49. Estrelas Cadentes

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Da vida, aprendi que a perda de tempo, gastar a existência segundo por segundo como a sola de seu sapato preferido, nem sempre é ruim.

Chega-se a um ponto em que tudo é perda de tempo.

Mas ninguém fica descalço por isso.

Alguns até aprendem a sapatear.

Milênio 7

Ela se afogava voluntariamente no céu longínquo, quase como se o firmamento não estivesse tão longe assim; ou como se não fosse infinito; ou como se ela entendesse sua infinidade. Klairer não entendia, é claro, mas gostava de fingir que sim. Afinal, nem valeria a pena olhar para o céu se não fosse para usar aquele olhar sobrenatural de quem está em um plano superior, compreendendo a magnitude do universo sem nenhuma vontade de compartilhar sua sabedoria com mortais ao redor.

Kye, por outro lado, estava entediado, ainda que vissem o mesmo céu.

– Isso tudo não é perda de tempo ou algo do tipo? Não há outra forma melhor de passar a virada do milênio? – Indagou ele, os olhos presos no céu escuro contra sua própria vontade e seu orgulho. – Vejo estrelas e estrelas, mas nenhuma cadente. Estão todas entediantemente obedecendo às regras.

– As estrelas não chegaram ainda. Dê tempo a elas. – Disse Klairer pacientemente. – E tempo não é algo que se perca. – Corrigiu como se conversasse com uma criança. – É algo que se ganha a cada instante; algo que se acumula na memória.

– Essa é a forma otimista de se ver... – Retrucou resmungando.

– Essa é a forma de se ver em que se ignora a mortalidade. – O rapaz a encarou de canto de olho, finalmente desprendendo-se do céu ao qual fora obrigado até então a observar. – É a forma de se ver em que se ignora nossos limites. Sem limites, não há perda de tempo.

– Eu chamo isso de ilusão. – Provocou ela, encarando-a de forma convidativa para uma discussão metafisica.

– E você acabou de perder uma estrela cadente. – Retrucou Klairer, sorrindo com superioridade e apontando para o local no céu escuro onde estivera, no instante anterior, o feixe luminoso. Kye voltou rapidamente seu olhar para o firmamento, tarde demais para ver o rastro de luz remanescente.

Frustrado por ter se distraído por um segundo e perdido a passagem de uma das estrelas cadentes que tanto esperavam, Kye bufou e voltou a encarar o céu.

– Agora sim toda aquela espera realmente pareceu uma perda de tempo. – Murmurou ele.

– Para mim valeu a pena. – Klairer deu de ombros. – Mas a melhor parte foi ver você perder. – Seu tom implicante fez Kye sorrir, mas esconder aquilo a todo custo. Ainda assim, ela sabia que ele estava sorrindo. – A próxima vai demorar um pouco para aparecer. – Disse casualmente.

Kye não conteve sua indignação:

– Você sabe a hora em que elas vão passar?! – Gritou. Klairer não conseguiu conter a onda de riso que explodiu nela. – Estava lendo isso no destino enquanto eu esperava que nem um idiota? – Ela nem conseguia mais respirar, sufocando-se em riso e confirmando enfaticamente. "Sim, Kye, você é um idiota!". Ele foi contaminado, mas segurou-se, mantendo sua indignação. – E o nosso acordo?

Quando Klairer finalmente se acalmou e voltou a respirar do vácuo do espaço, enxugando as gotas alegres que se formaram nos cantos dos olhos, ela respondeu:

– Você também não é um exemplo de honestidade! – Kye fingiu-se ofendido com a acusação. – Eu te vi teletransportar o controle da televisão para sua mão!

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora