19- Então é Natal

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Catarina


JÁ PASSAVAM DAS sete da noite e nada de Tomas chegar. Eu estava ficando preocupada, mesmo que ele tenha avisado que passaria o dia fora, mesmo sem explicações.

Fiquei intrigada e sem entender. Ele nem mesmo me esperou acordar. Liguei para Jared para saber se ele sabia de alguma coisa. Ele só me disse que uma vez por ano nessa mesma data Tomas sumia o dia inteiro, e nem mesmo ele sabia para onde ele ia.

O dia todo me perguntei o que seria isso, que nem mesmo o assistente que cuidava de tudo para ele não sabia.

Ele vai explicar quando chegar, disse para mim mesma.

Mas eu estava ficando mais ansiosa. Minha unha já tinha quebrado de tanto eu mordiscar. Com certeza Tomas pagaria pela minha unha quebrada.

Sara estava fazendo o jantar e eu andava para lá e para cá na sala enquanto vigiava Jane engatinhar pela sala.

O elevador soou. Um segundo depois Tomas entrou, com roupas de moletom. O cabelo semi molhado e os lábios num tom de roxo doentio.

- Tomas -  gritei.

Coloquei Jane no cercadinho e fui até ele.

- Onde você estava ? - perguntei.

Quando peguei sua mãe estava fria. Parecia que ele tinha saído de uma geladeira.

- Superando o luto - foi tudo o que ele disse, o que não fez o menor sentido para mim.

Mas senti um cheiro de bebida, o que me deixou mais intrigada.

Puxei ele pela mão até a frente da lareira.

Ele foi para pegar Jane.

- Não faça isso - puxei ele. - Você está gelado, vai deixá-la com frio.

- Sim, você tem razão - murmurou distraído.

Ascendi a lareira e sentei ele na frente. Percebi que as roupas dele estava úmidas e frias.

- Que diabos você estava fazendo ? - perguntei, mais preocupada do que irritada.

Tirei toda a roupa, inclusive o fiz tirar as calças.

Em instantes o corpo dele se aqueceu e os lábios voltou para a cor rosada natural.

- Pode me dizer onde estava ? - perguntei, calmamente.

- Velejando - ele respondeu.

- E estava chovendo ?

Ele fez que não.

- Eu pulei na água.

Arregalei os olhos.

- Por que fez isso ? Tomas, a água deve estar congelando. Estamos em pleno inverno.

Ele gargalhou.

- E estava. Eu achei que meu corpo ia congelar. Dai eu sai - ele explicou, de forma natural. Como se estivesse narrando um passeio no parque.

- Eu não estou entendo Tomas.

Ele deu de ombros.

- Desculpe, querida. Hoje é quando completa oito anos que Ale morreu - explicou, mas ele parecia distante. Como se só o corpo tivesse aqui, e ele estivesse ligado no modo respostas automáticas.

Compreendi tudo. Superando o luto. Superando a morte do padrasto.

Então ele me explicou o seu "ritual" de ir até o cemitério deixar flores e depois ir velejar. Sobre se lembrar dos melhores momentos com o padrasto. Ele também contou um pouco sobre o dia em que Alessandro o resgatou do pai, e sobre a o dia de sua morte.

Agora eu já te conheçoOnde histórias criam vida. Descubra agora