30 - Adeus, América

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Tyler Hills

Eu estava mais rápido do que esperava. Algumas horas de viagem e eu já estava no estado de Ohio. O sol ameaçava se por e eu não ousava parar aquele carro por um segundo que fosse. A minha sorte foi encontrar o tanque praticamente cheio, poderia ficar há apenas alguns quilômetros de Detroit sem parar por razão alguma.

A polícia já havia ficado para trás há vários quilômetros e eu não ousava entrar em qualquer cidade que fosse, independente do seu tamanho. Mantinha o meu caminho pela estrada, aproveitando da metade de sanduíche que encontrei embrulhada no banco em meu lado. Naquele caos complexo, eu estive em paz por horas.

A tensão voltou a tomar o controle quando finalmenre cheguei em Detroit. Precisei passar por dentro da cidade até chegar na fronteira. Cada segundo que passei ali foi como uma eternidade. O medo constante e a aflição tornavam tudo ainda pior.

Eu cruzei a fronteira para Ottawa. Eu oficialmente estava fora dos Estados Unidos e eu soltei um grito de alívio que quase me ensurdeceu. Havia comprado as passagens na internet há algumas horas e eu estava dentro do horário. Bastava comparecer em meu portão de embarque, ser revistado, e nunca mais pisar novamente naquele continente. Falando assim, parecia muito mais fácil.

Deixar Natan não saia da minha cabeça. Esse não era o nosso primeiro término, mas sim o último. E talvez esse fosse o melhor. Nós éramos incompatíveis, nós sempre fomos e sempre seremos incompatíveis. O que sentíamos um pelo outro não importava. A verdade é que éramos extremamente tóxicos e problemáticos e tudo acabou da pior forma possível. Natan me esqueceria em alguns anos, ele seguiria em frente. Acharia alguém legal e talvez até tivessem filhos. Natan seria feliz no fim de tudo. Ele merecia ser feliz. Eu não teria o mesmo destino. Provavelmente ficaria na casa da minha família por alguns meses até me mudar pro interior onde passaria o resto da minha vida tentando chamar o mínimo de atenção possível. Minha vida até poderia não ser miserável, mas com certeza não seria feliz.

Eu sentiria mais falta dele do que eu imaginava.

Enxuguei os meus olhos e parei nos fundos de um posto de gasolina. Era a primeira vez que parava aquele carro em horas. Minhas pernas estavam exaustas e minhas mãos doiam com a marca do volante gasto. Respirei fundo e esfreguei o meu rosto com as minhas mãos, afastando o cansaço que pairava sobre mim. Descansei brevemente, puxando a minha mochila no banco de trás e me enfiando rapidamente no banheiro ao fundo do estabelecimento. Por sorte, era um banheiro individual. A porta estava trancada e eu não corria nenhum risco. Debruçado sobre a pia, me encarei no espelho por um longo minuto antes que sacasse a máquina de barbear de dentro da minha mochila.

Os tufos de cabelo se amontoavam sobre a pia até não sobrar nada em minha cabeça. Ela estava totalmente raspada e eu encarava aquilo totalmente perplexo. Não tinha tempo para dramatizar aquilo. Coloquei um boné e um para de óculos de grau, os mais esquisitos que havia encontrado nas gavetas do meu pai. Poderia parecer idiota a minha tentativa de disfarce, mas as pessoas estavam ocupadas demais com as suas próprias vidas para me encarar o suficiente até descobrirem.

Por sorte, o antigo daquele carro havia deixado a sua carteira de motorista no porta-luvas. Não foi fácil, mas com um pouco de cuidado eu troquei as nossas fotos. Agora, eu oficialmente era o Roberth Bunch, 28 anos de idade, nascido no Hawaii. Era uma ideia totalmente desesperada para uma situação ainda mais desesperadora.

O caminho até o aeroporto foi mais cansativo do que a viagem como um todo. O trânsito, as viaturas que passavam ao meu lado e congelavam o meu estômago em nervoso. Quase não acreditei quando estacionei o meu carro ao lado da entrada. Carreguei a minha mochila e logo me enfiei no meio da multidão, passando despercebido pelos policiais espalhadoa ao redor do aeroporto. Provavelmente, eles sequer sabiam de quem eu era ou o que havia acontecido, mas eu não poderia cometer riscos.

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