7 - Justiça

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Tyler Hills

Os meus olhos se abriram e nada mais aconteceu. Eu estava totalmente paralisado. Bem, essa não era a primeira vez que aquilo acontecia. Pelas minhas contas, era a sexta vez. Mas o motivo era diferente. Eu ainda me culpava todos os dias pelo fim trágico que tive com Natan, eu me culparia até o último dia da minha vida, mesmo que, por algum milagre que já me cansei de esperar, ele me perdoe por tudo. Eu estava paralisado por ser segunda-feira. Aquela não era uma segunda como as outras. Não era uma segunda tediosa em que todos voltam para o ciclo repetitivo em suas vidas após dois dias de descanso. Era uma segunda que definiria o restante da minha vida. Aquele era o dia do julgamento da minha mãe.

O céu nasceu cinzento naquele dia. Os pássaros não cantavam como antes e a cozinha estava completamente silenciosa. Seria de um egocentrismo enorme acreditar que o universo se alterou totalmente apenas para demonstrar compaixão pelo dia desafiador que os Hills enfrentariam. O universo não se importava. Essa era uma luta que nós lutaríamos sozinhos, uma luta que nem mesmo eu acreditava que deveria fazer parte.

Eu sai da minha paralisia, agarrando o maço de cigarros que estava guardado em minha gaveta. Em um dia tão nebuloso como aquele, vestir o seu moletom preto e fumar um punhado de cigarros era a única forma que eu encontrava de lidar com tudo.

Eu me sentei em minha janela como costumávamos fazer. Se eu fosse algum poeta idiota, definitivamente iria puxar um bloco de notas e versar estrofes sobre como o dia cinzento era um espelho para tudo o que eu estava sentindo. Mas eu não era, eu não era um poeta. Eu não passava de um jovem sem futuro que tragava o seu cigarro calmamente enquanto puxava a borda do moletom para sentir o perfurme de um saudoso amor. Eu não era um poeta, mas poderia construir ótimos versos em minha cabeça. Talvez ninguém encontrasse beleza neles e os considerasse totalmente toscos, mas, para mim, eles eram obras primas ainda mais valiosas que um quadro de Van Gogh.

Eu fumei três cigarros. Um atrás do outro. A cada dose de nicotina que adentrava a minha corrente sanguínea, mais o meu corpo pedia. Mais o meu corpo precisava. Assim eu fumei dois cigarros após o primeiro e já estava pronto para acender o terceiro quando senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Elas simplesmente chegaram, sem bater na porta e muito menos sem avisar que estavam vindo. As lágrimas chegaram e se acomodaram como se estivessem em casa e, assim, elas foram capazes de dominar todo o espaço que encontravam. Nem mesmo o meu cérebro compreendia o que elas estavam fazendo ali. Bem, ele raciocinava até o ponto de que elas tinham diversos motivos para estarem escorrendo em meu rosto, mas era incapaz de descobrir exatamente qual. Seria uma batalha perdida ficar procurando o porquê daquilo, então eu apenas me rendi.

Eu me rendi às minhas lágrimas e elas me consumiram. A tristeza das minhas lágrimas penetrou em minha pele e adoeceu todo o meu corpo.

A barreira emocional finalmente estava totalmente rompida. Meses e meses trabalhando em sua construção foram aos ares e agora a represa já não era mais uma represa. Ela voltou a ser o rio que antes era. Bem, não exatamente. Esse rio era cercado por árvores mortas e se encontrava com o céu nublado onde os olhos não podiam mais enxergá-lo. O formato era o mesmo, a cor da água também, mas os arredores o fizeram ser um rio totalmente diferente.

As minhas lágrimas pararam quando o quinto cigarro se transformou em fumaça. Só então eu pude admirar além da minha janela. Só então eu pude perceber toda a confusão que assumia o meu quarto. Revistas rasgadas, prateleiras quebradas e cacos de vidro sobre o tapete me faziam acreditar que um tornado havia atingido o meu quarto enquanto eu dormia. Eu desejava que essa fossse a versão verdadeira. Que a grande culpada de todo o estrago fosse a natureza, mais ninguém. Não foi bem assim que aconteceu. Eu era o grande culpado de tudo aquilo e só percebia após dois dias vegetando em minha cama. A mistura das minhas emoções com a abstinência que crescia a cada minuto que se passava me transformou em refém. Um refém silencioso que não era procurado por ninguém para ser livre novamente. Os meus versos soavam muito melhores em minha cabeça, devo admitir.

Toxic Love 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora