22. Em Vão

1 0 0
                                    

Parte 4

A fruta experimenta a gravidade

Em Vão

Às vezes espera-se tanto por algo... Luta-se tanto por algo...

Só para descobrir, no final, que aquilo não era o que se queria desde o início.

E a pior parte é que, às vezes, é necessário perder algo que realmente importa para perceber isso.

Milênio 13

Klairer mal conseguia acompanhar o passo apressado de Kye, praticamente correndo pela rua entre os jardins de rosas e arbustos. As mãos dele tremiam escondidas dentro dos bolsos rasos; seus dentes massacravam os lábios; o rosto suava como se a pele fosse feita de nuvens em precipitação; os olhos não conseguiam desviar dos portões daquela festa para onde rumavam. Klairer sabia que ele não conseguia evitar, – ela mesma era refém das batidas descontroladas de seu próprio coração – mas nada daquilo estava ajudando.

– Não sei se você percebeu, mas... – Resmungou ela, puxando Kye pelo cotovelo. – Um de nós está usando uma saia que se arrasta pelo chão! – Rosnou. Klairer trajava um longo vestido branco decorado com folhas de ouro na ponta e, sobre os ombros, um tecido fino cor de neve escorria ao piso em uma capa imperial como um manto de estrelas, coberta com estrelas e joias cristalizadas. Era um vestido extremamente elegante, contrastando com a tentativa falha de Kye de parecer refinado, estragada quando ele se recusou a vestir por completo um terno preto estrelado e cobriu os ombros com sua jaqueta amarela. Pelo menos na cor de ouro eles estavam combinando, ainda que se mantivessem opostos no preto e no branco tal qual o resto de suas personalidades. Felizmente, para Klairer, Kye não podia ver que, debaixo da longa cauda do vestido, ela calçava suas igualmente deselegantes botas vermelhas.

– E nós estamos atrasados! – Reclamou ele, seu olhar fixo nas grandes portas imponentes na entrada no salão.

– Não há atraso quando se chegar depois da hora é considerado elegante. – Diante da razão, Kye desacelerou o passo. – Acalme-se. Nervosismo é a única coisa que pode nos atrapalhar agora. – Falou com firmeza, enquanto o rapaz não a via engolir em seco, nervosa.

– Eu sei... – Sussurrou. – Só quero que tudo saia perfeitamente. Qualquer erro pode jogar fora todos os nossos milênios de busca... – As palavras lhe arranhavam a garganta.

– Nós não chegamos tão longe por nada. – Ela tinha uma calma assustadora. – E não se esqueça: nós temos o destino do nosso lado. – Piscou para Kye, que abriu um sorriso um pouco aliviado. Aquilo, ainda que fosse uma mentira, tinha o acalmado um pouco. Klairer segurou a respiração, afastando de sua mente a lembrança do rapaz morrendo no futuro, fruto da tentativa de pegar aqueles malditos cristais na festa para qual eles iam naquele instante; tentativa essa que ela tentou evitar, mas não conseguiu. A única coisa que a mantinha andando em frente, na direção das portas da Festa dos Frutos, era a esperança de que ainda existia mais alguma mudança no destino que pudesse fazer para impedir aquele final. – Não fique tão assustado. Aqui é só um lugar em que se entra com ambições e expectativas e se sai sem dinheiro e com apenas uma subestimável rocha polida. – Riu, implicando com Kye ao brincar entre os dedos com a própria corrente no pescoço, que, por tanto tempo, aguardara pela joia que a abraçaria naquela noite.

O rapaz riu por um momento, mas, conforme aproximavam-se das portas, seu desespero ampliou-se.

– Nós só precisamos entrar, abrir sorriso falsos, fingir que estamos nos divertindo... – Kye repassou o plano em uns murmúrios abnegados. – E então vamos desaparecer do salão sem que ninguém perceba, entrar na sala em que eles guardam os cristais, pegar dois e sair de lá correndo... – Estava quase hiperventilando.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora