21- Fusões e decepções

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Tomas



ME VI DIANTE do mar. Eu estava parado na orla de Seattle, parado em frente as grades de proteção. O mar começava a se agitar. Apoiei os cotovelos no ferro frio, e fiquei observando enquanto a balsa de transporte navegava tranquilamente carregando pessoas até o outro lado da enseada.

Uma brisa gostosa, como manhã de primavera, beijou meu rosto. Fechei os olhos ao inalar o cheiro de flores e arvores verdejantes. O céu parecia azul e límpido, mas algo estava errado. Tudo parecia errado.

Foi quando olhei ao meu redor. A baia estava vazia, nenhuma embarcação estava ali ancorada. Mas ao meu lado tinha um homem.

O homem virou-se para mim. E sorriu. Meu estomago deu um nó. Aquele sorriso gentil e descontraído, como eu sentira falta. Os olhos bondosos pareciam ainda mais calorosos. O cabelo grisalho farfalhava ao redor do rosto, conforme a brisa de primavera passava por nós.

- Ale, o que faz aqui ? - perguntei.

- Vim te ver, filho - respondeu, e a voz era exatamente a mesma.

Me aproximei.

- Como é possível ?

- Tudo na vida é possível Tomas. Para tudo se arruma um jeito, menos para a morte - garantiu, calmamente.

Franzi a testa.

- Mas você está morto.

Ele olhou para baixo, para o seu corpo como se de repente notasse que tinha um. Ele estava vestido exatamente igual da ultima vez que eu o vira, antes daquele dia no hospital. Calça jeans, camiseta pólo cinza e chinelo.

- Acho que sim - constatou ele. - Mas eu nunca morri em seu coração.

- Por que veio ?

- Não é obvio ? Vim por você.

Fiquei completamente confuso.

- Não entendo.

Ele apenas sorriu. E então eu estava sozinho.

- Alessandro - chamei.

O tempo mudou. Nuvens densas e negras se formaram no céu que outrora estivera azul. Uma tempestade.

E então acordei.

Sentei na cama. Eu estava no meu quarto. Catarina estava de pé, junto a cômoda passando creme hidrante nos braços. Ela franziu a testa para mim.

- Tudo bem ? - indagou ela.

Sacudi a cabeça.

- Sim, um sonho, acho - meus ouvidos zuniam.

Ela se aproximou e sentou-se na cama.

- Quer me contar o que sonhou ?

- Foi com Ale. Nunca sonhei com ele. Foi bem confuso para falar a verdade.

Olhei ao redor do quarto mais uma vez. Eu estava atordoado, não pelo sonho em si, mas por ter sido com Alessandro. Eu nunca havia sonhado com ele antes. E isso me deixou inquieto.

Lá fora a noite ainda prevalecia e o quarto era iluminado apenas pelas lâmpadas do abajur.

Catarina continuou me observando.

- Que horas são ? - perguntei.

- Hum... - ela olhou por cima do meu ombro para o relógio de cabeceira. - Meia noite.

Agora eu já te conheçoOnde histórias criam vida. Descubra agora