4. O Futuro que Deveria Ter Sido

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Você sabia o quanto ia se perder ao me deixar perder-nos?

Eu gosto de acreditar que sim.

Gosto de acreditar que você sempre soube de tudo, de todas as eras, por mais distantes que parecessem e, ainda assim, deixou-se se submeter a elas. Gosto de acreditar que, por trás de toda aquela tragédia, você viu alguma coisa que valesse a pena o sacrifício de deixar aquele se tornar seu destino.

Talvez o que valesse a pena tivesse sido eu.

Mas você ia me perder eventualmente. E sabia disso.

Então por que se submeter à jornada se o final não vale a pena?

O final da vida não vale a pena.

Mas a jornada nos seduz demais... Nós amamos viver demais... É um ciclo vicioso em que a vida é um fim em si mesma para a razão de nossa existência.

Então gosto de acreditar que eu tenha feito sua jornada valer a pena, mesmo não sendo eu a razão final dela.

Milênio 14

Kye abraçava o corpo inerte e gelado de Klairer ao chão, a mão pressionada contra sua pele na fraca tentativa de impedir que ela se dissolvesse em pó e transbordasse na forma de um líquido brilhante, nebuloso, rubi e vital, que sempre chamaram de sangue. As lágrimas se formavam nos olhos dele, turvando sua visão, mas Kye se esforçava para não deixar as gotas escorrerem pelo rosto, os lábios espremidos, o maxilar retesado.

– Não era para ter sido você! – Ele grunhiu. – Era para ter sido eu! – Um sorriso fraco e triste se abriu no rosto dela. – Você não tinha o direito de mudar isso! Era para eu ter sido atingido, não você! – Parecia reclamar com ela, mas sua expressão implorava que Klairer mudasse o passado para ela nunca ter sido ferida no lugar dele. Mas não importava o quanto implorasse; Klairer nunca seria egoísta o suficiente para mudar o passado e transformar o sangue dela espalhado pelo chão no sangue dele. Um deles tinha de sofrer, e, depois de ela tê-lo visto morrer em seus braços tantas vezes, Klairer não podia arriscar. Tinha de ser ela.

– Eu só não queria... – Murmurou fracamente. – Ver você morrer de novo...

– De novo? – Indagou ele, confuso, sem resposta. – E por isso eu tenho que ver você morrer? – Rosnou com os dentes cerrados, já incapaz de controlar as lágrimas que, transparentes e brilhantes, escorreriam pelo rosto dele, mesclando-se com o líquido que transbordava de Klairer nas nebulosas ondas vermelhas dela. – Eu não vou deixar você morrer! – Prometeu com firmeza. – Não agora! Não antes de você ter sua vida de volta!

Ela levantou os olhos para o destino, curiosa para saber se o rapaz iria mesmo conseguir cumprir sua promessa ou se aquele era o fim de sua jornada. Mas Kye não conseguiu deixá-la. Antes que Klairer pudesse ler qualquer coisa, ele se colocou entre ela e o céu negro, interrompendo-a com um sussurro firme:

– Não ouse ler o destino! – Recebeu apenas o silêncio frustrado dela. – Não há o que descobrir! Você não vai morrer! Eu não vou deixar! – Sua determinação era palpável, sólida, envolvendo-os não em esperança, mas em certeza.

– Se essa for a decisão do destino, então você não tem escolha, Kye... – Klairer sussurrou com uma tristeza no olhar suave. O rapaz mordeu os lábios, ciente da verdade naquilo.

– Você é irmã do tempo, filha do destino... A eternidade está nos seus planos! – Ele tentou passar calma a ela, mas ela, que abraçava de volta a morte que a abraçava, estava muito mais calma do que ele. – O destino não vai deixar você morrer agora... Não antes de mim e da minha mortalidade.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora