
– E você tem alguma sugestão sustentável de como repor essa "floresta"? – Rosnou. Kye engoliu em seco.
– Nós poderíamos... Reciclar as moedas estelares de outras pessoas... – Disse devagar, dando de ombros ainda mais lentamente.
Klairer ergueu uma sobrancelha.
– Essa é uma analogia muito estranha para "roubar". – Implicou, incomodada. Não queria ter de fazer aquilo; não queria tornar-se a criminosa que tanto a tinham acusado injustamente de ser. Quando fora condenada à prisão, o Conselho bloqueou sua conta no banco de estrelas, tornando inalcançável tudo que tinha; e agora todos os restos que tinha conseguido preservar também se foram. Não tinham mais nada. Klairer não deveria ter confiado em Kye quando se tratava de responsabilidades. Percebendo a hesitação moral nela, ele continuou:
– Se for fazê-la sentir-se melhor, nós roubaremos dos ricos para dar aos pobres... – Tão louvável. – ...Que somos nós, no caso.
Klairer revirou os olhos, por trás de um sorriso.
– Acho que minha moralidade pode relevar isso por hoje... – Murmurou, aceitando a situação com relutância. – Façamos isso o menos agressivamente possível, sem armas, sem sangue, sem gritos. – Como se isso tornasse a situação mais louvável.
Aquela era a permissão de que Kye precisava.
Diante daquelas palavras, o rapaz se empertigou, ávido pela diversão da adrenalina e pelas coisas que o matavam por dentro ao mesmo tempo em que o davam vida. Ciente da existência de alguns empecilhos em seu caminho que precisavam ser transpostos para que tudo ocorresse harmonicamente, Kye encarregou-se de agir.
– Nós não podemos simplesmente invadir o habitat natural dos ricos sem alguma preparação prévia. – Ele observou. – Temos que nos camuflar com seus casacos de pele e joias caras para que não consigam perceber que pertencemos a outro nicho.
– Achei que fossemos roubar pessoas, não leões. – Ironizou.
– O primeiro passo para entrar no clima de caça é usar o vocabulário adequado. – Klairer revirou os olhos. – E, mesmo que eles fossem leões, os predadores hoje somos nós. – Piscou, abrindo um sorrisinho na garota que durou apenas um instante.
– Onde vamos conseguir essas "camuflagens"? – Ela indagou. – Até onde sei, o único casaco de pele que tenho é feito da minha própria. – Kye, nadando em esperteza, encarou-a como se Klairer fosse tão ingênua quanto uma criança.
Assim, determinado a camuflar-se perfeitamente entre os ricos que eles atacariam no cassino daquele hotel, Kye estalou os dedos e abriu um portal à sua frente, já que ele tinha a limitação de um de seus portais sempre ter de estar próximo a si. Esticando-se, ele passou um braço para o outro lado do universo e procurou com os dedos, sem poder ver, por algo que Klairer não sabia o que era, como se vasculhasse uma grande sacola feita da infinidade do universo em si, engolindo-o até o ombro. A garota o encarava impressionada, sem entender como ele conseguia abrir uma perfeita ponte entre o lugar em que estava e o lugar em que queria estar; mas ela sabia que ele também não entendia como ela era capaz de manipular o tempo; e aquilo os limitavam às suas pequenas bolhas. Trabalhando juntos, talvez, eles conseguissem conquistar o universo algum dia.
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Estrela Caída| Versão Em Português
Ciencia FicciónEm um universo predeterminado, ela tinha escolhas; e, em uma galáxia de prisões e caminhos perigosos, ele conseguiu criar seu próprio caminho. Quando Klairer e Kye se conheceram nos confins de uma prisão branca e imaculada, na hora e no lugar perfei...