Toxic Love 2

2 - Você está entrando em Asheville

Tyler Hills

A placa esverdeada cintilava no céu alaranjado "Você está entrando em Asheville". As letras eram iluminadas da mesma forma como da vez em que eu retornava para a cidade com Natan após alguns dias em meu chalé. Ao mesmo tempo que nada parecia igual, tudo estava diferente. Tudo estava completamente diferente. Sinceramente? Eu não esperava estar de volta à cidade em tão pouco tempo. Muito menos queria que isso acontecesse. Eu não estava pronto para ver o resultado da catástrofe que Thomaz havia feito. Eu estava há meses sem ao menos um mínimo sinal de vida de Natan. Nenhuma postagem, stories ou tuíte. Nada. E eu não tinha menor reação de qual seria a sua reação se nos reencontrássemos.

Ter que lidar com a sua ausência total e também de informações sobre ele era demais para mim. Era tudo um grande desafio que insistia em dificultar a cada metro que percorríamos para dentro dessa cidade. Eu me recordava claramente do dia em que estava voltando com Natan. Os óculos escuros que escondiam os seus olhos abatidos, os seus cabelos desarrumados que brilhavam pela luz do sol e o seu corpo completamente desajeitado no assento. Eu me lembrava de cada mínimo detalhe. Desde o clima estranho que pairava entre nós até as palavras que trocamos, o nosso primeiro contato desde que ele assumiu o que sentia por mim. Essa não era a única memória que persistia em meu subconsciente. Cada nuance da última vez que fomos até o meu chalé também era perfeitamente desenhado em minha mente. A forma como eu havia partido completamente destruído, desesperançoso e abalado criava um contraste intenso com o modo como voltei. Como voltei completo, feliz e relaxado. De uma forma ou de outra, essa simples placa acompanhou os momentos mais dramáticos da minha vida no último ano.

-Mia. Mia, chegamos, querida - Meu pai sacode a perna da garota que descansava no banco traseiro, recebendo apenas um grunhido.

-A gente vai ficar em casa? - Inclino o meu olhar para o meu pai, deixando transparecer todas as minhas emoções que escorriam pelos meus olhos.

Pela primeira vez em meses, eu estava sentindo algo além de um enorme vazio existencial. Apenas a ideia de um encontro com Natan, mesmo que fosse para ele gritar e espernear pela minha presença, despertou as minhas emoções. Despertou as piores delas. A angústia. A culpa. O medo. Todas elas eram perceptíveis em meus olhos.

-Vamos, filho - Meu pai me encara, afetando-se imediatamente ao perceber como eu estava - Tá tudo bem? - Ele tentava mais uma vez a mesma pergunta que, em todos esses meses, ele não conseguiu outra resposta a não ser o meu silêncio.

-Não. Quando que vai ser o julgamento? - Desvio o foco do nosso assunto, torcendo para que ele acreditasse que o meu abalo apenas estava ligado com a sentença da minha mãe.

Na verdade, isso era uma das coisas com que eu menos me preocupava. Com os melhos advogados do estado e com um juiz que poderia deixar se levar facilmente, o destino da minha mãe não seria nem um pouco cruel. A pena que ela receberia não seria nem metade da que ela realmente mereceria ou receberia se fosse uma pessoa comum em Asheville.

-Terça de manhã. Temos o fim de semana pra... pra gente se preparar - Eu não era o único completamente abalado emocionalmente naquele carro. Bastava um análise superficial sobre meu pai para ter a certeza que ele estava enfrentando o momento mais difícil de sua vida. O que um homem de meia idade dissesse iria determinar todo o rumo da vida da sua esposa e de sua família. Mesmo assim, ele insistia em manter uma postura que era a única coisa capaz de passar alguma sensação de segurança para Mia. Eu o admirava por isso.

Poucos minutos foram o suficiente para que já estivéssemos dentro de nosso antigo bairro. A simples rachadura na minha barreira emocional atravessava cada vez mais toda a estrutura de contreto da barragem que segurava toneladas e toneladas de sentimentos aprisionados por meses. Cada memória como churrascos da vizinhança ou as inúmeras tentativas da minha mãe de me fazer aprender a andar de bicicleta. Eu conseguia me lembrar perfeitamente do dia em que finalmente tivemos sucesso