1 - Londres

77 5 2
                                    

Tyler Hills

O sol era tímido nessa manhã, hesitou em visitar a minha janela quando os respingos de água foram mais rápidos. O meu celular que vibrava a poucos centímetros de meu rosto esfalecido revelava o meu alarme para às sete da manhã, e essa única pista foi suficiente para que eu solucionasse mais um dos meus infortúnios: eu não consegui pregar os olhos por um único minuto que fosse.

Os meus pensamentos que pertubavam os meus sonhos e atraiam os meus pesadelos não eram volumosos ou diversificados. Apenas uma grande e exaustiva repetição entre as duras palavras de Natan que congelavam partícula por partícula do meu coração esmagado. Considerar que o meu descanso dessa tortura mental era justamente o momento em que eu desejava que aquele caminhão tivesse atingido o meu carro, ou qualquer outro fracasso meu com tentativas de overdose me acalmava, mas também me pertubava.

A brisa suave da chuva que espiava o meu aposento pela frestra deixada pela janela mal fechada despertou as minhas mãos. Elas estavam frias como neve e ásperas como pregos quando as senti deslizando por meu rosto. O seu repouso foi calmo, mas prontamente retirado quando meus pulmões expulsavam os mais sentidos suspiros. Eu fui derrotado. Eu estava derrotado. E nada que eu fizesse seria capaz de me salvar da minha ruína. Essa ruína que fui arremessado há meses. Essa ruína que, por mais que me aterrorizasse, eu nunca pensei que eu despencaria em seu chão. Nunca pensei que eu despencaria com a corda que me salvava. A corda que Natan rapidamente lançou para mim, mas que foi cortada na mesma velocidade e intensidade. O baque das minhas costas contra o piso enlameado ainda reverberava por meus ouvidos. Ainda ecoava em meus pensamentos. E para sempre me torturará em meus pesadelos.

-Tyler? - Uma voz ressoa do outro lado da porta, levemente preocupada com o estado de solidão que me submeti desde a noite passada.

-Oi - Respondo sem hesitar.

-Posso entrar? - Meu pai questiona, já empurrando suavemente a porta que revelava a preocupação em seu semblante - Você comeu o... - Ele aponta para o prato que ele havia deixado em minha escrivaninha, avistando-o assim como foi deixado.

Meus olhos nesse momento apenas acompanhavam os seus movimentos cautelosos em meu quarto. Eu reconhecia o que ele estava sentindo. Era perceptível. Era palpável. O medo, o arrependimento e o sofrimento logo se estagnavam em meu quarto. Por algum motivo, ele se culpava por tudo o que estava acontecendo em nossas vidas. Assumo que eu também me convenci por alguns meses que colocar um enorme alvo em suas costas e despejar todas as minhas mágoas seria o melhor a se fazer. Mas, após inúmeros conflitos, ficou claro que isso só piorou tudo. O clima de desunião e tensão que se estabeleceu em toda a casa nessa época foi insuportável.

-A sua psicóloga me ligou - Meu pai se esquiva dos montes de roupa lançados pelo carpete, aliviado quando conseguiu se sentar na beira de minha cama.

-Legal.

-Ela me disse que você faltou nas últimas semanas. Ela está preocupada com o seu estado, Tyler. E eu também estou - Ele franze a sobrancelha, desesperado por um falho contato visual.

-Não tive tempo - Minto.

-Você precisa ir - Meu pai insiste.

-Eu sei.

-Só... - Ele se levanta - Toma um banho e coloca uma roupa. Vou te levar até lá.

Toxic Love 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora