41. Nascimento de Estrelas

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O nascimento traz um novo indivíduo ao universo.

Apenas mais uma peça que se encaixe nas engrenagens do destino.

Mas algumas peças não se encaixam em lugar nenhum.

Milênio 0

Em um ponto etéreo do universo, à beira do incompreensível, estrelas se reuniam para presenciar com silêncio e expectativa a cerimônia de nascimento de um novo ser de luz.

Todos aguardavam atentamente. Não era todo dia em que se assistia vida surgir da matéria inerte do espaço. Eram necessários, afinal, inúmeros milênios para que um ser de luz fosse finalizado no ventre de sua estrela-mãe, em uma meticulosa e longa gestação, até que a nova estrela aprendesse a fina arte de brilhar. Para um ser de luz, a habilidade de iluminar era, afinal, o que o dava identidade; era o que os tornavam indivíduos, pertencentes à raça de luz e diferente das outras presentes no universo: os seres de escuridão – capazes de absorver, retirar e dissolver – e os reflexivos – limitados apenas a espelhar aquilo que o universo os mostrava, tendo a luz a benevolência de permiti-los expressividade. Era preciso muito tempo e dedicação para que, ao sair do ventre, uma estrela soubesse de fato ser uma estrela.

Quando terminada a gestação, por fim, a estrela-mãe se dissolvia em uma nuvem de nebulosa no berçário de astros, deixando ao centro, tal qual uma semente, a pequena pessoa de luz gerada em seu interior. Assim, desaparecendo e se diluindo pela infinidade do universo, a estrela-mãe morria, após cumprir com sua única missão e propósito de existência. Era apenas essa conexão entre a estrela-mãe e sua prole que a dava a vida; e, quando esse vínculo era quebrado, apenas uma delas tinha a inconveniência de viver.

O destino oscilava sobre a cabeça das estrelas que assistiam aquele evento, dançando diante dos olhares atentos do Conselho de Estrelas. Quanto mais se aproximava o momento do nascimento, mais o destino se ajustava, preparando aquela nova vida para o começo de seu fim. E, quando o destino se congelou em sua formação ideal, todos souberam que estava perto.

A vida daquele novo indivíduo estava pronta, antes mesmo que ele sequer tivesse nascido. O próprio céu, indomável, inalcançável e infinito acima, era a prova.

– Será uma garota. – Revelou, alto e envolvente, o Imperador do Destino. As estrelas comemoraram, apenas por aquele ser já ser alguma coisa; e por um ter um futuro para que pudesse ser alguma coisa. Ela mal tinha nascido e já estava coberta de esperança e destino. Que tragédia. O Imperador caminhou pelo piso lustroso do universo, entre o infinito acima e o abaixo, para ler de outros ângulos o que estava escrito no céu. – Ela terá uma vida... Intensa. Instigante. Interessante... – Revelou compassadamente, conforme suas leituras se tornavam confusas e assustadoras, ao aprofundar-se mais e mais na vida daquela que ainda não nascera. – Fascinante. – Por fim, aquilo era tudo que ele era capaz de entender.

O Imperador poupou os demais dos detalhes sórdidos que conseguira compreender daquela futura vida: a prisão, a rebeldia, a destruição... Ele pensou em impedir tudo aquilo; mas, por mais que soubesse o que ia acontecer, não podia privar a garota da vida. Tinha de deixá-la cumprir com seu destino; tinha de deixar o universo conhecê-la; tinha de deixar o tempo guiá-la; até que ela aprendesse o suficiente para guiá-lo. O Imperador tinha de deixá-la viver.

E então aconteceu.

A explosão.

O nascimento.

Cegando a todos, a estrela-mãe explodiu em um tsunami de luzes coloridas e partículas espectrais, flutuando e envolvendo a plateia curiosa com um sopro de vida. E, no piscar de olhos seguinte, a grande esfera se dissolveu no vácuo do universo em uma nuvem de nebulosa, desaparecendo daquela realidade. Era como um mar de poeira estelar, em que, ao turvo, etéreo e brilhante centro, uma pequena criatura repousava encolhida.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora