5. Tradições de Nebulosa

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Frio e quente.

Eu nunca entendi como você conseguia tomar algo tão quente no verão.

E você nunca entendeu como eu conseguia tomar algo tão gelado no inverno.

Pelo menos nós tivemos várias estações para julgar um ao outro.

Milênio 7

Como ele conseguia fazer aquilo? Como ele conseguia saber instantaneamente para onde ir? Como ele conseguia rasgar o plano do universo para se mover pelas distâncias infinitas da realidade? Klairer se perguntava sobre a habilidade espacial daquele desconhecido chamado Kye, esperando ser igualmente misteriosa para ele, com suas capacidades de manipular o tempo. Mas por que ela estava se perguntando sobre as habilidades dele e não sobre a sensatez que faltava em si mesma? Klairer tinha acabado de conhecê-lo, em uma prisão para os indivíduos mais perigosos daquele superaglomerado de galáxias, mal descobrira o seu nome e então o deixara teletransportá-la uma segunda vez pelos vazios desconhecidos do universo. Ela não sabia se podia confiar nele; mas já estava confiando.

A única coisa que tinha como garantia era a esperança de que sempre veria o céu seja lá onde ele a levasse. Tudo de que precisava era alcançar as estrelas do destino; e então sempre seria capaz de se salvar do próprio passado. Mas agora, perdida na nova imprevisibilidade de sua vida, Klairer já não sabia mais se elas sempre estariam ali.

Quando ela abriu os olhos para absorver onde estavam, algo nela esperava pelo pior, como algum lugar escuro e perigoso, cheio de pessoas assustadoras como aquelas que viram na prisão. Mas então ela foi surpreendida por uma explosão de cores vibrantes à sua volta, ao ver-se diante de um grande letreiro colorido onde estava escrito o nome do local: Entropia. Eles estavam em uma sorveteria; que também era uma cafeteria.

– Você me trouxe em uma sorveteria/cafeteria?! – Klairer disse muito mais alto do que deveria, atraindo ao redor os olhares dos seres de matéria reflexiva, não geradores de luz, nem absorvedores, que aproveitavam a agradável e ensolarada tarde daquele mundo desconhecido. Sabiamente, Klairer prosseguiu aos sussurros: – Nós acabamos de fugir da prisão e você me traz em uma sorveteria/cafeteria?

– E eu tenho muitas razões para isso. – Ele respondeu, caminhando em direção a uma fila para fazer o seu pedido.

– Me convença de que você não é completamente louco. – Ela cruzou os braços.

– Isso é difícil. Nem eu tenho certeza às vezes. – Deu de ombros com um sorriso casual que desapareceu assim que ele percebeu que não estava contagiando a garota. – Primeiramente: eu nos trouxe para cá porque está fazendo calor hoje, nesse mundo, então faria sentido tomar um sorvete.

– Conveniente. – Estreitou os olhos.

– Você tem alguma coisa contra sorveterias que também são cafeterias?

Klairer se controlou muito bem para não soltar uma risada amarga diante do quanto ele estava longe do verdadeiro incomodo dela.

– Não. Mas eu tenho algo contra imprudência. – Kye revirou os olhos, rindo da preocupação desnecessária da garota. – Ou contra segundas intenções de potenciais psicopatas que podem secretamente querer me envenenar. – Klairer estreitou ainda mais os olhos, enfatizando sua desaprovação.

– Já entendi sua desconfiança. Faz sentido. Eu mesmo costumo dizer: nunca confie em algo que pense por si mesmo. – Sua concordância despreocupada desarmou um pouco do receio de Klairer. – Mas eu não vou envenená-la. Minha segunda razão para nos trazer para cá é que preciso ou de vouge, ou de nebulosa para pensar direito; e ainda está muito cedo para vouge. – Fez uma pausa, corrigindo-se em seguida: – Não que eu me importe com isso, já que acho que o quanto bebi hoje de manhã ainda está me afetando... – Fez uma careta pensativa, apenas implicando com a garota.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora