38. Caindo dos Céus

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A estrela cadente despencou em chamas das altitudes do infinito.

A fiz um desejo.

E eu mesmo o atendi.

Milênio 14

Instantaneamente, Klairer manipulou o destino por sua própria visão para fazer com que Kye nunca a tivesse arrancado de seu caminho. Em um piscar de olhos, ela estava novamente entre ele e a mulher, no mesmo ponto e instante do espaço e tempo, como se nenhum segundo tivesse passado no esconderijo dos cristais. Dessa vez, porém, existia um intenso pavor por trás de seu olhar.

– Eu vi seis cristais, Kye! – Gritou ela, tentando alertá-lo. – Está faltando um!

– Sempre foram seis! – Retrucou o rapaz, como se Klairer fosse louca. – Saia da frente!

Kye achava que sempre tinham sido seis cristais; mas a garota sabia que aquilo não passava de uma ilusão da manipulação do tempo. Klairer tinha absoluta certeza de que sempre tinham sido sete. Não havia dúvidas de que um dos cristais tinha sido roubado deles no passado, antes mesmo que pudessem tê-lo pegado, de forma que Kye nunca tivesse sequer sabido dele.

Apenas alguém capaz de controlar o tempo poderia tê-lo roubado. E Klairer tinha razão em estar apavorada.

Sob a manipulação do rapaz, o espaço se contorceu como uma grande mão invisível em volta de Klairer, empurrando-a para o lado como se escorregasse para um vale profundo em uma malha misteriosa. Kye a tinha tirado do caminho novamente.

Klairer oscilou como um barco no meio de uma tempestade, sua rota coincidindo em perfeita colisão com um degrau de metal que desabara dos céus. Kye não tivera como ter previsto aquilo. Antes que pudesse ser esmagada, Klairer se jogou para fora do caminho, abraçando seu rosto contra o chão para escondê-lo dos destroços que voaram da explosão de concreto às suas costas. Quando ela tentou se levantar, não conseguiu se afastar da cratera que tinha se formado no chão, como se algo a puxasse constantemente para trás. Ao virar-se para avaliar a situação, Klairer percebeu que estava presa. O degrau tinha caído sobre a cauda estupidamente longa de seu vestido, impossibilitando-a de fugir dali, condenando-a.

Klairer tentou puxar o tecido preso, tentou rasgá-lo, tentou mordê-lo, mas nada funcionava. As fibras eram resistentes demais para serem rompidas, o peso do degrau era mais do que o que ela poderia suportar. Não havia como fugir dali com aquele vestido.

Então ela fez-se nunca ter colocado aquele vestido.

Com uma mudança singela na ordem do tempo e nos acontecimentos do passado, desde a escolha do modelo do vestido, passando pelo tecido e terminando nos enfeites, Klairer fez-se tomar decisões completamente diferentes. Era quase como se ela sempre soubesse que precisaria depois de vestes mais maleáveis e de fácil locomoção.

Seu novo vestido branco não era longo e volumoso. A saia, do mais fino e suave cetim, terminava na linha de seu tornozelo, deixando perfeitamente à mostra suas botas vermelhas deselegantes; mas, naquele momento, beleza nenhuma importava. Uma fenda estendia-se desde o topo da coxa, dando-a muito mais mobilidade e liberdade do que o tecido pesado e fechado do vestido anterior. Agora Klairer não se sentia mais uma idiota.

Após aquela simples alteração, a garota puxou sua saia mais uma vez para longe da cratera e caiu para trás, livre como se nunca tivesse ficado presa. Ao desabar no chão, seus olhos foram instantaneamente levados para cima, onde, no topo dos degraus mais altos, ela viu Topher.

Conforme todo aquele conflito se desenrolava, o homem tinha simplesmente ignorado o caos ao redor e subira as escadas com calma e precisão, tal qual soubesse exatamente em que instante qual degrau desabaria. Nada o abalava, nada o surpreendia. Klairer lutou contra o aperto em suas entranhas ao pensar na possibilidade de que, na verdade, tudo aquilo estivesse nos planos de Topher desde o início.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora