34. Culpa dos Inocentes

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Por tanto tempo acreditei que fora minha culpa,

que, mesmo sabendo agora que não foi,

eu ainda me considero culpado.

Limpar o sangue das mãos não o limpou de minha consciência.

Talvez se eu não tivesse ido... Talvez se eu não tivesse dito... Talvez se eu não tivesse sido...

Talvez então realmente não fosse minha culpa.

Mas, enquanto ele estiver morto, eu sempre serei o responsável.

Eu sempre serei o assassino.

Apenas porque não consegui salvá-lo.

Milênio -5

Kye não conseguia acreditar; ou melhor, não queria aceitar.

Ele arrancava os cabelos, enquanto andava impaciente em círculos pelo escritório de seu pai, o Imperador das Galáxias, aguardando sua chegada após a injustiça que lhe fora cometida na cerimônia de escolha do seguinte Imperador do espaço – alguém que assumiria o posto quando o atual líder falecesse. Kye estava furioso; indignado; incrédulo. Seu próprio pai o tinha enganado! Como podia não ficar inconformado? Como tinha deixado aquilo acontecer?

Por mais que o rapaz esperasse, porém, o homem não retornava.

Kye retirou do bolso o frasco de nebulosa com vouge que tinha roubado do pai mais cedo naquele mesmo dia e bebeu um profundo gole – tanto na busca de reabastecer suas habilidades, quanto na de adquirir coragem para enfrentar o Imperador. Uma raridade; uma exceção; uma digressão auto perdoada devido às circunstâncias. Com um breve estalar de dedos, ele se teletransportou, atrás daquele que nunca voltaria.

• • • ∞ • • •

Seguindo a vibrante presença do pai nos mapas espaciais pintados em sua pele, Kye se teletransportou para o meio do deserto do universo, envolvido apenas por escuridão e pelo brilho fraco de estrelas tão distantes que já nem pareciam mais estrelas. Confuso, ainda que pronto para discutir até que convencesse o pai de mudar de ideia, Kye procurou pelo Imperador no vazio.

O rapaz avistou o homem, distante, conversando discretamente com os membros do Conselho de Escuridão e uma jovem. Kye estreitou os olhos. Seu pai estava falando com a garota que tinha escolhido para ser a próxima Imperatriz das Galáxias; um posto que deveria ter sido dele. Talvez ele estivesse se desculpando por Kye, depois das acusações que o rapaz a fizera; talvez ele estivesse a assegurando que as ameaças dele de expor segredos que ela supostamente tinha eram apenas frívolas; talvez ele estivesse tentando convencê-la de não denunciar Kye por suas sabotagens, só para assegurar o que ele acreditava já ser dele por direito. Mas, na verdade, Kye não se importava com o que seu pai estava falando; ele só queria ser escutado.

O rapaz respirou fundo e caminhou com passadas pesadas na direção do Imperador, os punhos cerrados até que as unhas cravassem sulcos na própria alma.

Quando perceberam que o intruso estava se aproximando, a conversa se encerrou. O Imperador se virou para ver o rosto daquele que os atrapalhava e, deparar-se com a feição furiosa de Kye, o fez suspirar de puro cansaço. Ele conhecia suficiente o filho para saber que toda aquela raiva intimidadora em sua face era apenas uma fachada para esconder toda a sua decepção ao ter seu orgulho ferido por aquele em quem mais confiava. Como o Imperador podia sentir qualquer outra coisa além de pena?

– Você disse que o meu projeto era o melhor! – Gritou Kye, quando estava próximo o suficiente para ser ouvido. A competição para a escolha do próximo Imperador das Galáxias tinha sido a seleção do melhor protótipo de um universo ideal, onde existisse uma perfeita harmonia entre as civilizações que o habitavam e recursos ilimitados dentro de suas fronteiras infinitas. Fora um desafio; e Kye tinha feito um projeto perfeito. Mas perfeição não fora suficiente.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora