Nem mesmo o universo conhece a eternidade.
Por que nós conheceríamos?
Novo Milênio 7
Contra sua vontade, Klairer retornou ao corredor vazio da Grande Punição. O ambiente estava exatamente como tinha deixado: repleto de cadeiras desocupadas e totalmente desabitado, senão pela presença da Imperatriz do Destino. A solidão da imensidão branca e silenciosa não a havia espantado, afinal.
Confusa, Klairer olhou ao redor, percebendo que realmente não havia nenhum guarda ou membro do Conselho naquele comprido corredor para ajudar a Imperatriz em sua missão de subjugar Klairer e mandá-la para a punição. A jovem criminosa ergueu uma sobrancelha presunçosa. Klairer era perfeitamente capaz de escapar. Tinha sobrevivido e fugido de coisas muito piores naqueles últimos sete milênios. Como a Imperatriz podia achar que conseguiria dominá-la completamente sozinha? Aquilo não fazia sentido.
Algo estava errado.
Mas, ainda assim, Klairer se aproximou.
Ela tinha um dever para cumprir, afinal, depois de todas as bobagens que fizera e de todos os crimes que cometera.
Chocando suas botas vermelhas contra o piso em passos ruidosos, Klairer caminhou na direção de sua antiga amiga. O som profundo de suas passadas ecoava por todo o corredor, alarmando a Imperatriz com a presença daquela pela qual tinha aguardado pacientemente, para que pudesse puni-la de acordo com as leis do tempo. A Imperatriz não conseguia não se sentir intimidada pela exalante determinação, seriedade e inegável coragem naquela que era, tecnicamente, uma criminosa. Klairer tinha uma atmosfera imperial ao seu redor que poucos eram capazes de carregar; tinha um poder em seu queixo erguido que poucos tinham a ousadia de desafiar. Klairer mudara muito desde a época em que estudavam com os demais aprendizes; tinha aprendido coisas que o Conselho não teria sido capaz de ensiná-la; tinha desenvolvido em seu coração uma honra, que, por mais rebelde e desobediente que fosse, sempre a levava a fazer a coisa certa. E era devido à fé na mulher que Klairer tinha se tornado, que a Imperatriz aguardava sozinha por ela.
– Vamos terminar logo com isso. – Rosnou Klairer, passando reto pela Imperatriz e indo direto para a punição. Contra suas expectativas, porém, a antiga amiga não a seguiu.
– Você ainda não aceitou sua punição, Klairer. – Revelou a Imperatriz, como se aquilo fosse um empecilho. Parando de caminhar e virando-se para sua interlocutora, Klairer ergueu uma sobrancelha indignada, ainda que não negasse o fato. Por mais que tivesse a coragem de enfrentar o desconhecido de sua punição e soubesse, racionalmente, que tinha feito besteiras que mereciam ser repreendidas (após machucar e colocar em perigo inúmeras vidas com seus atos impensados, como o de recriar a realidade), Klairer simplesmente não conseguia ver aquilo tudo através de olhos que não os seus; não conseguia abdicar daquele corrosivo desejo por liberdade em seu âmago, por mais que não existisse mais onde ser livre; não conseguia odiar-se ao ponto de condenar-se, ainda que tivesse a honra de se entregar. Ao olhar para seu passado, Klairer não se arrependia de nada; mas, ainda assim, reconhecia o quanto tudo que fizera fora perigoso para o universo; e era exatamente por esse motivo que simplesmente não ia embora. Ela estava ali, entregando-se, ainda que não tivesse aceitado de fato sua punição. Abrindo os braços, Klairer retrucou:
– Mas eu estou aqui.
A Imperatriz espremeu os lábios em uma expressão compreensiva.
– Por enquanto. – Sussurrou com uma tranquilidade exótica. – Mas quando Kye chegar para resgatá-la, você fugirá novamente, sem nem pensar duas vezes. – Revelou a Imperatriz. – Você sabe que entregar-se é a coisa certa a fazer, Klairer, mas ainda não desistiu dessa vontade intrínseca de escapar.
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Estrela Caída| Versão Em Português
Bilim KurguEm um universo predeterminado, ela tinha escolhas; e, em uma galáxia de prisões e caminhos perigosos, ele conseguiu criar seu próprio caminho. Quando Klairer e Kye se conheceram nos confins de uma prisão branca e imaculada, na hora e no lugar perfei...