10. Fotos do Futuro

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A fotografia é a arte que mistura as obras da natureza com a perspectiva do homem.

Temos a liberdade de salvar momentos à própria escolha. E são apenas os instantes capturados como vagalumes que ficam para sempre.

Nós estamos aqui para congelá-los.

O universo cria a beleza; e nós julgamos o que deve ou não ser eternizado. E não consigo imaginar outro propósito pelo qual o universo nos tenha deixado surgir.

Sim. Eu realmente gosto de fotografia.

Milênio 8

– Tenho um presente para você! – Sorrindo de orelha a orelha, Kye disse para Klairer. – Mesmo tendo gastado as suas moedas estelares, eu obviamente vou usá-lo muito mais... Mas algum dia você vai me agradecer por isso. – Deu de ombros, os braços escondendo algo atrás das costas. Klairer encarou-o na alma. Ela definitivamente não estava criando expectativas. – Vamos lá, fique animada! – Implorou. A garota fez um esforço irônico:

– A que materialização capitalista você me dá a honra de introduzir na minha vida?

– Apresento-lhe... – Kye fez uma pausa, o rosto iluminado, e então revelou o que escondia atrás de si: – Uma câmera!

Klairer respirou fundo.

– Uma... Câmera?

– Uma câmera. – Kye confirmou, como se fizesse um juramento.

– Defenda-se. – Retrucou ela. – Por gastar as minhas estrelas para comprar algo tão inútil como uma câmera.

– Inútil para você, que pode ler o passado no destino! – Ele sorriu, implicante.

– Exatamente! E de quem eram as estrelas?! – Kye a ignorou.

– É injusto que, para mim, só seja permitido ver o passado através das minhas memórias, algo que, por sinal, não é a minha maior virtude. – Murmurou. Klairer bufou, frustrada por entendê-lo, ainda que não fosse como ele. – Você tem o destino. Eu não. Mas eu quero me lembrar também... – Contaminando-a com uma certa pena, Kye conseguiu fazê-la se esquecer, em parte, do quanto ela estava irritada com o consumo desnecessário dele.

– Do que você quer se lembrar, especificamente? – Klairer indagou, curiosa.

– Nada no passado que eu já não tenha esquecido. – Deu de ombros. – Mas quero lembrar de tudo daqui para frente: cada nascer do sol, cada pôr do sol, essa sua careta...

– Lisonjeiro.

– Tem algo de especial nesse poder de eternizar o instante, não acha? – Kye começou seu longo monólogo sobre o pouco que entendia do tempo: – O momento ganha sentido quando é congelado; passa a fazer parte de uma história; torna-se algo com valor quando revisitado... Ele fica até mesmo mais importante na nostalgia do que quando está de fato sendo vivido... – Kye analisou, irritantemente reflexivo.

– Você realmente gosta de dramatizar tudo, não é? – Implicou Klairer, sorrindo.

– Isso não é dramatizar. É refletir sobre.

– Então você reflete tanto que já virou um espelho.

– Eu me recuso a rir disso. – Ele murmurou.

– A escolha de viver essa vida opaca é sua. – Ela deu de ombros. – Eu e meu talento para comédia não temos nada a ver com isso. – Kye revirou os olhos.

– Posso voltar para a minha "reflexão"? – Questionou, incomodado.

– Claro. Vou parar de refratar do assunto. – Segurou o riso, enquanto Kye tentava ignorar seus trocadilhos ruins.

Estrela Caída| Versão Em PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora